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“Eu e minha irmã de 3 anos fomos abusadas muitas vezes pelo nosso tio”

A leitora Antonia* teve uma infância muito complicada após a morte da mãe e nunca pôde contar com o apoio de nenhum adulto

Por Da Redação
19 ago 2020, 09h00
 (Palmiro Domingues/Getty Images)
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“Minha infância foi repleta de medo, foi um período vazio, que me deixou uma cicatriz pra vida inteira. Nunca me senti compreendida. Minha mãe morreu quando eu tinha 5 anos. Eu tenho duas irmãs mais novas; na época, uma tinha 3 anos e a outra, meses. Logo que minha mãe faleceu, vivemos um período muito confuso. Meu pai não sabia se conseguiria criar a gente ou se nos entregava para nossos tios.

Ficamos alguns meses na casa da irmã do meu pai, que nos levava sempre à igreja. Eu odiava ir à igreja, porque lá as pessoas diziam ser cristãs mas nos olhavam feio, diziam que só íamos para comer. Ninguém nem nos cumprimentava ou falava com a gente.  Eu queria apenas alguém para conversar, queria me sentir amada. Meu pai e meus tios estavam sempre muito ocupados. Minha tia só podia manter uma de nós porque não tinha dinheiro, então escolheu a mais nova.

Meu pai não tinha onde morar, então enviou eu e minha outra irmã para a casa do irmão dele. Foi um inferno. Ele e a esposa nos davam comida, banho, mas nos maltratavam muito. Eu chorava todas as noites, pedia para morrer. Não aguentava mais ficar longe da minha mãe, sentia falta dela e do carinho que ela nos dava. Eu me lembro de cada detalhe daquela época. Nossos tios nos batiam quando não íamos escovar os dentes na hora que eles mandavam. Eu chorava quando via minha irmã de apenas 3 anos apanhando. Ela era um bebê, não tinha culpa. Estava aprendendo a falar. Até hoje sinto dor no coração e angústia de lembrar o que vivemos. Não desejo isso a ninguém.

Meu tio me convidava para ir ao segundo andar tocar piano. Ele me colocava no colo e eu sentia algo estranho sob a calça dele. Não sabia se eu saía correndo ou ficava ali paralisada. Depois de um tempo, comecei a recusar. Ele chamava minha irmã e eu não deixava. Ele gritava comigo por estar me metendo. Ele me tocou e tocou minha irmã várias vezes. Isso me deixou muito traumatizada. Naquela época, só víamos meu pai uma vez por semana. Eu não via a hora de ir embora daquela casa. Minha prima era o xodó dos meus tios. Ela tinha todos os brinquedos imagináveis e eu e minha irmã não podíamos encostar em nenhum. Não me lembro quanto tempo durou isso, mas depois fomos morar com meu pai, que seguia trabalhando muito pra sustentar a gente.

Nunca tivemos afeto ou carinho. Meu pai era meio bruto, não sabia conversar com a gente. Gritava muito, fazia a gente passar vergonha. Eu sofri bastante na escola e quando pedia ajuda para ele, ele tirava sarro das minhas roupas e da minha forma de agir. Depois, ele ia na escola e fazia um barraco, o que só gerava mais bullying. Minha autoestima era péssima. Mudávamos todo ano. Comíamos pão com mortadela. Quando eu tinha 8 anos, moramos numa garagem de carro que tinha um banheiro. O vizinho assediava eu e minha irmã, mas nunca tive coragem de contar para o meu pai, que passava o dia todo fora.

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Eu e minhas irmãs não nos damos bem hoje em dia. Fomos criados por uma pessoa narcisista, que nos manipulava, mostrava preferência por uma, depois por outra. Gostaria de voltar aqui daqui alguns anos e dizer que venci tudo isso e que minha vida está melhor, mas sinceramente não sei se será possível. Meu passado me afeta muito. Meus relacionamentos acabam porque exijo muita atenção da pessoa. Tenho 22 anos e uma filha de 1 ano. Só me preocupo com a saúde mental dela. E espero conseguir a minha. Hoje, moro com meu pai que, assim como eu, está desempregado. Eu continuo tentando ajudá-lo, sinto uma dívida com ele não sei por que. Só sei que não quero isso para minha filha.”

A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.

*Nome trocado para preservar a identidade da entrevistada.

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