“Dói ver meu abusador andando na rua como se não tivesse feito nada”
A leitora Giovana* foi abusada pelo primo do padrasto e só falou disso mais de 20 anos depois. Nada aconteceu com o abusador
“Minha mãe se casou com um homem quando eu tinha 7 anos. Ele tinha um primo que ganhou a confiança de todos. Ele sempre me dava doces, bolos, pães. É uma atitude muito comum entre abusadores. Dos 10 aos 12 anos esse homem abusou de mim. Todas as vezes, quando ele acabava, me ameaçava. Criança tem medo, não entende o que está acontecendo. Então eu não falava nada a ninguém.
Hoje, tenho 34 anos e três filhos. Há alguns meses contei para meu marido e para uma prima. Tento levar a minha vida de forma normal, mas às vezes, acordo no meio da noite após pesadelos. Eu sinto ele tocando meu corpo, como se tudo estivesse acontecendo novamente.
Quando vejo a história de outras crianças que passaram ou passam por isso, eu sofro muito. É como se vivesse a minha dor de novo. O pior é que o meu abusador segue solto, na rua, vivendo como se não tivesse feito. Isso é muito duro para mim, vê-lo por aí sem ter lidado com nenhuma consequência do que fez. Eu acho que o crime já prescreveu no meu caso, mas torço muito para que outros abusadores sejam levados à Justiça e recebam uma pena dura.
Para as mães e pais eu digo: tomem conta de seus filhos, conversem com eles, ouçam as crianças. Às vezes, eles têm medo de contar algo, mas precisamos deixá-los confiantes para isso. Não julguem as crianças, elas são vítimas e não as culpadas.”
A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.
*Nome trocado a pedido da personagem