Rodrigo Lombardi: “Tenho baixa autoestima, mas aprendi a lidar com esse diabinho”
O galã arranca suspiros por onde passa, mas diz ter a autoestima lá embaixo - a vantagem dessa insatisfação constante é que ele não cansa de se aprimorar. Doido pelo filho e fã de videogames, o ator volta à TV e promete mexer com a nossa imaginação
Dono de um sorriso largo e vozeirão grave, é praticamente impossível Rodrigo Lombardi passar despercebido. Até durante o encontro com CLAUDIA, no lobby de um hotel em São Paulo, foi abordado. Um engravatado lhe pediu para tirar uma foto “para a minha irmã”. Apesar da comoção, o ator não se deixa envaidecer. Vê-se que não compra os elogios que recebe, apesar de responder com charme. Aos 38 anos, ele estreia neste mês sua nona novela: Verdades Secretas, nova trama das 23 horas. Mesmo com tanta experiência (já soma mais de 25 papéis, entre televisão, teatro e cinema), Lombardi não se considera um ator completo. Admite brigar diariamente com uma voz interna que o acusa de não ser bom no que faz. “Tenho baixa autoestima, mas aprendi a lidar com esse diabinho. Acho que faz parte do jogo essa insatisfação constante”, afirma. A melhor solução para quando a insegurança está incomodando? Lembrar-se dos tempos de teatro de comédia, no início da carreira. “O palhaço trabalha sua autoconfiança o tempo todo. Não para melhorá-la, mas para mantê-la, porque todo mundo quer ver um tombo dele. Tento seguir esse pensamento até hoje, tanto profissional quanto pessoalmente.”
Na vida pessoal, Lombardi se considera um nerd. Adora o filme Goonies (ficção adolescente da década de 1980), que assiste sempre que é reprisado na televisão, e está eufórico com o lançamento de mais um episódio da saga Star Wars, previsto para dezembro – não só acompanhou os outros filmes da série como coleciona os bonequinhos dos personagens. Outro hobby é o videogame. “Quando jogo, fico isolado em uma bolha”, confessa, lembrando das reclamações da mulher, a designer de interiores Betty Baumgarten.
Casados há dez anos, eles se conheceram no Projac quando ela era maquiadora da novela Uga Uga (2000). “Em uma relação, os problemas são inevitáveis, mas é como equilibrar pratos: você não pode deixá-los cair e quebrar. É preciso dar tempo e aceitar as vontades do outro”, pondera. Durante as temporadas em que ficam separados por causa do trabalho dele, os dois se falam por telefone e trocam mensagens. Como já atuou na área, Betty é compreensiva. “Claro que sentimos saudades, mas confiamos um no outro. Nesses períodos, fico em função da produção. No máximo, quando tenho tempo, vou ao teatro. Depois, só quero descansar.”
Embora o casal já tenha descoberto a própria receita para lidar com a distância, Rodrigo ainda sofre ao ficar longe do filho, Rafael, 7 anos. Basta receber uma foto do pequeno para sentir os olhos enchendo de lágrimas. “Passo duas semanas fora de casa e ele já cresceu”, derrete-se. O que acalenta é saber que o menino leva a situação com mais naturalidade. “Conversamos por telefone, ele conta as novidades e volta a brincar. Não tem o sofrimento do adulto.” Quando está de volta à casa da família, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, o ator faz questão de dedicar todo o tempo que pode ao pequeno.
Agora, sua missão é inspirar no garoto o gosto pela leitura. A empreitada começou com um conselho do amigo, e também ator, Vladimir Brichta. ” ‘O exemplo não é a melhor forma de educar, é a única’, me disse o Vladimir. E ele tem razão.” Por isso, além de contar histórias na hora de dormir, Lombardi se acostumou a ler lado a lado com o filho, cada um o próprio livro. Outro programa frequente da dupla é assistir a animações. Como Treinar o Seu Dragão é a favorita dos dois, que se apelidaram com os nomes dos personagens. “Até hoje, ele é o Soluço, e eu sou o Banguela (o menino viking e seu dragão de estimação, respectivamente)”, lembra. A relação com o filme ficou tão forte que o pai fez questão de dublar o vilão da sequência, que estreou no ano passado – seu sexto trabalho em dublagens, outra paixão.
Para Rodrigo, esses mínimos prazeres do dia a dia em família são suficientes para ser feliz. “Minha vida é nota 5. E isso é bom. Assim, posso criar experiências nota 10. Se tudo for 10, você enjoa logo.” Amante de golfe, foi com o esporte que aprendeu outra regra que segue à risca: jamais dar uma tacada pensando na próxima nem se arrependendo da última. É com esse foco e tranquilidade que leva a carreira. Tem muitos sonhos, mas aprendeu que a ansiedade não ajuda. “Estou mais maduro. Tenho noção do que posso e do que não dou conta de fazer. Em Meu Pedacinho de Chão (novela que foi ao ar em 2014), levei um tempo para acertar o personagem, mas sabia que, com dedicação, chegaria lá.” Mesmo assim, evita assistir a si mesmo na tela. “Nunca acho que está bom. Sou desses que acreditam que a gente não termina a cena, abandona-a.” Mas essa insatisfação não se reflete em medo de ver a carreira chegar ao fim, avisa. “Fico enquanto for inspirador. Trabalharia em outra coisa sem amargura”, diz ele, que, antes de entrar na dramaturgia, foi jogador de vôlei (chegou às categorias de base), garçom e agente de viagens. No momento, pensa em experimentar a função de diretor e está começando a criar dois projetos de animação.
Enquanto esses projetos paralelos caminham lentamente, se prepara para dar vida a Alexandre, um homem obscuro, separado da mulher, que tem um relacionamento conturbado com os filhos. Para complicar, vai se envolver com uma jovem e depois com a mãe dela. “Sou ator porque quero fazer as pessoas se mexerem na cadeira. Quero que elas pensem, levem a discussão até para o trabalho”, defende.
Com a participação de modelos (como Alessandra Ambrosio e Yasmin Brunet), Verdades Secretas abordará o universo fashion, meio que é familiar ao ator. “Meu pai era representante de moda masculina (camisaria e malharia) para grandes lojas em São Paulo. Então, desde cedo aprendi o que é um bom corte, um bom tecido e a montar o meu look”, conta. Além da trama cheia de percalços, a novela está deixando Lombardi empolgado por ser uma história curta e com final já definido – diferente das novelas longas, que seguem ao sabor da audiência -, o que permite ao elenco se dedicar mais aos personagens. “O melhor em uma novela é fazer o workshop de caracterização; no teatro, ensaiar. Na vida? Descobrir coisas novas”, define ele, que se sente desafiado pela novidade. “As pessoas têm medo de mudar. Graças a Deus, estou em uma profissão em que preciso mudar o tempo todo.” Para ele, essa curiosidade leva à evolução. “Não tenho vergonha de errar, de admitir que não sei algo, de pedir ajuda e de crescer com cada situação.” E, assim, entregar um Rodrigo cada vez melhor.