Renata Vasconcellos: “Sempre aprendo uma lição nas reportagens”
Pouca gente diria, mas a jornalista Renata Vasconcellos, dois anos à frente do Jornal Nacional, é tímida e apaixonada pelo contato com a natureza
Renata Vasconcellos, 44 anos, estava muito à vontade entre as linhas da icônica Casa Rosa da Gávea e a imponência do jardim concebido pelo paisagista Burle Marx. O palacete de 1938, que abrigou a edição carioca da Casa Cor deste ano, serviu de elegante cenário para as fotos de CLAUDIA. Rigorosa com os compromissos assumidos, a jornalista chegou 20 minutos antes da hora marcada. Usava camisa social branca, calça de alfaiataria preta e sapatos de salto médio do italiano Salvatore Ferragamo. Durante a sessão, mostrou que não só sua voz é firme. Deixou claro, o tempo todo, seu objetivo: faria a melhor foto possível. Escolheu o que vestir e sugeriu os detalhes da maquiagem – inclusive como o traço do delineador deveria terminar, no canto externo do olho. Tudo pronto, tirou da bolsa o nécessaire para os últimos retoques com os próprios produtos. Depois da escova rápida, enrolou os cabelos fartos com os dedos. “Nunca fiz nada neles; são virgens. Tenho alguns brancos, mas, por enquanto, estão harmônicos. Sou adepta da filosofia do quanto mais natural, melhor”, contou.
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A jornalista completou, no mês passado, dois anos à frente do Jornal Nacional. A parceria com William Bonner tem dado certo. Em 2016, a audiência do principal jornal da Globo cresceu três pontos e, hoje, a média fica em torno de 27. Isso significa que, todos os dias, quase 6 milhões de espectadores assistem ao programa. Responsabilidade enorme para qualquer um, mas desafio ainda maior para quem, como ela, é dona de desconcertante timidez. Por isso, claro, a carreira televisiva não era um plano antigo. Surgiu depois que acatou a sugestão da mãe e tentou o vestibular de comunicação social. Se não se empolgasse com a vida de repórter, quem sabe venceria a dificuldade de se colocar, demonstrar desejos, opinar. Filha de um engenheiro civil e de uma advogada, foi criada no Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro. Sua irmã gêmea, Lanza Mazza, diretora criativa da grife Cantão, lembra que Renata tirava as melhores notas em redação, porém ficava encabulada só de levantar a mão para falar com os professores. “Eu tentava disfarçar. As bochechas, no entanto, ficavam vermelhas e quentes. Aí é que todo mundo percebia minha vergonha”, revela a jornalista. Só não passou mais aperto porque contava sempre com a companhia de Lanza. Uma única vez, lançou mão do artifício de fazer a irmã se passar por ela. “Queria terminar um namoro, mas estava completamente sem jeito. Como a Lanza tem a voz igual à minha, pedi para ela fazer o serviço pelo telefone”, revela Renata. A mãe fazia questão de preservar a identidade das filhas e não as vestia com as mesmas roupas na infância. Depois de adultas, porém, é comum vê-las com figurino semelhante ou até igual. “Temos o mesmo gosto. Às vezes, sem uma falar com a outra, compramos peças idênticas”, conta Lanza. “Um dia, fui buscá-la para almoçar e Renata apareceu vestida como eu. Pedi para subir e trocar o modelito.”
Tata, como é chamada pela família, estava no último período de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio quando viu no mural o aviso sobre o processo de trainee da Globo. Arriscou-se e foi aprovada para a equipe da GloboNews. A diretora Alice-Maria Reineger imediatamente a escalou para apresentar o boletim Em Cima da Hora, mais tarde substituído pelo Jornal da GloboNews. “Fiquei surpresa. Não imaginava que seria apresentadora. Na minha cabeça, entraria como produtora; meu negócio era ficar atrás das câmeras”, afirma. Ao ver a jornalista na tela pela primeira vez, sua mãe ficou emocionadíssima: “Não respirei o programa inteiro. Tive medo de ela travar, sei lá. No fim, caí no choro. Ali, Renata se superou”.
A grande chance para ir para a TV aberta surgiu em 2002, ao ser chamada para substituir Leilane Neubarth na bancada do Bom Dia Brasil, ao lado de Renato Machado. Em 2011, com a transferência de Machado para o escritório de Londres, passou a dividir a apresentação com Chico Pinheiro. “Ela é muito profissional. Estava sempre lendo os jornais ou pesquisando na internet sobre os assuntos que iríamos abordar”, elogia o colega. O jeito brincalhão de Chico já deixou a apresentadora sem graça no ar. O parceiro de bancada comentou sobre o aniversário da mãe dela, comemorado numa sexta-feira 13. “Um repórter havia perguntado para nós dois se acreditávamos no azar da data. Renata falou que não. Eu também respondi negativamente, mas acrescentei que tinha sido num dia como aquele que a dona Fernanda tinha nascido. Renata ficou branca na hora. Terminado o jornal, ela disse que tinha adorado a brincadeira”, recorda ele.
“Sempre aprendo alguma lição nas reportagens. Fico impressionada com a força das pessoas em continuar tocando a vida nas adversidades e com a solidariedade do povo quando alguma tragédia acontece.”
Renata Vasconcellos, jornalista
Renata chegou ao Fantástico em outubro de 2013. Encarou os primeiros momentos um pouco dura e engessada: tinha que andar pelo cenário e interagir com Tadeu Schmidt, que é um impagável piadista. “Com certeza, ali ela fez as apresentações mais diferentes da carreira. Entrou no espírito do programa e mostrou um lado mais leve, que as pessoas não conheciam”, diz Schmidt. Nos bastidores, lembra ele, riam e brincavam muito. “Além disso, a voz dela é ótima; a narração, perfeita. É, enfim, uma mulher lindíssima.” A parceria durou pouco mais de um ano, e Renata estreou no JN. William Bonner segue na linha do colega: “Renata se integrou à equipe instantaneamente. E nos premia com inteligência, humor e talento todos os dias”. Tanto ele como a parceira se preparam para as mudanças de 2017, com o Jornal Nacional ganhando novos estúdios e uma linguagem mais dinâmica. Renata é conhecida pela objetividade, praticidade e racionalidade. “Sou muito sensível e, às vezes, tenho que me segurar para não deixar transparecer a emoção”, revela. “Sempre aprendo alguma lição nas reportagens. Fico impressionada com a força das pessoas em continuar tocando a vida nas adversidades e com a solidariedade do povo quando alguma tragédia acontece.”
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Seus hábitos são discretos, sua vida é calma. No fim de semana vai ao cinema e janta com o marido, o diretor de jornalismo da Globo Miguel Athayde, com quem está casada há dois anos. Ou fica em casa, em torno do enteado, Rafael, 12 anos, e dos filhos Miguel, 15 anos, e Antônio, 17, frutos da sua união de 13 anos com o empresário Haroldo Mac Dowell, de quem se separou em 2007. O paraíso particular de Renata fica no sítio da família na região serrana do Rio. “Chego, visto o avental, o cinto com as ferramentas e vou cuidar da horta e do jardim. O contato com a natureza me revigora.” Ali mantém canteiros com temperos, cerejeira do Japão, jabuticabeira, ipês roxo e amarelo, lavanda e roseiras.
Organizar o apartamento, no Rio, é uma terapia. De folga, arruma gavetas e armários. “Adoro o cheirinho de roupa lavada e passada e faço faxina se a empregada não vem.” Os panos de prato da cozinha têm um toque exclusivo: é Renata quem borda com retalhos que traz de viagens. “Ela é muito caprichosa. Até para servir um simples café vai escolher uma bandeja bonita, um pano de linho bordado e uma xícara decorada”, afirma a mãe. Nada disso é esforço para a jornalista. Ela sente prazer em receber. “A visita pode aparecer a qualquer hora e sem avisar que, na minha casa, tem sempre um bolinho e um café prontos”, conta.
Com quatro homens no território, o desafio é manter a ordem. “Queria que eles tivessem mais cuidado, mas respeito o espaço de cada um”, diz Renata. “Meu filho mais velho vive pedindo para eu relaxar. Ele tem razão, nada justifica o stress. A casa não pode ser totalmente certinha. Ou vai parecer catálogo de mostra de decoração, né?”
“Vida de jornalista é muito rica. Por isso, não faço planos para o futuro. Vivo o presente. Todo dia temos a oportunidade de começar tudo de novo e de fazer diferente e melhor.”
Renata Vasconcellos, jornalista
Em casa ou no sítio, encontra-se uma Renata de visual totalmente diferente da sua conhecida imagem no vídeo. Rosto lavado, cabelos presos num coque, jeans e sapatos baixos formam o seu “traje civil”. Acha que beleza passa pelo conforto, por se sentir bem. “Quando ficamos mais velhas, estar à vontade é fundamental”, explica. “Não existe nada mais estranho do que ver uma mulher incomodada com o salto muito alto ou o vestido extremamente justo.” A apresentadora cuida da pele sem grandes neuroses e afirma que nunca recorreu a nenhum procedimento estético mais invasivo. “Só vou ao dermatologista para tirar as manchinhas do rosto com laser. Nunca fiz Botox. As marcas de expressão fazem parte da personalidade”, explica. “Encaro o envelhecimento como algo natural. Sei que minha pele não tem o viço da juventude; meu olho também mudou. Mas não sinto necessidade de mexer em nada, embora não seja contra cirurgias.”
Tem como rotina a alimentação balanceada para manter o corpo firme e a mente sã. Porém, não é uma tirana quanto a restrições. “Não faço dietas; como de tudo. Comigo não tem essa de gluten free, carbo free. Meu lema é – e sempre será – o equilíbrio. Eu me alimento do que me dá prazer e, em geral, isso atende às necessidades do meu corpo”, explica. Para permanecer com 60 quilos, distribuídos por 1,71 metro de altura, vai à academia pelo menos duas vezes por semana, onde faz aulas de alongamento ou corre na esteira. “Vida de jornalista é muito rica. Por isso, não faço planos para o futuro. Vivo o presente. Todo dia temos a oportunidade de começar tudo de novo e de fazer diferente e melhor.”