Rafa Brites fala sobre a dor e a delícia de ser mãe
Em um papo sem filtros, a apresentadora entregou seus maiores medos e prazeres durante essa fase da vida
Rafa Brites fala o que pensa e, se for preciso, ela repensa. Se algo a incomodou no passado, ela traz de volta com uma nova reflexão. Isso, no mundo atual, onde mulheres ainda são colocadas no modo silencioso, é de muitíssima importância. A “mãe, escritora, apresentadora, palestrante, investidora empreendedora, gata e pagodeira”, em suas próprias palavras, mostra sua vida nas redes sociais e tenta, ao máximo, ser transparente com suas experiências.
Rafa Brites é casada com o jornalista Felipe Andreoli e tem dois filhos, Rocco e Leon. E, sim, ela tem um equilíbrio entra carreira e família, e assume que toda super mulher, tem um super time de apoio. E se hoje ela consegue um balanço dentro do que faz, é porque tem outras pessoas ao seu lado dividindo responsabilidades.
No Dia das Mães, Rafa estampa a coleção da Loungerie em uma campanha de “Mães sem Filtro”. Seguindo essa linha, entrevistamos a apresentadora, que falou sobre o universo da maternidade e uma forma bem honesta e direta ao ponto. Confira abaixo:
CLAUDIA: O que é ser mãe para você?
Rafa Brites: Para mim ser mãe é a maior insanidade que eu já cometi na minha vida.
CLAUDIA: O que você pensa sobre a romantização da maternidade?
Rafa: Em 2017, nas redes sociais, as pessoas ainda não mostravam muitas coisas da vida real. Eu sempre brinco que as redes sociais são uma coisa editada dos nossos melhores momentos. Quando chegou a minha vez e meu peito sangrava, o bebê chorava, eu chorava e eu não via aquilo nas revistas, eu me sentia muito frustrada. Hoje eu tenho orgulho porque fui uma das precursoras, que mostrava minhas dificuldades, sendo uma pessoa que trabalhava na TV. Eu não estou bem, eu não estou na capa de uma revista apresentando um herdeiro, eu estou mal, com meu peito machucado. Mesmo sabendo do meu recorte e dos meus privilégios, esse era o lugar que eu poderia falar das minhas experiências. A romantização, às vezes, é até necessária, porque a gente foi para um outro ponto, onde a gente só acha entrevista e relatos horríveis. A gente estava com tanta necessidade de falar nos nossos problemas que esquecemos de falar da beleza e do lado bom da maternidade. Vamos trazer as realidades, mas nunca vamos esquecer da delícia de ser mãe, para podermos também expor isso de uma maneira que demonstra o tanto que a gente cresce e gosta de maternar.
CLAUDIA: Com a maternidade, como ficou sua relação com a autoestima?
Rafa: Autoestima abrange várias coisas, mas eu vou considerar a física, o amor próprio em relação à aparência. Na minha primeira gestação eu ainda não tinha bem resolvido o papel da maternidade dentro da vida de uma mulher, eu engravidei sem planejar. Eu sentia que a maternidade era algo que me afastava do prosperar profissionalmente, me sentir bonita. Com a chegada do Rocco, eu fui entendendo as mudanças da gravidez no meu corpo, principalmente as emocionais. Eu passei a me amar e admirar muito mais. Eu passei a ser muito mais gentil com o meu corpo e minhas marcas. Na minha segunda gestação, eu já estava esperando esse crescimento de autoestima, e se viesse na mesma proporção do primeiro, eu estaria feita. E, de fato, veio. Hoje eu não acho que a maternidade afasta a mulher de tudo que é belo e sexy e desejável. Muito pelo contrário, eu acho que aproxima. Essa construção da mãe bucólica, da mãe totalmente afastada do seu prazer e hedonismo, é uma construção mesmo porque na realidade é bem pelo contrário.
CLAUDIA: Como era sua relação com a sua mãe?
Rafa: A relação com a minha mãe é de muito afeto e confiança. Eu venho de uma família que não é tanto do toque. São conversas que temos hoje, não é da nossa característica, mas somos uma família da presença. Eu sou a terceira filha, de 3 irmãs, eu sou a caçula e a minha mãe sempre fez questão de trazer diálogos na família. Desde que eu tinha 10 anos, a gente senta todo ano em um projeto dos meus pais que chama Transformando Sonhos em Realidade, que depois eu acabei desenvolvendo como um trabalho meu. Desde muito cedo, conseguimos expor para nossa família quais eram nossos sonhos e como os transformaríamos em realidade. Para pais é muito difícil ouvir o sonho do outro, porque a gente projeta. Vivemos diariamente lutos pelos nossos filhos não corresponderem exatamente ao que a gente sonhou. É muito mais bonito quando a gente cria menos expectativas, sonha junto e ajuda a realizar. Mas é o seu sonho e não o dos outros.
CLAUDIA: O que você aprendeu ou “melhorou” da relação com a sua própria mãe quando teve Rocco?
Rafa: Quando temos os nossos filhos, independente de gerados ou adotados, entendemos muito melhor as nossas mães. Hoje em dia eu entendo a minha mãe e tenho uma solidariedade muito maior por ela. Pela dinâmica da minha família, mesmo minha mãe tendo se formado em letras e direito, ela abdicou da profissão pela maior parte da vida para cuidar das filhas. Eu cresci com uma visão distorcida de que meu pai era a pessoa que mais trabalhava na família, ele viajava, passava uma semana fora e eu tinha essa admiração profissional por ele. Depois que me tornei mãe, eu vejo que um dia em casa me exaure muito mais do que um dia fora de casa trabalhando. Eu passei a valorizar demais a dedicação da minha mãe em estar presente na vida daquelas 3 filhas. Esse trabalho silencioso, não remunerado e não reconhecido é de extrema importância e de muito valor.
CLAUDIA: E quanto ao Leon? O que foi diferente na segunda gestação?
Rada: A segunda gestação vem com menos inseguranças e mais autoestima, no sentido da nossa potência e habilidade de ser mãe. Como você já conseguiu que um filho estivesse ali, sobrevivesse e fosse bem criado, o segundo vem de uma maneira muito mais leve. Outra diferença é que na primeira gestação eu tinha muita pressa, em sair do lugar de mãe e me posicionar novamente dentro da minha posição. Quando a gente é mãe tem que optar, ou a carreira ou a maternidade. Infelizmente, porque a gente pode ser mãe e profissional. Então, com o Leon, eu consegui equilibrar isso melhor e não ter essa ansiedade e nem o medo de perder o meu espaço de trabalho. Na primeira gestação eu estava na Globo e sabia que a cada mês longe do trabalho, na minha licença-maternidade, eram oportunidades de trabalho que eu estava perdendo – e eu percebi isso, literalmente, quando eu voltei, foram chances que perdi e nunca mais consegui recuperar. Diferente dessa vez, que eu trabalho no digital, e hoje faz parte do meu trabalho dividir essas experiências. Foi uma gestação mais que bem-vinda e comemorada, senti que eu só agreguei dentro da minha jornada profissional tendo mais um filho.
CLAUDIA: E como você enxerga esse papel de mãe na sociedade patriarcal em que vivemos, consegue ver avanços?
Rafa: Eu sempre digo que a partir do momento que você vira mãe, recebe aquele símbolo da matemática de ‘não pertence’ e os dados mostram que você sendo mulher já tem esse déficit no mercado de trabalho. Depois de ser mãe, metade das mulheres ainda são demitidas nos primeiros dois anos. Você não pertence ao trabalho, ao prazer, você é podada de muitas coisas. Eu sinto que esse avanço existe, mas ele existe no lugar certo. Temos mais consciência da nossa importância e dos lugares que precisamos ocupar, mas para se sentir pertencente não adianta fortalecer a mulher só como indivíduo, dentro de suas comunidades, e sim nos espaços para receberem essas mulheres, famílias. Hoje em dia eu falo mais dos espaços estarem preparados e não da gente ter que se adequar a eles.