Pontualmente às 10 horas, nem um minuto a mais ou a menos do horário marcado, Cláudia Abreu chega ao estúdio para nossa sessão de fotos. Tanta precisão até parece ficção. E ela chega disposta, no maior pique. O vestido azul justo já mostra quanto ela está em forma. Sapatilhas rasteiras, cabelos ainda úmidos, cara lavada e sorriso nos lábios completam o visual para lá de despojado da carioca de 43 anos que, com certeza, seria escalada se tivéssemos de montar uma seleção brasileira de atrizes.
Craque, tudo que ela encarna vira sucesso. Em menos de um mês no ar como a gringa milionária Pamela Parker, de Geração Brasil, novela das 7 da Rede Globo, ela ganhou disparado uma enquete feita pela colunista de televisão do jornal O Globo, Patrícia Kogut, que quis saber qual personagem da trama havia conquistado o público logo de cara. A ricaça de Cláudia levou 52% dos votos. O segundo colocado foi Jonas, seu marido na história, vivido por Murilo Benício, que ficou com 19%. E Cláudia já provou que, quando entra em campo, tem habilidade para jogar nas 11 posições.
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Na TV, viveu da guerrilheira Heloísa, na série Anos Rebeldes, à diva do brega Chayenne, na novela das 7 Cheias de Charme, ou à inesquecível e sensual vilã Laura, em Celebridade. Nos palcos, ainda entrou na pele do fantasminha Pluft, atuação pela qual acaba de ganhar o Prêmio Zilka Sallaberry de Teatro Infantil. No estúdio, toda produzida, ela desempenha bem o papel durante a sessão de fotos. Mas não fica fazendo tipo. Em vez disso, dança, brinca e se diverte em frente à câmera, no melhor estilo moleca. “Só sei viver com alegria. A tristeza existe, mas a gente tem que driblar e jogar para a frente”, diz Cláudia em meio aos cliques. Nem Neymar faria melhor.
Pamela Parker, sua atual personagem, já começou fazendo sucesso, com vocação para virar clássico. Você dá sorte com os papéis ou sabe escolher bem?
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Acho que as duas coisas. Eu tento escolher bem, pelo desafio artístico. E poder dar intervalos entre um trabalho e outro facilita essa escolha. Agradeço por ter essa oportunidade. Isso faz com que meus personagens voltem renovados, tenham um frescor. Mas é preciso sorte. Porque, apesar de a minha intuição funcionar, há sempre situações em que parece uma coisa, mas não é. Também ajuda trabalhar em equipes incríveis, como as que costumo ter. Em televisão, cinema ou teatro, ninguém faz nada sozinho.
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E costuma ficar feliz com seu desempenho?
Nem sempre. Ver algumas atuações passadas me causa um certo estranhamento. É inevitável ficar pensando que seria melhor ter feito desse jeito ou daquele. Prefiro não ver. O trabalho do momento sempre acompanho, para corrigir uma coisa aqui, outra ali, melhorar. Mas é um rigor acompanhado de muito prazer, não é uma autocrítica chata. Eu me divirto trabalhando. Aliás, isso de não se levar tão a sério é uma coisa boa do amadurecimento.
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Como é, para você, ser uma mulher na meia-idade?
Sinceramente, acho que a gente ganha mais do que perde. Claro que não tenho mais a energia, a disposição dos 20. Quando vou a uma festa e volto tarde, fico quebrada. Mas, por outro lado, me sinto mais bonita, mais segura, menos ansiosa do que na juventude. Eu procuro manter a vibração, a alegria, a brincadeira, adoro dançar com os amigos. Sou festeira, os anos não me tiraram isso. E ainda me deu outras coisas. A maturidade me fez gastar menos tempo com as dificuldades, relevar muitas coisas que antes me chateavam. Tanto no trabalho quanto na vida pessoal, já me conheço, sei fugir daquilo que pode me levar a aborrecimentos. Eu antecipo o que pode ir mal. Aos 40, a gente já aprendeu tanta coisa! As pessoas precisam usar a experiência que a maturidade traz a seu favor. No mais, tenho achado um charme as minhas marcas do tempo.
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Cláudia Abreu, atriz de Geração Brasil
Foto: George Magaraia
Pela sua boa forma, é óbvio que você cuida bem do seu corpo. O que faz?
Sim, sem neurose. Mas tenho minha rotina de cuidados. Acordo e já tomo água com limão em jejum para desintoxicar. Se vou gravar e estou com os olhos inchados, coloco compressa de água termal gelada. Faço massagens semanais – shiatsu e reflexologia – para me equilibrar. Também vou à academia sempre que posso. Tenho a mesma professora há mais de dez anos. Faço balance, mistura de alongamento com ginástica. Em 2013, comecei aulas de tênis. Sempre quis jogar com meu marido (o cineasta José Henrique Fonseca) e amigos, porque a gente tem uma quadra na nossa casa na serra (fluminense). Já estou batendo uma bolinha razoável e é bom que o exercício divirta.
Come de tudo?
Nem tudo. Há mais de 20 anos não como carne vermelha. No dia a dia, também evito algumas combinações, como carne com macarrão ou arroz com batata. Se quero perder um pouco de peso, tomo só sopa à noite. Mas, em fins de semana e em ocasiões especiais, como de tudo.
Pamela Parker é casada com um magnata da área de informática. Você é ligada em internet e redes sociais?
Não tenho nenhuma conta em redes sociais, detesto. Aliás, há páginas falsas usando meu nome, não sigam! Não sou ligada em smartphones também. No máximo, tenho grupos fechados que trocam mensagens. Prefiro sair com minha família, ler, receber os amigos, estudar.
Você se formou em filosofia. Pretende estudar mais?
Quando tiver oportunidade, vou fazer pós-graduação em filosofia e arte ou em psicologia, porque pensar o ser humano é bacana até para meu trabalho. Mas, com tantas crianças, por enquanto não dá! Tive um intervalo de quase sete anos entre minha primeira filha e a segunda. Acho que Deus estava testando se eu dava mesmo para a coisa e passei na prova, porque depois vieram três seguidos (risos). Então, aproveitei esse tempo para fazer faculdade. A busca do conhecimento é importante para mim. É gostoso viver muitas histórias ao mesmo tempo, de modo instantâneo. Mas me fazia falta o aprofundamento. Conhecer as várias ideias sobre diversos temas torna minha vida mais rica, me ajuda a me situar no mundo.
Você tem religião?
Não tenho uma religião, mas me interesso por todas. Tenho fé, mas é uma coisa muito subjetiva. Acredito numa forma de Deus que não sei traduzir em palavras. Acho que, de alguma maneira, o que sinto está ligado ao amor. E esse é o valor maior que tento passar para meus filhos. É um sentimento que engloba o respeito por si mesmo e pelos outros, a generosidade e o altruísmo e que considero fundamental num momento em que o mundo está tão estranho. Tenho ficado chocada ao ler os jornais e ver notícias de violência, linchamento, intolerância. Quando há crianças envolvidas, então, não consigo nem ler. É o caso do assassinato daquele menino do Sul, Bernardo (Boldrini, 11 anos). Depois que nos tornamos mães, a dor de saber dessas coisas é maior. Sinto pavor.
Qual seu sentimento e opinião sobre a política no Brasil?
Ando bastante desiludida e cansada dos rumos da política. Depois do escândalo do Mensalão, confesso que ficou difícil ter esperança. É das poucas coisas que não olho com otimismo na vida. Achei que as manifestações do ano passado fossem o começo de alguma mudança, mas a situação tomou um caminho diferente, de muita violência e confusão, e o movimento esfriou. Uma pena.
Cláudia Abreu no papel da gigna milionária Pamela Parker
Foto: Geração Brasil/Divulgação
As 5 regras de ouro da atriz para uma vida boa
1. Cultivar a alegria e o otimismo
Na filosofia da atriz, a vida só vale se for divertida. Tudo bem que, diante de problemas, é normal a tristeza vir, mas Cláudia defende que um olhar positivo ajuda a passar a dor logo. É preciso saber rir, festejar, dançar, não se levar tanto a sério. “Com quatro filhos, nem todos planejados, poderia fazer drama, lamentar o tempo que não posso ter só para mim. Prefiro pensar na sorte de estar com esses meninos.”
2. Ter cumplicidade consigo mesma
Segundo ela, não tem corre-corre que justifique não fazer as coisas que nos relaxam e dão prazer. No caso de Cláudia, a massagem, a sauna, a preguiça na rede do sítio… “Essas são as minhas coisinhas, meu conforto, minha identificação.” E tudo bem se só sobrarem 15 minutos livres no dia para seus deleites. Invista-os bem.
3. Nunca dar o jogo como ganho no casamento
“A gente jamais deve se acomodar, achar que o outro é um sapato velho e confortável. É preciso surpreender, ter o que contar, manter a curiosidade e, claro, rir juntos”, diz a atriz, casada há 17 anos com o cineasta José Henrique Fonseca, o “Zé”.
4. Curtir os filhos
A hora de dormir é sagrada para Cláudia, que faz questão de ler um livro ou conversar com as crianças até que peguem no sono. “É quando estamos juntos de verdade.” Recentemente, a atriz ainda instituiu “o dia do filho único”, quando faz alguma atividade só com um dos quatro da sua prole. “Eles são muitos, e é bom que se sintam únicos de vez em quando.”
5. Comer o que se gosta
A atriz não passa sem chocolate e caldinho de feijão. “Eles me dão um up. O chocolate, então, é meu Lexotan (ansiolítico) e meu energético ao mesmo tempo.”