Depois de um ano difícil, Marina Ruy Barbosa está mais forte do que nunca
Ela se viu no centro de uma fofoca de celebridades, encarou a pressão pelo Ibope e, recentemente, perdeu amigos num acidente trágico
Aos 15 anos, Marina Ruy Barbosa sonhava, entre outras coisas, em ser protagonista de novela, fazer propaganda de xampu, conhecer Paris e… ter uma fonte de chocolate em casa! Sei disso porque a entrevistei pela primeira vez há quase uma década – na época, para CAPRICHO. De lá pra cá, já fizemos algumas capas de revista juntas – este encontro, que você vê nas páginas de CLAUDIA, é o sétimo em nove anos.
Como você, a vi realizar alguns desses sonhos de adolescente. Mas também fui testemunha próxima de alguns momentos importantes para ela, como o primeiro ensaio com fotos mais adultas. Em outra sessão de fotos, um tal piloto de Stock Car foi buscá-la no final do dia de trabalho. Só algumas semanas depois, ela e Alexandre Negrão assumiriam o namoro, que virou casamento em 2017.
Para esta conversa com Marina, resolvi reler todas as entrevistas que já fiz com ela e percebi que a atriz mudou. Mas de um jeito positivo e nada drástico. Tanto no dia das fotos quanto depois, trocando áudios de WhatsApp, notei uma Marina mais reflexiva. A atriz sempre foi considerada madura para a idade. Ela se casou cedo (aos 22 anos), tem amigas mais velhas (como a jornalista Gloria Maria) e trabalha desde os 9. Por causa dos anos de carreira e experiência, brincamos na redação de CLAUDIA que a idade “corrigida” dela deveria ser 34, uma década a mais que os 24 que ostenta na carteira de identidade.
Marina tem resistido um pouco ao rótulo de madura. Aprendeu com a vida que esse estereótipo tem ônus e bônus. “Sei que, por ter começado a trabalhar cedo, passo essa ideia. Mas eu me considero bem na média das mulheres da minha idade. Reconheço que sou muito dedicada e responsável com a carreira. Tenho trabalhado bastante dentro de mim essa tal maturidade, que, na verdade, é uma autocobrança e, às vezes, gera muita ansiedade”, conta a atriz. Ela segue responsável e dedicada, mas, em sua jornada de autoconhecimento, percebeu quanto esse fardo além da conta pode ser prejudicial. “Não é simples assim. Exige um exercício diário de sanidade mental.”
O ano de 2019 não foi fácil para Marina. Em fevereiro, viu seu nome pipocar entre as causas da polêmica separação dos atores Débora Nascimento e José Loreto, seu par romântico em O Sétimo Guardião. A novela, aliás, também foi um marco negativo do ano na TV Globo: a obra de Aguinaldo Silva teve o segundo pior índice de audiência do último capítulo da história da emissora no horário das 9. Marina, uma das protagonistas, também sentiu o peso das críticas, claro.
Para completar, neste ano a carioca perdeu grandes amigos num acidente aéreo em novembro. O ex-piloto de Stock Car Tuka Rocha, a jornalista Marcela Brandão e a irmã dela, Maysa Mussi, morreram na queda de um jato executivo durante o pouso na pista de um resort, na Bahia. Marina e o marido haviam sido padrinhos do casamento de Maysa e Eduardo Mussi em agosto.
“Perdi pessoas muito importantes na minha vida. E é muito difícil lidar com a morte. Quando uma tragédia dessas acontece, a gente vê que tem que viver, né? Não dá para seguir nesta loucura acelerada do mundo de hoje. Temos que prestar atenção de verdade nos nossos amigos. E aproveitar o tempo. A gente nunca sabe o dia de amanhã”, reflete ela.
Depois de tantos encontros com Marina – que, apesar de profissionais, envolvem também bons papos pessoais –, desenvolvi um carinho especial por ela. E, após este ano intenso, queria muito saber como todos esses acontecimentos tinham mexido com ela. Fiquei feliz em ver que, apesar de tudo, Marina chega ao final de 2019 mais forte, porém surpreendentemente mais leve. Talvez toda essa vivência a tenha ajudado a ressignificar o que é relevante.
Após muito tempo emendando um trabalho no outro, a atriz está finalmente fazendo as coisas com mais calma e com menos cobranças. “Aprendi que preciso ter esse tempo para meu corpo, minha mente, minha família e meus amigos. E para as coisas simples da vida, as coisas banais. Estou percebendo que elas são muito importantes. Essa pausa, esse respiro, está sendo essencial para mim”, afirma.
Em ritmo contrário ao de muita gente nesta época do ano, Marina se prepara para entrar em 2020 com o pé fora do acelerador. Como você lê a seguir, em alguns dos trechos do nosso papo, ela desvia os rumores de plano de gravidez e carreira internacional e garante que tudo o que quer é um período de tranquilidade. “Meu pedido número 1 é que 2020 seja um ano de paz.” Estamos juntas nessa, Marina.
Viver para contar
“O ano de 2019 foi duro para muitas pessoas. Eu, com certeza, estou no grupo que, se pudesse, editaria o tempo para que sobrassem apenas alguns momentos mais calmos, sabe? De modo geral, acho que faltou um pouco de amor, de empatia, de união entre as pessoas. Mas também sei que faz parte. Temos que aprender com os períodos difíceis e tirar lições. São esses momentos que nos deixam mais fortes e preparados para o futuro. A meu ver, é como se todo mundo que conseguiu sobreviver a 2019 já estivesse mais forte para 2020.”
Aprendizado
“É até meio clichê, mas aprendi na prática quanto é importante e necessário se colocar no lugar do outro. A empatia evita julgamentos precoces e ajuda na compreensão de problemas que não têm solução. Por mais que a gente saiba disso na teoria, quando vive mesmo uma situação que obriga a ter mais empatia, tudo muda, sabe?”
Maturidade x autoconhecimento
“Eu sei que, pelo fato de ter começado a trabalhar cedo, aos 9 anos, passo essa ideia de que sou mais madura, mas eu me considero bem na média. Reconheço que sou muito dedicada e responsável com a carreira. Fui lapidando essa característica conforme as obrigações apareceram ao longo da minha trajetória. Mas eu me cobrava muito sobre tudo, até sobre ter maturidade ou aguentar uma pressão que às vezes não estou pronta pra enfrentar. Entendi que não sou uma máquina. Tenho trabalhado bastante dentro de mim essa tal maturidade, que, na verdade, é uma autocobrança e gera muita ansiedade. Aprendi a me respeitar, a respeitar meus tempos. Quero ter consciência dos momentos em que minha mente precisa estar mais tranquila. Acho que isso é autoconhecimento. A gente deve ser mais carinhosa com si mesma e se cobrar um pouco menos. Tenho me esforçado para isso. Não é simples assim. Exige um exercício diário de sanidade mental.”
Feminismo
“Sempre fui feminista. Isso foi aumentando dentro de mim à medida que fui ficando mais mulher, mais adulta. Se alguma mulher diz que não é feminista, é porque não entende ainda o que é feminismo. Porque uma mulher que quer sua escolha de vida respeitada, qualquer que seja, deve saber que é isso que o feminismo propõe – direitos, respeito, liberdade de escolha.
Trabalhando desde criança, aprendi muito cedo o peso de cada decisão. Tenho muito orgulho disso e não imagino o que é ter uma vida diferente, uma vida limitada nesse sentido. Eu sei aonde quero chegar, amo trabalhar, sou muito focada e acho que tudo isso tem a ver com feminismo, com a liberdade da mulher. E tem gente que torce o nariz para essas questões. Principalmente quando se trata de jovens, que são donas das próprias escolhas. Eu sinto que, infelizmente, as mulheres ainda têm que se justificar muito. Pelo lugar que elas ocupam, por suas conquistas, seja no trabalho, seja na vida pessoal. É como se quisessem diminuir ou desmerecer suas conquistas. É muito triste. É necessário que exista uma união real feminina para que, juntas, a gente possa mudar essa visão e essa realidade.”
Vida a dois
“Xandinho e eu fizemos dois anos de casados, cinco anos juntos. Antes de casar, a gente já estava ensaiando morar junto. Eu passava longos períodos com ele em São Paulo. Mas, desde que a gente casou, não parei. Como fiz duas novelas seguidas como protagonista, foi muita correria, um trabalho atrás do outro. Agora estamos aproveitando esse tempo para ficar bem juntinhos. Sem a rotina de trabalho diário na TV, eu posso estar mais com ele. Nos últimos dois anos, Xandinho teve que fazer muitas viagens para me encontrar no Rio. Foram mais de 180 voos em 2018! Então, já que neste ano eu estive mais tranquila, foi minha vez de ir ao encontro dele. Relacionamento é isso, né? É também saber conciliar as duas vidas. Não dá para só um ficar se esforçando pela relação.”
Esposa e dona de casa
“Apesar do ritmo intenso, sou bem caseira. Gosto de ficar em casa, de fazer programas em família. Essa sensação de estar no meu lar é algo bem importante para mim. Sou canceriana, preciso dessa segurança. A nossa casa é quase um retiro. É onde renovo as energias. Prezo por essa atmosfera de proteção, de ser um lugar tão nosso. De ser um espaço que acolhe tanto a gente quanto quem a gente ama. Essa é a minha preocupação com a casa: ser um lugar que tenha a minha identidade, a nossa identidade. E de ser um espaço acolhedor para receber os amigos. Gosto de ver a casa arrumadinha, perfumada, com flores… Eu amo e compro sempre. Agora, cozinha não é o meu forte, não (risos). Adoro culinária e comida gostosa, mas não sou muito boa assim no fogão. Xandinho é melhor do que eu. Claro que, se tiver que fazer alguma coisa rapidinha, eu me viro. Mas nada muito elaborado.”
Rotina mais calma
“Lembro de estar sempre trabalhando, emendando projetos. Terminava um projeto com outro já engatado. Em 2018, por exemplo, fiz dois filmes (Sequestro Relâmpago e Todas as Canções de Amor) e duas novelas (Deus Salve o Rei e O Sétimo Guardião). É muita coisa. E, antes de cada trabalho, tem preparação, muito estudo. Esta é a primeira vez que termino um trabalho sem ter me comprometido com outros. Isso, para mim, é um esforço! Não tenho muita coragem de recusar. É uma espécie de gratidão. Se estão confiando em mim para fazer esse papel, como é que eu vou negar? Não é ser ingrata? Mas aprendi que não, que preciso ter esse tempo para mim, para meu corpo, minha mente, minha vida, para minha família e meus amigos. E para fazer coisas simples, banais. Estou percebendo que elas são muito importantes. Essa pausa está sendo essencial para mim. Amo minha profissão, mas esse respiro é muito necessário. Até mesmo para me renovar artisticamente – assistir filmes, ler livros e ver coisas novas. Afinal, ator precisa de repertório de vida. Continuo com minhas ações de publicidade, até porque eu acho que não conseguiria parar totalmente. Mas diminuir o ritmo dessa forma já é bom.”
Na estante
“Amo, amo, amo ler. Estou sempre com algum livro na bolsa, no carro, na mesa de cabeceira. Adoro poesia. Mas eu também gosto desses livros de reflexão, de autoconhecimento, de feminismo e sobre realidade virtual. Recentemente, li um chamado Dez Argumentos para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais (de Jaron Lanier, Intrínseca). E é óbvio que não deletei (risos). Porque hoje em dia as redes sociais também fazem parte do meu trabalho e eu gosto. Mas me fez ter consciência de como elas podem até induzir uma forma de pensamento… As pessoas que você segue, os conteúdos que compartilha, tudo. É um livro interessante para fazer a gente pisar no freio. E pensar melhor na maneira de usar as redes. Agora estou lendo outro livro, que meu marido indicou: 21 Lições para o Século 21 (de Yuval Harari, Companhia das Letras). Xandinho também lê muito, somos parecidos nisso e trocamos muitas dicas. Esse livro fala do futuro, de como as coisas estão mudando e de como a gente precisa se adaptar.”
Redes sociais
“Todo mundo já está vendo o poder das redes sociais, o poder dos comentários que a gente faz e recebe. É preciso ter mais cuidado. Saber que a gente está invadindo não só o espaço virtual de uma pessoa mas também a cabeça e o coração dela. Isso pode magoar, deprimir. Temos que tomar cada vez mais consciência disso.”
Pressão para engravidar
“Até entendo de certo modo essa ansiedade das pessoas. Na visão de muita gente, eu me casei nova demais. E sinto que as pessoas encaixam as outras em forminhas, é do ser humano. E então vem essa ideia de que ‘casou, logo tem que engravidar’. A pressão por filho é muito em cima da mulher. A maternidade é um dos assuntos que sempre aparecem nas minhas entrevistas, não importa a pauta. Acho que isso acontece com todas as mulheres, não só comigo. É doido porque, nas entrevistas com atores homens, esse assunto não é regra. É raro, durante o lançamento de um filme ou de uma novela, um ator ser questionado sobre suas pretensões de ser pai logo. Mas, respondendo objetivamente, sim, eu tenho muita vontade de ter filhos, de ser mãe, mas não agora. Não me sinto preparada e também não é minha prioridade. Tem uma série de coisas que eu quero aprender e realizar antes de me tornar mãe, tanto profissional como pessoalmente. Quero me conhecer melhor como mulher para, aí, sim, estar pronta para a responsabilidade e a bênção que é ser mãe.”
Carreira internacional
“Tenho estudado muito. Por causa do trabalho, nunca tinha tempo livre para fazer os cursos que eu queria. Agora estou focando nisso. Fiz um minicurso de arte com uma amiga. Também estou aproveitando o tempo para melhorar meu inglês, para falar com mais segurança. Meu plano é começar 2020 estudando. Quero me reciclar, aprender algo novo. Mas nenhuma destas minhas últimas decisões tem sido pensadas como um objetivo determinado. Claro que, quanto mais possibilidades na minha profissão, melhor. Mas isso é uma consequência. A carreira internacional não é o meu foco, não é o meu objetivo final. Não quero fechar nenhuma porta, mas estou feliz e realizada, vivendo o momento. Sei que tenho um longo caminho pela frente. A gente nunca sabe o que nos aguarda. Por isso, precisamos estar preparados para a vida, fazendo aquilo que temos vontade, que nos dá prazer. Os cursos entram nessa linha. O que eu quero dizer é que, no final, não adianta planejar tanto assim, tem que deixar a vida acontecer.”
Carpe diem
“Outro dia, saí para jantar e dar risadas com minhas amigas. Pensei: ‘Nossa, tem tanto tempo que eu não faço isso. Como estou sempre nessa loucura de trabalho, nunca sobrava espaço na agenda para estar com os amigos assim. O pouco tempo livre que eu tinha tirava para ficar com Xandinho, claro. Então está sendo muito bom poder curtir esses momentos. Especialmente quando acontece uma tragédia como essa, a morte dos meus amigos, a gente passa a ver que tem que viver, né? Não dá para seguir neste ritmo acelerado do mundo de hoje. Temos que parar, respirar, prestar atenção de verdade nos nossos amigos. E viver o tempo presente.”
2020
“Espero que seja um ano mais leve. Esse é meu pedido número 1. Eu quero aproveitar mais a vida para ser feliz genuinamente, sabe? Deixar as pressões dos outros para trás. A vida é muito frágil, as coisas surpreendem a gente o tempo inteiro. Então, temos que viver, ser feliz e dar valor para as coisas certas. Pretendo deixar acontecer, deixar 2020 me surpreender sem fazer muitos planejamentos quadrados. E vou tentar ser mais gentil ainda comigo, evitar essas autocobranças, controlar a ansiedade e criar um olhar mais empático para mim e para os outros. Ser feliz é minha maior prioridade.”
O que dizem sobre a Marina
“Ela é a minha maior inspiração. Todos os dias, levanto e agradeço a Deus por ter colocado uma mulher tão especial na minha vida! Aos olhos dos que estão de fora, foi tudo rápido até nos casarmos. Mas não. Vivemos tudo no tempo certo. Tinha certeza de que era com Marina que queria construir minha família e não a deixaria escapar de jeito nenhum. Tenho muito orgulho desta atriz tão talentosa, desta profissional tão dedicada que posso chamar de meu amor.” – Xande Negrão, marido da atriz.
“Conheci a Marina quando ela tinha 9 anos, e eu 15, mas essa diferença some quando estamos juntas. Temos muita afinidade e confiança uma na outra, além de carinho e admiração. Tanto que a escolhi para ser madrinha do meu filho mais novo, o Dudu. E não confiaria a mais ninguém esse papel. Nossos valores são parecidos. Tenho muita admiração por ela. Caminhamos lado a lado, sempre dando suporte uma à outra. Espero que a gente envelheça juntas. Marina é mais do que uma amiga, é uma irmã – e agora comadre – muito especial.” – Luma Costa, atriz.
“Brinco que Marina e eu somos da mesma geração porque nossa diferença de idade se desfaz nas risadas que damos. Ela tem o essencial para trilhar essa dificílima arte de interpretar: talento, vocação e técnica. E, além disso, o carisma, que a faz brilhar.” – Marcos Caruso, ator e colega de elenco em O Sétimo Guardião.
“Quando convidei Marina para fazer a série Justiça, já admirava o trabalho dela. Mas, para mim, foi no set que ela se revelou uma atriz dedicada e com uma capacidade extraordinária de mergulhar nas ambiguidades. Ela tem a verticalidade de ser anjo e demônio, talento reservado a poucos.” – José Luiz Villamarim, diretor da série Justiça.
“Marina foi luz desde a primeira vez que a vi, quando veio trabalhar comigo, ainda criança. Fizemos mais projetos juntos, mas, mais do que tudo, trocamos impressões sobre a vida, desejos e ideias. É lindo vê-la crescer, se tornar mulher e espalhar tanta coisa boa pelo mundo.” – Luiz Henrique Rios, diretor de novelas como Começar de Novo, Belíssima e Totalmente Demais.
*Edição de moda Fabio Ishimoto • Styling Kaio Assunção • Produção de moda Bi Lessa • Beleza Krisna Carvalho • Assistentes de fotografia Iúri Santos, Marcela Berto e Wislly de Andrade • Assistente de beleza Arthur Lordelo • Tratamento de imagens WM Fusion.
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