Favela da Paz une sustentabilidade e cultura no combate à pandemia
O instituto criou o "Favela Card", que funciona como um auxílio para as famílias em vulnerabilidade
Trinta anos atrás os irmãos Fábio e Claudio Miranda tocavam samba no grupo Poesia Samba Soul com seus amigos no Jardim Ângela, periferia de São Paulo. E não era apenas a música que chamava atenção, mas sim a forma de fazê-la.
“Fazíamos música para abrir espaço de confiança e conversa. Começamos a dar aulas e depois de muito tempo, e produzindo muita gente na comunidade, percebemos que éramos agentes de transformações”, explica Claudinho, como é chamado na comunidade.
O nome “Favela da Paz” se deu por uma forte questão de violência que cercava o Jardim Ângela, que foi considerado um dos bairros mais perigosos do mundo pela ONU, em 1996. O título negativo foi superado em 2013 com muita articulação, e o instituto tem uma participação ativa nesse feito.
O Instituto Favela da Paz surge para dar continuidade ao trabalho que o grupo musical começou em 1989. Juntos, eles criavam instrumentos usando metal, baldes e lixo reciclados, porque esse era o jeito mais acessível de conseguir fazer música. Em 2010, o Favela da Paz dava seus primeiros passos com música e cultura, para se tornar um importante movimento sustentável dentro da favela.
Por ter trabalhado em uma floricultura, a sustentabilidade sempre fez parte da realidade de Claudio. Hoje o estúdio criado por ele é feito com 70% de materiais reaproveitados, e a energia do ambiente é renovável. “Percebemos que o ser humano tem muito mais dons do que imaginamos, nosso potencial vai além da profissão”, conta Claudinho. Com a medida de isolamento social, Claudio tem realizado lives nas redes sociais, para dar continuidade às atividades que antes aconteciam através de oficinas.
Periferia Sustentável e outros projetos
O projeto comandado por Fábio Miranda, que além de músico é pesquisador em energias renováveis, tornou-se um dos principais do instituto. O Periferia Sustentável tem como missão o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e de baixo custo, levando novas soluções e práticas para dentro das comunidades. “Hoje, o projeto é um dos pioneiros com sistema de biodigestão dentro das periferias”, explica Fábio.
“Tudo se renova, esse é o lema da sustentabilidade”. Fábio criou o primeiro sistema de biogás do Brasil – que consiste em converter o lixo orgânico da cozinha em gás. O Favela da Paz organiza oficinas para ensinar os moradores da comunidade a fazer o biodigestor e esse sistema já foi implementado em diversos lugares do país.
Os projetos também passam pela alimentação saudável. Foi criado o Projeto Vegearte, que mostra que a cozinha é um lugar onde o aprendizado e a sustentabilidade caminham juntos.
Elem Coelho Pereira é cozinheira e comanda o projeto, levando os ensinamentos da culinária vegetariana que aprendeu com a sua mãe. Ela ensina aos moradores da região que é possível ter uma alimentação balanceada usando apenas vegetais.
A ajuda na comunidade em meio a pandemia
Para proteger a comunidade do novo coronavírus, o Favela da Paz criou mais uma iniciativa que visa o cuidado e o auxilio às famílias nesse momento delicado. Em parceria com o SUS e com a empresa Vegas Card, foi criado pelo instituto o Favela Card, uma espécie de vale-refeição que pode ser utilizado nos comércios da região.
“A intenção é garantir que as famílias tenham os insumos básicos garantidos para passar por essa pandemia, e fortalecer o comércio local, para que ele não seja tão afetado”, explica Claudio. Dada a emergência da situação, o Favela Card já está sendo testado no Jardim Nakamura, em São Paulo.
“Queremos ampliar esse piloto para que possa ser feito em outras regiões e bairro de São Paulo, do Brasil e do mundo”, diz Claudio
Antes de testar o Favela Card, o instituto criou uma campanha em combate a Covid-19, que arrecada alimentos, itens de higiene e limpeza e recursos financeiros para apoiar as famílias da região.