The Last of Us: como a série está reinventando personagens femininas
Mais do que uma história de sobrevivência, a produção mostra mulheres complexas, humanas e protagonistas de suas próprias jornadas

Desde sua estreia, a série The Last of Us tem chamado atenção não apenas por sua narrativa densa e impactante, mas por construir personagens femininas diferentes do que já vimos nas telas: elas são fortes, complexas e chegam até a ser um tanto contraditórias. Sim, mais humanas do que perfeitas.
É curioso pensar que no jogo e na adaptação todas vão na contramão dos heróis masculinos. Apesar de terem o tino de liderança, também enfrentam dilemas morais e não precisam ter um corpo sarado para levantar um carro com uma só mão.
Em um cenário pós-apocalíptico, as características que se sobressaem são o pensamento estratégico, a resiliência e a criação de ideias rápidas para solucionar problemas.
“Acho reducionista pensar que as mulheres só podem ser fortes incorporando atributos masculinos, sendo fisicamente fortes ou sem emoções – coisas que nem acho necessariamente masculinas, mas sei que a sociedade pensa assim” comenta Ariela Barer, atriz que interpreta Mel na segunda temporada da trama.
“Ideias tradicionalmente consideradas femininas também podem ser muito incríveis, e acho que isso é algo que Mel incorpora — ela é idealista em um mundo tão brutal e violento. Além disso, consegue acreditar nas pessoas e no bem, algo extremamente corajoso.”

Contrariando o hate
A protagonista da produção, Ellie, é uma adolescente inteligente, astuta e impulsiva. No fim da primeira temporada, descobrimos que ela se identifica como queer. No lançamento, vemos a construção do relacionamento com Dina, uma garota doce, empática e determinada. Curiosamente, esse fato gerou uma onda de ódio online por parte de homens homofóbicos.
Em entrevista à edição britânica da revista GQ, a atriz Bella Ramsey defendeu o arco LGBTQIA+ e disse que não estava ansiosa para encarar as críticas: “eu sei que as pessoas vão pensar o que quiserem. Mas eles vão ter que se acostumar com isso. Se você não quer assistir à série porque tem histórias gays, porque tem um personagem trans, isso é com você e está perdendo. Não vai me deixar com medo. Eu acho que vem de um lugar de desafio.”
Para os fãs, o casal se complementa e entrega um respiro em meio a cenas tensas. “A Ellie tem esse coração mais duro, e reprime bastante suas emoções; já a Dina não tanto. A Dina traz leveza à Ellie que a conecta com sua criança interior e alegria infantil. Adoro como o relacionamento delas floresce e se desenvolve”, aponta Bella.

Outro alvo de críticas é Abby, uma das figuras mais controversas da franquia. Isso porque ela rompe com os padrões tradicionais de feminilidade. Veja só: ela falha, reage e luta – o que torna o universo da história mais real e, ao mesmo tempo, mais poderoso. Porém, a abordagem fez com que ela se tornasse símbolo de uma resistência misógina por parte de uma parcela da comunidade gamer.
A atriz Laura Bailey, que deu voz à personagem no jogo, chegou a receber ameaças de morte. A atriz Kaitlyn Dever, por sua vez, precisou de proteção adicional e seguranças para filmar certas cenas.
“No fim das contas, é uma história muito boa. Qualquer pessoa que não queira assistir por causa de algo tão superficial quanto o gênero está apenas se prejudicando. E acho que esse é, de certa forma, o melhor que você pode fazer como artista: criar algo tão interessante que qualquer um que esteja incomodado é quem vai sair perdendo”, diz Ariela.

A quebra dos papéis sociais
Outro destaque que vale ressaltar é Maria, papel de Rutina Wesley. Uma das líderes de Jackson, comunidade que funciona como um refúgio seguro no mundo em colapso, é ela quem organiza a estrutura e comanda o espaço, tomando decisões que afetam todos os sobreviventes.
Não retratá-la como cuidadora passiva ou figura frágil também nos ajuda a desconstruir a ideia de que existe apenas um jeito certo de ser mulher.
Sabemos que a indústria do entretenimento ainda está longe de retratar a igualdade de gênero nas telas, mas movimentos como esse mostram o poder da inclusão. O que The Last of Us propõe é que a feminilidade pode ser plural – a representatividade não está ali para agradar, mas para desafiar padrões impostos pelo machismo e patriarcado.

“A beleza desse momento atual para a arte de contar histórias é que, agora que temos tantas narrativas, as histórias sobre mulheres ou qualquer grupo minoritário não precisam mais seguir a narrativa de minoria exemplar”, opina Ariela. “As mulheres não precisam ser perfeitas para serem respeitadas na mídia. Acho que é aí que a gente desbloqueia o verdadeiro segredo, a mágica da narrativa para as mulheres.”
Para as novas gerações, ver Ellie, Dina, Abby e tantas outras ocupando esse espaço tem um valor simbólico imenso – já que elas mostram que podemos ser múltiplas: amar quem quisermos, reagir como quisermos, liderar, falhar, reconstruir e recomeçar.
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