Os 50 anos da boca mais famosa do mundo
O designer inglês John Pasche criou a marca dos Rolling Stones, mas não ganha nada por ela
Algumas imagens são rapidamente associadas aos Rolling Stones, como a dança de Mick Jagger (imortalizada e homenageada pelo Maroon 5 com Moves Like Jagger), Keith Richards e seu cigarro e a logo da banda.
A imagem dos lábios grossos e a língua para fora tem algumas curiosidades, além do aniversário de meio século. Ela apareceu primeiro na contracapa do álbum Sticky Fingers, em 1970. E, não. Não é inspirada no vocalista da banda, embora a encomenda tenha vindo dele e aprovada pelo próprio Jagger. É, na verdade, inspirada em uma imagem da divindade indiana Cali, com a boca aberta e língua para fora.
A segunda curiosidade é que, embora muita gente ainda confunda, a logo também não é uma criação de Andy Warhol. Na verdade, é um dos primeiros trabalhos do designer inglês, John Pasche, que na época ainda era estudante da Royal College of Art, em Londres. Ele foi recomendado por professores e teve suas primeiras ideias rejeitadas até desenhar a hoje clássica boca vermelha associada aos Stones. Pasche ganhou pouco mais de 300 reais pelo trabalho. Sua logo hoje não é apenas a marca registrada do grupo, é também uma peça fashion usada por famosos e desconhecidos.
A logo, que ia fazer parte de uma exposição em Paris esse mês, “Revolutions: Records and Rebels 1966 — 1970″ (adiada até o fim da pandemia), rendeu (e rende) muito dinheiro para os Rolling Stones, que têm a marca registrada. Pasche, que chegou a ganhar 1.300 reais depois, como compensação pela criação, só passou a receber parte dos royalties cinco anos depois da criação da peça (10% brutos das vendas de merchandising). Hoje, segundo a matéria do New York Times sobre o aniversário de 50 anos da logo, ele não recebe mais nada pois revendeu seus direitos de volta para o grupo ainda no início dos anos 1980, por algo em torno de 170 mil reais.
“Provavelmente hoje estaria vivendo em um castelo”, ele admitiu, explicando no entanto que foi forçado a ceder porque o embate na Justiça não seria fácil. Em vez de levar a briga para os tribunais, onde poderia vir a perder – e pagar sozinho os custos do processo – Pasche fez um acordo com os Rolling Stones. “Seria uma briga como Davi e o gigante, um designer contra os Rolling Stones“, ele contou ao jornal americano.
Para o artista, o que mais o satisfaz é o fato da logo ser associada a um símbolo de protesto. “É como as crianças fazem quando elas dão a língua para você e essa era a razão pela qual eu pensei que funcionaria tão bem”, Pasche explicou.
50 anos depois, ele já tem toda certeza de ter acertado.