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Ismael Cruz Cordova, de The Undoing, é um ator para ficar de olho

Em entrevista inédita, ele fala sobre o trabalho na série e mostra-se apaixonado pela terra natal, Porto Rico

Por Da Redação
29 nov 2020, 17h00
THE UNDOING CAST
 (HBO/Divulgação)
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Ismael Cruz Cordova ainda é um ator pouco conhecido pelo grande público, mas ele certamente merece entrar para o seu radar. Aos 33 anos, ele acaba de entregar uma ótima atuação na minissérie The Undoing – cujo último episódio vai ao ar neste domingo (29).

Com olhar misterioso e postura firme em cena, ele brilhou ao lado de atores do porte de Nicole Kidman e Hugh Grant. Negro e nascido em Porto Rico, Ismael se mostra apaixonado pela terra natal e diz que tem orgulho de trazer representatividade para a TV.

Depois do sucesso de The Undoing, poderemos ver o ator em breve numa outra produção de peso: O Senhor dos Anéis, série da Amazon Prime Video que ainda não tem data para estrear, mas já começou a ser filmada. A seguir você confere uma entrevista inédita de Ismael, cedida a CLAUDIA pela HBO.

Como foi a experiência de fazer The Undoing?

Tiveram momentos em que foi um pouco estressante e assustador para mim, para ser honesto. Eu não sabia que era um elenco tão pequeno e quando cheguei lá fui atirado rapidamente para fazer uma leitura do roteiro e ficou muito claro para mim de que se tratava de um grupo de artistas e que esta seria uma experiência que estava mais perto de fazer arte e teatro do que simplesmente ‘vamos colocar esta série no ar’. A atenção aos detalhes e à voz artística, a atenção à performance e às contribuições dos atores, que vinham de Susanne e David, os produtores, e dos próprios atores, foi revigorante, fundamental e emocionante. E quando você assiste à série, é por isso que você vê o que vê. Somos todos muito diferentes, mas tocávamos a mesma melodia, éramos partes do mesmo corpo. E havia muito
respeito um pelo outro e isso estava lá desde o início. E tivemos grandes
líderes em Susanne e Nicole, que deram o tom.

Quando você leu os roteiros de David Kelley pela primeira vez, o que você achou?

Eu curti muito as reviravoltas (risos). E mudava de ideia conforme o lia. Em um momento estava seguro de que Jonathan tinha feito [cometido o assassinato] e depois então pensei, ‘espere, fui eu que fiz?’ E então eu comecei a duvidar de Grace. Foi como, ‘Grace poderia ter feito isso! Oh m***da … ‘(risos). Você sabe que há aquela cena em que ela é registrada pelas câmeras de segurança e foi, ‘oh meu Deus, ela fez isso?’ Portanto, o roteiro certamente mantém o espectador envolvido e investido e isso é um tributo à qualidade da escrita. David é muito bom em capturar as complexidades da humanidade. Todos têm um ‘lado negro’ e isso está exposto e se torna muito democrático e igualitário, porque essa é a realidade da condição humana – todos têm a capacidade de ser incrível, heroico, generoso e santo e todos têm a capacidade de ser o vilão. Então, a escrita era tão boa que eu acho que ninguém poderia ter certeza de quem matou Elena até o final.

Ismael Cruz Cordova
(HBO/Divulgação)
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Existe aquele velho clichê sobre atuar com crianças e você tem cenas com Edan Alexander, que interpreta o filho de Fernando, Miguel. Como foi trabalhar com Edan?

Eu realmente amei trabalhar com Edan. Tínhamos um vínculo especial tipo pai e filho. Ele é como um homenzinho, com aquelas bochechinhas (risos). E eu realmente o amei e o protegi – me certificando de que ele estava bem, que se sentia seguro e garantindo que ele soubesse que poderia vir até mim e conversar sobre qualquer coisa como ator, mas também como um menino. Foi muito natural com Edan.

Você já esteve em ótimas produções de TV – The Good Wife, Ray Donovan, Berlin Stories – pra você, como se comparam com The Undoing?

É a HBO (risos). Eu não sou um produtor, mas da minha perspectiva parecia que eles chegaram e disseram, ‘OK, você tem esta história que quer contar, aqui estão os recursos. Volte quando terminar.’ Parecia que havia muita confiança e os recursos estavam lá. O clima era muito confortável tanto no set quanto nos bastidores. Havia o apoio para fazer o que precisávamos – para construir essa história. Eu me senti extremamente cuidado e valorizado. Então, tive uma ótima experiência. E isso não é em relação a outras coisas que fiz, mas foi um momento muito especial e aprendi lições incríveis como ator trabalhando com o elenco e atuando de perto com Nicole e Hugh e Noma e, claro, Susanne. Me tornei um artista melhor trabalhando com a Susanne. Ela me tirou da minha zona de conforto e sempre esteva lá para me orientar e para me apoiar. A fragilidade das emoções que me pediam para viver significava que eu precisava de muita compaixão pelo personagem e de muita ternura da minha parte como ator. Eu precisava desse
comprometimento da minha diretora e dos outros membros do elenco e o recebi – dez vezes mais. Foi tão especial – gostaria que pudéssemos fazer tudo de novo. Eu trabalharia com qualquer um deles novamente.

O que sua família acha de sua carreira?

Eles detestavam que eu quisesse atuar. Agi contra seus desejos. Porque minha mãe deu à luz minha irmã quando ela tinha 15 anos e meio ou algo assim e ela não terminou o ensino médio e meu pai a mesma coisa. Eles cresceram sem ninguém ao seu redor indo para a faculdade – eu fui o primeiro a ir para a faculdade – então eles disseram ‘você tem que ser um médico ou advogado’, aquela coisa toda. Então destruí seus sonhos. E eu sei que não foi uma coisa egoísta. Eu sei que para meus pais, se eu pude ter a oportunidade de viver uma vida diferente da deles, por que iria desperdiçá-la atuando? Meu pai até me levou para ver um psicólogo e eles disseram ‘por favor, conserte essa criança’ (risos). Mas eu fui tão inflexível. E sabe, eu estava decidido, determinado. Eu era um grande nadador, sempre entre os três primeiros na natação, tinha ótimas notas, tinha tudo encaminhado – eu trabalhava duro – então para eles se tornar um ator não era o que eles esperavam para mim. Mas eu tenho uma ética de trabalho incrível que
aprendi com meus pais, eles trabalham muito duro. Sabe, me emociono até mesmo falar sobre isso. Foi uma verdadeira jornada.

Mas eles devem ter muito orgulho de você agora?

Sim, eles têm. Eu consegui meu primeiro papel no cinema aos 15 anos. Eles foram ao set a contragosto e foram capazes de ver a ética de trabalho que me ensinaram. Eles se revezavam me levando para o set. Meu pai ficava no carro e o diretor vinha e falava com ele e lhe elogiava por ter criado uma criança tão ética, sabe. Eles puderam testemunhar que eu havia encontrado minha vocação e não iria me desviar disso. Eles acabaram se tornando meus principais orientadores – eles iam aos sets frequentemente e minha mãe ficava sentada com os produtores com seus fones de ouvido, checando minhas tomadas e me dando feedback (risos). E é um feedback de mãe, mas um feedback muito, muito valioso porque ela representa, na minha opinião, o público. E você sabe que ela é honesta comigo, eu pergunto a ela ‘você sentiu algo assistindo ou não sentiu nada?’ E ela me diz (risos). Então sim, eles são extremamente orgulhosos. E espero que meus irmãos, minha família, meu país, Porto Rico, as pessoas que represento também estejam. E tenho orgulho de representá-los.

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THE UNDOING CAST
(HBO/Divulgação)

Porto Rico é claramente muito importante para você. Como você lida com todas as viagens, estando longe de casa que vem como parte do trabalho?

Eu definitivamente fui receptivo a isso. Quando você viaja, você experimenta as diferenças de cultura, sociedade e isso alimenta o que você faz como artista e como pessoa socialmente envolvida e também faz você perceber o quão conectada a humanidade está. Acho que isso me tornou uma pessoa mais empática. Eu adoro conhecer pessoas interessantes – geralmente os boêmios e esquisitos (risos). Muitas vezes, quando eu aterrisso em algum lugar, eu fico tipo ‘onde fica a área estranha? Me leve lá!’ Porque é assim que eu prospero. Então, viajar, conhecer pessoas diferentes agrega ao que estou fazendo; sinto que quero dirigir e escrever e contar histórias e tudo isso acrescenta à experiência para fazer isso. Mas, por outro lado, ficar longe tanto é mais difícil quanto mais velho fico. Já estou na
estrada há sete, oito anos e, no total, longe de Porto Rico e da minha família há cerca de 13 anos. Você sente falta. Era mais fácil nos meus 20 anos e está começando a ficar um pouco mais difícil. E há momentos em que é um pouco solitário – você pensa em sua família, pensa em ter uma família e às vezes só tem vontade de ir ao seu café favorito pela manhã e encontrar as mesmas pessoas. Quero ter amizades mais longas do que apenas as que consegui desenvolver trabalhando. Portanto, às vezes, estar longe é uma luta e muitas vezes me entristece. Mas a recompensa é importante. Eu posso ter este fórum para falar sobre essas coisas, eu posso comunicar mensagens
que realmente tem um impacto e que fazem tudo valer a pena, realmente vale. Então, por enquanto, estou nessa para vencer (risos). E estou tentando encontrar estruturas que me permitam coisas como ter minha família mais perto, um dia ter minha própria família, e espero que isso aconteça.

Você espera dirigir um filme em Porto Rico algum dia?

Certamente. Eu sou uma pessoa de Porto Rico, mas também sou uma pessoa de Nova York, então esses dois mundos vivem consistentemente em mim. Muitas das coisas que escrevo reúnem pessoas de ambos estes mundos. Mas eu definitivamente quero voltar para Porto Rico. A riqueza de talentos lá é incrível – na frente e atrás das câmeras. Eles têm equipes intensas lá. Sim, quero trabalhar com meu povo e agora que temos, por exemplo, HBO América Latina, HBO Brasil, HBO Espanha, e esse é o tipo de qualidade que quero fazer – algo que uma plataforma como a HBO pegaria e trabalharemos juntos para criar essas incríveis histórias de amplo alcance.

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