O desejo de Francesca Alterio para 2022 é a volta dos festivais
A diretora de marketing da T4F, responsável pelo Lollapalooza brasileiro, está otimista para um ano de entretenimento aquecido
Se depender de Francesca Alterio, grandes shows não vão faltar em 2022. Diretora das áreas de marketing e festivais da Time For Fun (T4F) — o que na prática significa estar à frente de eventos como a edição brasileira do Lollapalooza, confirmada para março — , ela se diz segura e otimista para a retomada de grandes eventos. Mesmo com a ameaça de variantes como a ômicron. “São Paulo tem uma das maiores taxas do mundo de vacinação, isso traz tranquilidade. Acho que o mercado está muito aquecido, vai ter uma superoferta de eventos”, afirma Francesca.
Além do Lolla, outros festivais da empresa, como o Grls! e o Popload, também já estão confirmados e terão datas e line-up divulgados em breve. E Francesca promete mais. “Estamos trabalhando em vários novos festivais que acontecerão no ano que vem. A gente está focando muito no pilar de criar as nossas próprias marcas.”
Com os ventos soprando na direção dos novos festivais, não está nos planos da T4F voltar a investir em casas de espetáculo como o Unimed Hall (antigo Credicard Hall e Citibank Hall), cujo fechamento a empresa anunciou em abril.
“Ainda vamos trabalhar com o modelo de ‘venues’, mas em formatos muito diferentes dos trabalhados no passado. Usando o exemplo do Unimed Hall, a gente não acredita mais tanto nesse modelo, por um simples fato de que as pessoas querem viver experiências cada vez mais completas. E já existe uma oferta muito grande de shows em casas de espetáculos pequenas”, avalia.
A aposta agora é em espaços com capacidade maior de público. “Vamos focar em arenas, lugares para fazer festivais. Não temos nenhum plano ainda, mas é uma frente que a gente tem estudado muito. Estamos nos preparando.”
“O festival Grls! é justamente uma celebração de mulheres dentro da nossa indústria, porque é óbvio dizer que não existe uma representatividade tão grande de mulheres”
Francesca Alterio, diretora de marketing e festivais da Time For Fun
Planejar, discutir e estudar, aliás, foram o foco durante o período em que realizar shows presenciais não foi possível. A T4F optou por não embarcar na onda de lives e eventos no esquema de drive-in. O que não significa que o on-line não esteja no horizonte da empresa para um futuro próximo. “A indústria inteira ainda está entendendo exatamente como isso vai se materializar, mas é uma grande oportunidade: você assistir a um show dentro da sua casa, só que da primeira fileira, na frente do palco. Mas acho que ainda tem uma trajetória aí para isso ganhar maturidade”, afirma Francesca.
Quatro anos de showbiz
Quem vê a executiva, aos 29 anos, falando com tanta propriedade e empolgação sobre o que espera para o futuro da indústria provavelmente não imagina que o trabalho com entretenimento só entrou oficialmente em sua vida há quatro anos. E embora estivesse no seu sangue, admite, nunca foi um sonho.
Francesca é filha de Fernando Alterio, um dos maiores empresários do ramo de shows e eventos da América Latina, além de diretor presidente e maior acionista da T4F. Até que fosse “100% mordida pelo bichinho” do entretenimento, como define, esteve entre a arte e a moda, ramo da mãe, a estilista Candy Brown. Durante uma temporada em que morou em Nova York, chegou a trabalhar no MoMa e na GB65, agência do diretor criativo Giovanni Bianco.
Apesar de ainda exercer como hobby atividades do “lado criativo” como a pintura e até o planejamento do próprio casamento com Raphael Vilella, no fim de novembro, relembra, acabou ganhando um olhar executivo. “Conciliar o trabalho com o casamento foi uma loucura. Mas foi uma delícia também, porque é muito do que a gente faz, então teve muita planilha, muito cronograma. No fim do dia, é produção.”
Única entre os quatro filhos de Alterio a trabalhar na empresa, alterna entre “Fernando” e “pai” ao referir-se a ele, como quem tenta separar a figura paterna do chefe. “Uma das coisas que me motivou a vir trabalhar na empresa foi ter a oportunidade de aprender com ele. São 40 anos fazendo isso, conhecendo e trabalhando nessa indústria. Dito isso, a gente tem cabeças muito diferentes, esse ‘gap’ geracional enorme, e estilos pessoais diversos. O meu pai, o Fernando, é uma pessoa de exatas, ele tem uma facilidade absurda com números, e essa não é uma das minhas fortalezas.”
Mas, no final, as personalidades se complementam, acredita. “Eu sempre trabalhei mais com o lado criativo, então é muito interessante a relação que a gente tem porque são contrapontos. E meu pai vai fazer 70 anos. Ele adora ser cercado por pessoas jovens, que têm uma cabeça aberta, pensam diferente, fazem provocações. Acho que isso também é um pouco da minha natureza, do meu trabalho e da minha relação com ele, provocar para pensar diferente, para olhar novos caminhos e jeitos de fazer as coisas. Até imaginei que ia ter um pouco de estresse, mas realmente não tem.”
“Em festivais, tem todo um universo que é muito ligado à criação, seja cenografia, comunicação, merchandising. É o que me faz amar tanto essa indústria”
Francesca Alterio, responsável pelo Popload e o Grls! mais a edição brasileira do Lollapalooza
Enquanto aprende com o pai, celebra o fato dos dois maiores festivais do Brasil terem mulheres na linha de frente: ela, no Lolla, e Roberta Medina, no Rock in Rio. “Acho super simbólico, fico muito feliz. É uma pauta superimportante para mim. Foi até por isso que a gente criou o festival Grls!, que é justamente uma celebração de mulheres dentro da nossa indústria, porque é óbvio dizer que não existe uma representatividade tão grande. Infelizmente não conheço a Roberta, mas admiro muito o trabalho dela. Acho incrível ter cada vez mais mulheres à frente, é uma mudança necessária que vai acontecer. Um movimento lento, porém garantido.”
Você esteve no Lollapalooza em Chicago recentemente. Como foi acompanhar esse movimento de retomada por lá?
Eu consegui ir a dois festivais neste último ano. O Lolla, em Chicago, e o Austin City Limits, no Texas. Foi incrível, estava morrendo de saudades daquela experiência do crachá, da pulseira, da multidão, de pegar a cerveja no bar, enfim. Confesso que foi uma surpresa, a gente tinha expectativa de ter mais restrições.
Por que vocês optaram por não embarcar na onda de lives e shows drive-in durante a pandemia?
O risco era muito grande, e a parte financeira não fazia sentido. A gente fez alguns eventos digitais pontuais. Foi um desafio. A nossa indústria trabalha com modelos de negócio que são bem específicos, então se você não tem uma variável ou outra, seja venda de ingresso ou venda de patrocínio, impacta financeiramente.
De que forma você acha que sua experiência no ramo da arte e da moda influencia o seu trabalho hoje?
Inevitavelmente, eu sou a mistura dos meus pais, né? Meu pai tem esse lado orientado para negócios, e minha mãe sempre foi estilista. Fiz várias experiências quando morava em Nova York: arte, moda, agência… E no meu caso, para o trabalho funcionar, preciso ter esses dois lados. Por exemplo, em festivais, tem todo um universo que é ligado à criação, seja cenografia, comunicação, merchandising. É o que me faz amar tanto essa indústria.