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“Estranha Forma de Vida” reflete sobre os assuntos mal resolvidos da vida

Estrelado por Pedro Pascal e Ethan Hawke, o média-metragem deixa o espectador reflexivo e clamando por um continuação

Por Raíssa Basílio
Atualizado em 22 abr 2024, 21h52 - Publicado em 14 set 2023, 09h25
Ethan Hawke e Pedro Pascal estrelam o faroeste "Estranha Forma de Vida"
Ethan Hawke e Pedro Pascal estrelam o faroeste "Estranha Forma de Vida" (MUBI/Reprodução)
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Filmes de faroeste são majoritariamente masculinos, exalam uma testosterona típica de Hollywood, e não é por acaso que é um gênero moldado dentro de uma estética completamente norte-americana. Como diria Pedro Almodóvar, nos Estados Unidos não há épicos, vide Ilíada, A Odisseia, Eneida. Eles tiveram que criar os seus próprios. Veio então o Western, que conta a história do país através dos povos colonizados e os colonizadores. O novo trabalho do diretor espanhol, Estranha Forma de Vida, explora este cenário, mas com o jeito Almodóvar de ser.

No média-metragem, Pedro Pascal vive o cowboy Silva e Ethan Hawke, o xerife Jake. No passado, eles viveram um intenso e fugaz romance. Após 25 anos, os dois se reencontram por conta de uma visita de Silva, ainda com muitas questões mal resolvidas. O diálogo é a cerne do roteiro, e o passado deles é colocado em cheque.

“Estranha Forma de Vida” reflete sobre os assuntos mal resolvidos da vida (MUBI/Divulgação)

Como em outras produções do diretor espanhol, há uma construção de elementos que ditam o tom do que veremos na tela nos próximos 31 minutos, a começar pela música de abertura e a forma como os personagens são apresentados, mostrando já uma estranha forma de vida. O figurino do filme, assinado por Anthony Vaccarello, diretor criativo da Yves Saint Laurent, já nos mostra as diferenças entre Silva e Jake, o que nos faz ter um vislumbre do que não deu certo na relação.

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Silva usa cores, estampas e sua caracterização exala uma certa sensualidade, as camisas xadrez com jaquetas coloridas exprimem ali um lado passional e revelam alguém que não tem medo de se expressar. Já Ethan Hawke aparece com alfaiataria tradicional, com ternos sóbrios e estruturados, um semelhante mais rígido, sério e que joga dentro do convencional.

Sem entregar muito da trama, o filme mostra que os dois tiveram uma vida independente da paixão que nutrem (ou nutriam) um pelo outro, mas há motivos mais pontuais para esse reencontro. Silva quer ajudar seu filho e, Jake, honrar seus objetivos. Em entrevista sobre a obra, Almodóvar declarou que o personagem de Hawke não é do tipo que largaria tudo para viver um amor, ainda mais com outro homem.

De uma forma muito natural, o realizador discute a masculinidade tóxica, homoafetividade e a marginalização. Com base nos faroestes de Hollywood, temos uma versão estilizada e fabricada de tudo o que aconteceu naquela época. Estranha Forma de Vida coloca uma outra ótica. Pedro Almodóvar explora a liberdade em um idioma que não é nativo dentro de um dos temas mais estereotipados da história dos Estados Unidos. Essa ousadia se adequa ao diretor.

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Colocar um amor entre dois homens neste cenário só não é inédito porque temos O Segredo de Brokeback Mountain. Mas da forma como Almodóvar coloca, é, sem dúvida, pioneira. Não há uma exploração de corpos, mas de diálogos, que é o objetivo do diretor, segundo o mesmo. Ele não queria apresentar outro filme que focasse no relacionamento carnal, mas nas ramificações do que um casal viveu, que não conversa mais com a realidade.

Pedro Almodóvar nos faz desejar viver um romance semelhante ao dos protagonistas. Por mais problemático que seja, há um fogo ali que é pouco retratado no cinema quando falamos de relacionamentos homoafetivos. O que resgata a realidade é quando vemos que um deles nega assumir o que viveram, eis onde temos boas discussões sobre o motivo deles terem se separado – e há cenas que abrem muito espaço para o imaginário. Não só isso, ainda fica um gostinho de quero mais, já que não é um longa-metragem.

Estranha Forma de Vida quer te fazer pensar sobre outras realidades e os rumos que tomamos, em busca dos nossos prazeres egocêntricos e ideais. Nenhum personagem é colocado em um patamar idealizado, são apenas pessoas que erraram, continuaram errando e suas convicções são suas bússolas. Almodóvar abre espaço para um média-metragem contemplativo, reflexivo e livre de amarras. Como disse o diretor, ao fazer filmes menores você pode voltar ao seu estágio de iniciante na indústria cinematográfica e explorar o que quiser, com mais liberdade.

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Confira o trailer abaixo:

​​Estranha Forma de Vida estreia nos cinemas nesta quinta-feira, dia 14 de setembro de 2023, junto a exibição de uma entrevista com o realizador, Pedro Almodóvar.

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