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Este conto erótico mostra que prazer sexual vai além de estímulos físicos

A escritora Monique dos Anjos une poesia e realidade em histórias voltadas ao prazer feminino com protagonismo negro

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 nov 2022, 11h13 - Publicado em 21 nov 2021, 00h36
Monique dos Anjos - contos eróticos
Monique dos Anjos aposta em contos eróticos que são imperdíveis.  (Foto divulgação; ilustração, Katsuki Murouchi/CLAUDIA)
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Para poder falar de prazer, foi necessário um encontro entre necessidade, sonho e ferida na vida de Monique dos Anjos. Há dois anos, a jornalista e consultora de relações étnico-raciais passou a escrever contos eróticos protagonizados por mulheres, principalmente negras, e publicá-los na internet.

“Já tinha escrito muito sobre sexo quando era jornalista, até que um dia decidi pesquisar sobre contos eróticos, mas de cara só encontrei coisas apelativas”, diz Monique, apontando o viés preconceituoso do algoritmo. “Mulheres já faziam trabalhos incríveis, mas a visibilidade era escassa. Vi que tinha um mercado que precisava melhorar”, conta.

A ferida que se transformou em combustível para escrever contos eróticos foi cravada no racismo e machismo. Enquanto palestrava sobre pautas raciais, Monique foi imobilizada por uma reflexão sobre a desumanização da mulher negra.

“Um homem branco me falou que a esposa dele não tinha ciúmes de mulheres negras. Aquilo me pegou de forma diferente, porque sempre fui amiga e mãezona. Pensei se era por isso, então, que as esposas dos meus amigos sempre me trataram bem? ”, recorda.

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Na reflexão, a escritora percebeu que sempre teve a essência desconectada de seu gênero e sua sexualidade. Por que não usar as palavras para subverter esse estigma? “Por mais que seja uma forma de organizar meus pensamentos e aliviar minha ansiedade, escrever me traz alívio, é meu lugar seguro”, declara a escritora, que vai lançar seu primeiro e-book gratuito, No limite da traição, pela Lilit este mês.

“Há questões muito particulares, como cor da pele, com a qual as negras vão se identificar, mas também mostro desafios com o corpo, a maternidade, a dificuldade de gozar, questões próximas a diversas mulheres. Quero que as leitoras percebam que merecem um lugar de destaque e prazer na vida delas”, diz Monique, que assina um conto exclusivo para CLAUDIA abaixo.

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Pela primeira vez, uma segunda chance

Ela levou horas para se arrumar. Queria parecer irresistível e, ao mesmo tempo, casual, como se não tivesse se produzido para ele. Os dois se encontraram em um bar concorrido. Ele tinha deixado a barba crescer. O cabelo estava aparado com um degradê na lateral feito com máquina três até a zero, conferindo-lhe um visual vintage, mistura de soldado com vilão dos anos 1920. O perfume era inebriante.

“Tudo isso para mim?”, ela quis saber. “Por você eu chorei durante meses, me perdi e esqueci o caminho até os lugares que me faziam feliz”, ele respondeu sem cerimônia. “Isso aqui é para nós, pelo que você merece e pelo que estou disposto a te oferecer.” Ela sorriu, imaginando-o vivendo pela metade, às custas das lembranças que partilharam juntos. Jamais confessaria, mas ela se sentiu igual.

Ele perguntou sobre as crianças. Ela queria ir direto ao assunto, questionando a razão do convite. Ele sugeriu um vinho antes da conversa. Drinque após drinque foram diminuindo a distância entre eles. A perna dele encostou suavemente nela, que não recuou. Ele usou uma desculpa qualquer para tocar gentilmente na pinta no ombro esquerdo dela. Logo percebeu os pelos eriçarem como se tentassem manter a sensação dos dedos frios por causa do copo de cerveja por mais tempo.

Em um movimento arriscado, ele colocou as duas mãos na nuca dela e a trouxe para perto dos seus lábios carnudos. Fez isso e parou, esperando que ela sinalizasse se poderia avançar. Ela olhou-o sorrindo maliciosamente. Sem dizer uma palavra, ele a beijou por minutos incontáveis. Beijava os lábios dela enquanto suas mãos a seguravam pela cintura. Mantinha os dedos abertos na tentativa de prender junto a si cada centímetro dela. “Me leve para outro lugar”, ela pediu quase sem fôlego.

Ao chegarem no andar dele, saíram do elevador de mãos dadas, em clima de primeiro encontro. Ele a deitou na cama, tirou os sapatos dela e beijou seus pés. Usou as mãos para lhe apalpar as coxas por cima do vestido, mas não a despiu.

Em vez disso, ergueu a roupa dela até a cintura. Tirou sua calcinha e voltou a brincar com todo corpo, desviando da vulva. Ela passou a sentir seu centro pulsar, pedindo por mais contato. Ele deslizou as mãos pela barriga dela, acariciou suas estrias, percorrendo as marcas da pele como quem lê poesia em braile. Ele a tocou afundando os dedos entre os grandes lábios. Sentiu que ela estava molhada, quente, pronta para ser penetrada. Provou seu sabor e sorriu, reconhecendo o aroma, a textura e o gosto que tanto lhe satisfazia.

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Ela quis retribuir. Ele pediu que ela apenas desfrutasse do que estava por vir. A resposta foi um longo suspiro. De fato, ela precisaria de todo ar possível para não perder o fôlego quando o gozo mais forte que já sentiu se aproximou. O jeito como ele a penetrou era absolutamente surpreendente.

Ele movia os quadris incansavelmente, enquanto jogava o peso do corpo sobre ela, fazendo seu membro mergulhar em suas águas profundas. Não era somente força, era o ritmo. Era a combinação entre a vontade de alcançar o clímax e o desejo de fazer perdurar aquela sensação arrebatadora.

“Quero gozar com você”, ele pediu. Ao mesmo tempo, passou a acariciar o clitóris dela suavemente enquanto usava toda sua força para entrar e sair de dentro daquele corpo totalmente entregue ao prazer. “Chupa meu pescoço”, ela sugeriu. Ele atendeu ao pedido mordendo-a, dando lambidas e cobrindo-a com sua saliva. Ela não teve tempo de avisar que iria gozar. E nem foi preciso.

A forma como se agarrou a ele enquanto tremia dos pés a cabeça era o sinal que ele precisava para liberar um urro gutural, seguido de um gozo ardente, pegajoso e quase dolorido tamanha a intensidade. Depois do sexo ficaram grudados em silêncio, presos no tempo e na tentativa de levar a sensação daquela noite para a vida real.

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