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Como as lives transformam a indústria da música no período de isolamento

Grandes nomes da indústria musical tornaram os vídeos intimistas gravados em casa enormes produções com lucro envolvido

Por Colaborou: Maria Clara Serpa
Atualizado em 21 set 2020, 10h25 - Publicado em 18 abr 2020, 13h00
Marília Mendonça em show
Marília Mendonça em show (Marília Mendonça/Divulgação)
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É quase impossível que você não tenha visto nenhuma transmissão ao vivo – as chamadas lives – de algum cantor que você gosta nos últimos dias. Desde o início das medidas de distanciamento social decorrentes da pandemia do novo coronavírus, em meados de março, muitos artistas nacionais e internacionais começaram a usar suas redes sociais para fazer shows dentro de suas casas. Essa foi a forma encontrada de não se afastar dos fãs e gerar entretenimento para os que estão confinados – até porque os eventos culturais foram os primeiros a ser proibidos pelas autoridades para evitar aglomerações. Entre março e abril, mais de de 8 mil shows foram cancelados ou adiados no Brasil, de acordo com a pesquisa Covid-19: impacto no mercado da música no Brasilelaborada pelo Data SIM, que reúne dados sobre o mercado brasileiro de música.

O que no início poderia ser uma maneira intimista de continuar o trabalho, ainda que sem remuneração, adquiriu proporções gigantescas com a live do cantor sertanejo Gusttavo Lima, em 27 de março. Ele foi o primeiro a elevar o patamar das lives com seu “Buteco em Casa”, uma grande produção com patrocinadores, equipe de luz, som e captação. Ele também optou por fazer a transmissão no YouTube, em vez de no Instagram. Desde então, diversos artistas brasileiros, especialmente os sertanejos, aderiram à modalidade, geralmente patrocinados por empresas de bebidas alcoólicas, e atingiram números altíssimos de visualizações. Marília Mendonça, por exemplo, chegou a 3,5 milhões de espectadores simultâneos em sua última live, no início de abril, superando o sucesso de Gusttavo Lima.

“Muitos escritórios e grandes agências do mercado artístico já anunciaram a redução de salários e até mesmo cortes em seu quadro de funcionários. Então, a adaptação dos shows para o formato de livestream, sendo essa uma forma de estarem próximos aos seus fãs e também uma nova forma de levantar recursos para sustentação de toda a estrutura do artista nesses meses sem shows”, explica o produtor e DJ Marcos Thorpe.

Como estão impossibilitados de seguir as turnês ou até de gravar músicas e videoclipes novos, essa foi a maneira que muitos músicos brasileiros encontraram para manter renda para si e suas equipes. Além disso, muitos desses shows online se propõem a divulgar instituições de caridade ou projeto sociais que estão combatendo os efeitos da Covid-19, estimulando os espectadores a doar. Em sua primeira live, Gusttavo Lima conseguiu mais de 500 mil reais em dinheiro para doação e a dupla Jorge e Mateus, que bateu mais de 3 milhões de visualizações simultâneas, arrecadou mais de 172 toneladas de alimentos e 10 mil frascos de álcool em gel. Já Marília Mendonça aplicou um QR Code na página da live para quem pudesse doar, ultrapassando 400 mil reais em arrecadação para o combate à doença.

Apesar do lado social, muita gente criticou a atitude dos sertanejos em transformar as transmissões ao vivo em mega produções e, assim, não seguir a recomendação de evitar aglomerações. Ao realizar produções com mais sofisticação, os sertanejos precisaram mobilizar equipe técnica para seus shows na internet. Uma imagem de bastidores da live de Jorge e Mateus mostrou pelo menos dez pessoas, fisicamente próximas, que seriam do pessoal de produção. Com isso, estariam contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de manter distância. A assessoria de comunicação da dupla informou que 18 pessoas participaram da produção do evento e que equipes foram divididas em dias e horários diferentes. “A equipe de cenário montou na sexta, a de som montou no sábado de manhã, e a de filmagem entrou no sábado à tarde e já ficou para a live. Não houve aglomeração. Toda a produção usou máscaras e luvas. Seguimos todas as normas recomendadas pelo Ministério da Saúde”, declarou em nota.

A estrela pop Anitta, que conta com diversos patrocinadores e campanhas vinculadas ao seu nome, foi uma das primeiras a se posicionar contra esse tipo de evento. “Não vou fazer. Se eu fizer uma coisa não produzida, consequentemente não vai ter muita gente assistindo e falando mal. Ainda não achei uma maneira de fazer um show legal em casa sem precisar de muita gente para produzir. Prefiro evitar”, disse ela em seu Instagram após ser questionada se não iria aderir ao movimento. Para manter o contato com os fãs, ela pretende continuar fazendo lives simples de treinos, aulas e mostrando seu dia a dia. Além disso, ela afirma manter os funcionários e produção com o cachê de seus patrocínios, publicidades, streams de músicas e visualizações no YouTube.

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Uma das primeiras dúvidas que surgiu depois do início das “super-lives” no YouTube foi o motivo de elas terem migrado para o site, e não se mantido no Instagram, como era mais frequente. O motivo é financeiro. No Instagram, por mais visualizações que a live tenha, é impossível ganhar dinheiro pela audiência. Já no YouTube, quanto mais visualizações, mais o artista recebe – os valores podem variar desde 25 centavos a 4,50 dólares (cerca de 20 reais) a cada mil visualizações. Além disso, a rede social de fotos também não permite transmissões muito longas e as lives dos artistas têm, em geral, mais de 4 horas de duração. A maior qualidade de imagem e som e a possibilidade de assistir ao vídeo na televisão também são pontos positivos do YouTube no objetivo de alcançar mais gente.

Além desse tipo de retorno, Marília Mendonça ainda contou com publicidade das Lojas Renner em sua última live, na sexta-feira (17), acompanhada dos sertanejos Léo Santana, Maiara & Maraisa e Zé Neto & Cristiano. Na ação, era divulgado desconto em compras em todo o site da rede. 

Internacional

Diferentemente dos artistas brasileiros, os cantores e bandas internacionais não aderiram às lives produzidas. Cantores como John Legend, Chris Martin e H.E.R optaram por produções intimistas, feitas com o próprio celular dentro de casa. O primeiro grande evento digital internacional será o festival One World: Together At Home, liderado por Lady Gaga, neste fim de semana. O evento é feito em parceria com a OMS e reunirá artistas, especialistas de saúde e diversas celebridades do entretenimento para arrecadar fundos de auxílio para combater a pandemia global. Haverá shows de grandes nomes da música como Elton John, Lizzo, Billie Eilish, Paul McCartney e uma participação de Anitta, que irá apresentar um dos artistas. 

Televisão

Com a impossibilidade de grandes produções e gravações, os canais de televisão estão reexibindo conteúdo. Mesmo com o aumento da audiência em telejornais e reality shows, as emissoras perceberam notaram ampliação do tráfego em canais virtuais, como streaming e YouTube. O crescimento das lives de artistas famosos também fez com que emissoras resolvessem entrar na onda. A partir deste sábado (18), a Rede Globo iniciará projeto de shows com artistas do porte de Ivete Sangalo e Roberto Carlos, gravados nas casas deles. Também no sábado, a Record irá transmitir o show da dupla Fernando e Sorocaba na televisão aberta e também em seus canais digitais.

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A funkeira Ludmilla, além de participar do projeto “Fome de Música”, junto com nomes como Alok, Wesley Safadão e Pedro Sampaio, no canal fechado Multishow, também lançará um novo EP em 24 de março. As seis músicas foram gravadas antes do início do distanciamento social e também serão uma forma de alimentar os fãs com música e manter o cachê da equipe nos meses sem agenda.

Artistas independentes

A situação para artistas independentes é, com certeza, mais complicada. Além de normalmente não terem cachês tão significativos, podem não ser acompanhados por produtoras e gravadoras e dificilmente conseguem monetizar seus vídeos. Com produções tão grandes acontecendo, é difícil para os artistas sem tanto poder midiático conseguir se sobressair. Ainda assim, fazer uma live é funciona para fidelizar o público e até chamar atenção de produtores para quem sabe obter novos contratos após a pandemia. Muitos também buscam oferecer outros tipos de serviço, como aulas online de música, por exemplo.

Em meio à crise da pandemia também surgiram projetos que buscam apoiar esses artistas, de vaquinhas a coletivos. É o caso do projeto Canto de Casa, que divulga as lives de artistas independentes em seu Instagram.

Todos esses acontecimentos recentes certamente terão um impacto enorme na economia do país, resultando em uma mudança de comportamento no mercado de eventos tanto para os frequentadores quando para os promotores. É bem provável que após essa crise estaremos diante de uma nova era para o consumo de música no mundo”, afirma o produtor Thorpe. 

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Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

 

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