Claudia Di Moura: “Não dá mais para falar de nós sem nós”
Atriz e empresária reflete sobre representatividade e diversidade no mercado audiovisual brasileiro
Impossível falar de Claudia Di Moura sem relembrar de sua presença marcante na televisão brasileira. Aos 59 anos, a atriz e empresária já deu vida a personagens femininas tão potentes quanto sua influência no ramo, embora seu coração esteja profundamente costurado aos palcos do teatro.
“Estar na televisão nunca foi uma primeira escolha, embora também nunca mantivesse essa porta fechada. A minha terra natal é o teatro, a minha nascente.”
Em entrevista inédita a CLAUDIA, a atriz comentou sobre a ascensão de pautas representativas no mercado visual, além de externar suas conexões com a arte e a ancestralidade, que juntas, podem facilmente ser descritas como uma herança única.
Nascida e orgulhosamente criada (como ela mesma descreve) em Salvador, Bahia, seu nome foi dado em homenagem à revista CLAUDIA que, no ano de seu nascimento,1965, completava o terceiro ano de existência.
“Meu pai mudou meu nome para Claudia a caminho do cartório por conta da revista (risos). Por aí você já imagina como era o meu pai: um homem visionário, à frente do seu tempo. Ele sabia que eu seria essa pessoa e que precisava ser uma mulher livre, potente e independente”, revela a atriz ao relembrar da figura paterna.
Ao longo de sua jornada na arte, Claudia vivenciou experiências marcantes nos palcos de teatro até chegar as extensas filmagens de novelas na TV Globo, onde encontrou grandes oportunidades, mas também obstáculos de uma indústria racialmente enviesada.
Permitir ser conduzida através do seu legado artístico a fez uma combatente assídua neste cenário, carregando consigo sua identidade e ancestralidade única.
“Eu sempre estive em busca de contar novas histórias e personagens que fossem intrigantes e que falassem do meu coração. Foi a partir daí que virei essa atriz empreendedora de si, pois comecei a perceber que eu precisava orquestrar minha própria dança, porque ninguém me chamava para dançar”, conta.
Seu primeiro papel na TV foi em 2018, na novela Segundo Sol, de João Emanuel Carneiro. No folhetim, Claudia interpretou a doméstica Zefa, uma personagem decisiva na trama da família Athayde, que logo caiu no favoritismo do público após desmascarar escândalos e descasos de uma família disfuncional perto da falência.
De lá pra cá, suas personagens têm ganho cada vez mais a sua identidade, que segundo ela mesma, são características indispensáveis em pautas de representatividade e inclusão no mercado do audiovisual.
“Sendo uma mulher afro-indígena, eu acredito que a matriz da questão sejam exclusivamente as narrativas. É preciso incluir cada povo em seu devido protagonismo, sejam eles quais forem. Não dá mais para falar de nós sem nós”, declara.
Representatividade para além das câmeras
Prova dessa representatividade estão em seus últimos trabalhos. Na série Luz, por exemplo, dirigida por Thiago Teitelroit e produzida pela Netflix, Claudia fez questão de exaltar e homenagear essa potência presente em suas raízes.
Interpretando a personagem Gá, uma pagé à frente da comunidade Kaingang, – a terceira maior do país – Claudia ficou responsável por viver a matriarca que acolhe e lidera espiritualmente a protagonista Luz, uma garotinha de 9 anos que busca por respostas sobre suas origens após se tornar órfã.
“Essa é uma série que fala de representatividade para além das telas. Existiu ali uma inclusão dentro e fora dos bastidores, e ter a oportunidade de estar inserida na cultura e cotidiano da terceira maior comunidade indígena do país foi um imenso privilégio”, revela Claudia.
A atriz ainda enfatiza que é através dessa mesma representatividade, que caminha a passos um tanto quanto largos na indústria , que ela deposita suas expectativas e esperança de um futuro ainda mais inclusivo na arte.
“Eu acho que o que falta é essa apropriação e vontade de derrubar esse sistema que acha que pode falar sobre nós e por nós. Claro que existe um avanço, eu acabei de fazer parte de uma série que 87% do elenco e de toda a produção era preta, mas isso ainda é só o começo. Isso é pouco para 500 anos de história”.
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