Policial e feminista, série francesa de sucesso estreia hoje no Brasil
Candice Renoir já está na oitava temporada na França, mas estreia nesta quarta (21) no Brasil. CLAUDIA conversou, exclusivamente, com os protagonistas
Candice Renoir é mãe de quatro filhos, acabou de se separar do marido e decidiu voltar para a Brigada Criminal de Sète, no sul da França, após ter passado quase uma década fora do trabalho.
Esse é o enredo central da série Candice Renoir, que já está na sua oitava temporada na França, mas que estreará nas telas brasileiras pela primeira vez nesta quarta-feira (21), às 21h, na AXN.
Ao retomar a vida profissional em uma posição de chefia, Candice terá que enfrentar vários desafios: se atualizar das novas tecnologias usadas por sua equipe, lidar com a forma como seus colegas de trabalho subestimam a sua capacidade e enfrentar o desdém do capitão Antoine, que, com uma mentalidade bastante machista, não consegue acreditar que uma mulher está ocupando o cargo que deveria, em sua opinião, ser dele.
Ao longo dos episódios, Candice mostra ser uma personagem altamente perspicaz, capaz de observar e analisar as pistas mais confusas, tal e qual uma detetive de grande experiências, com talento e qualidades únicas. Dessa maneira, a polícia francesa passa a contar com uma grande aliada na hora de perseguir assassinos, ladrões e golpistas.
Para saber mais sobre o que podemos esperar dessa produção que conquistou os franceses e bateu recordes de audiência – a última temporada foi assistida por 1/4 das televisões da França, de acordo com o LeBlogTVNews –, CLAUDIA conversou com Cécile Bois, que interpreta Candice, e com Raphaël Lenglet, que dá vida a Antoine.
Candice Renoir é uma série de grande sucesso na França e na Europa como um todo. O que vocês acham que foi essencial para esse sucesso?
Raphaël aponta para Cécile e responde: o sucesso de Candice Renoir recai sobre empatia da Candice e sobre o fato de eu ser um belo homem. (risos)
Cécile: Eu acho que Candice é uma série muito positiva. Existe uma boa energia nela, algo de muito benfazejo, ao mesmo muito sincero e que traz alegria a esses tempos sombrios que vivemos – não só pela pandemia, mas por conta de uma década que já vinha bem sombria. A série traz um pouco de frescor e divertimento à vida.
O que vocês esperam da recepção do público brasileiro sobre a série?
Raphaël: Eu não conheço as especificidades do público brasileiro, mas sei que na América Latina há a cultura das novelas. Nós não estamos exatamente neste formato. Nós temos mais uma abordagem de temas de sociedade, é uma série feminista, produzida e escrita por mulheres. Nós estamos no meio caminho entre uma novela e uma série. Eu acho que o público brasileiro e da América Latina em geral apreciará seguir essa série pela força do caráter e personalidade de Candice.
Cécile, a Candice, é uma personagem muito forte que, mesmo tendo dificuldades de adaptação e sendo subestimada pela sua equipe, ela não se intimida. Tudo isso está presente já no primeiro episódio. O que mais poderemos esperar da Candice?
Cécile: Podemos esperar tudo, já que ela é capaz de tudo. Quando ela entra na equipe, ela não tem muitas escolhas. Ela tem quatro filhos, não tem mais marido e ela precisa encontrar o seu lugar. Todos os personagens são amigos de Antoine, então ela tem todos contra ela naquele momento. Candice percebe isso muito rapidamente, absorve tudo e, nessa solidão – porque há realmente uma grande solidão nos primeiros momentos – ela permanece sendo ela mesma, qualquer que seja o julgamento e a repercussão sobre o seu percurso. E a partir do momento que essa mulher permanece a mesma, até na adversidade, ela é capaz de tudo. É o que vai acontecer.
E do Antoine? Eu pude ver apenas o primeiro episódio da primeira temporada, e nele o personagem subestima muito a capacidade da Candice e tem até certa implicância com ela. O que haverá de evolução nessa relação entre os dois personagens?
Raphaël: Há, no Antoine, uma figura de contestação. Ele implica com ela porque é mulher, porque ela veio de Paris e ela tomou o seu cargo. Então, há algo de machista e isso vai permanecer durante duas ou três temporadas. Há também um jogo de atração entre os dois, mas no início ele está decepcionado, frustrado, amargo e ele queria que o cargo dela fosse dele. Então há essa questão do poder e da hierarquia, mas há um registro de comédia e poder amoroso. Há ainda esse jogo de dominador e dominado e toda uma luta pela tomada de poder. E é interessante que a Candice evolui no mundo masculino, estruturado por uma hierarquia machista, na qual personagens femininos podem fazer pressão sobre Candice pela posição que ela ocupa. Até as mulheres estão descontentes com o fato de ela ter ocupado esse cargo. Então, isso faz com que a série seja extremamente moderna. É uma série que aborda assuntos fortes e importantes para a sociedade.
O que vocês encontraram de mais desafiador ao interpretar seus personagens? Como vocês se prepararam?
Raphaël: Sinceramente, nada. Eu estou mentindo na verdade. (risos) O Antoine é muito diferente de mim, muito calmo e muito reservado. Eu sou uma pessoa muito agitada, eu faço muitas brincadeiras. Então, essa calma, essa reserva é muito distante de mim, mas isso não me dava medo.
Cécile: Quando eu comecei Candice, eu estava saindo da minha segunda gravidez, eu já não trabalhava há um certo tempo, eu tinha alguns quilos a mais e tinha perdido a confiança em mim mesma. Então, ter um papel principal é muita responsabilidade e eu me questionei muito se eu seria capaz de impressionar o público sendo apenas quem eu era. Esse era o desafio. Convencer o público da credibilidade dessa personagem que estava fora dos padrões.
Cécile, você é mãe de duas crianças. Imagino que deva ter várias questões da vida da Candice com que você se identifica, como a dupla jornada com trabalho e maternidade. Poderia me contar um pouco sobre as características de sua personagem com as quais você se identifica?
Cécile: Nada com relação com o trabalho, porque a Candice sempre coloca o profissional na frente do pessoal. Ainda que eu esteja muito longe dos meus filhos quando eu estou gravando, porque os meus filhos estão no norte e eu estou no sul da França, eles ocupam um espaço enorme na minha mente. Eu sempre estou cobrando coisas deles, querendo saber como eles estão. Os pontos comuns que eu tenho com Candice são a questão da fidelidade, da cortesia e da empatia… Porém, a personagem da Candice é mais focada e eu sou mais aberta. Eu tenho uma mente mais aberta, eu aceito mais as coisas, mais os defeitos das pessoas do que a Candice. Eu tenho mais facilidade de falar das minhas diferenças com ela do que dos meus pontos em comum.
Raphaël, você está encarando o desafio agora de dirigir alguns episódios recentes da série. Como está sendo esse trabalho?
Raphaël: É um presente lindo que me foi dado pela produção. Os produtores vieram que essa ideia antes mesmo que eu a formulasse, era algo que eu nunca tinha ousado dizer que tinha vontade de fazer. Eu comecei nos primeiros episódios da sexta temporada. É algo que me empolga muito, eu nunca tinha tido a experiência como diretor, só tinha feito produções curtas e aqui temos um cenário grande, com uma produção grande. Mas tenho uma equipe muito profissional e pessoas ótimas ao meu entorno que me ajudam muito. Todos me apoiaram muito no início, me deram os fundamentos e agora estou rodando sozinho. É uma tremenda pressão, eu sofro muito, é um pouco masoquista, mas eu adoro.
Quais mensagens vocês acham que a Candice tem a dar para o público brasileiro, que está prestes a conhecê-la?
Raphaël: Se for uma mensagem pessoal, não votem em Bolsonaro. Mas isso é algo, evidentemente, que só envolve a mim. (risos) Eu acho que é uma série que coloca à frente valores de tolerância, de aceitação, é uma série feminista, que mostra que o feminino na hierarquia é possível.
Cécile: Acho que há uma mensagem universal que coloca à frente o feminino, que mostra que as mulheres têm os seus lugares no mundo e que nós não devemos duvidar disso. Eu recebo muitas cartas de mulheres que assistem à série. Eu me lembro de uma carta de uma mulher que me escreveu: “faz seis anos que eu não me olho no espelho. Eu engravidei, engordei muito, meu marido me deixou, ele me detesta, eu sou uma dona de casa e eu não me olhava há muito tempo. E depois de alguns episódios de Candice, eu disse que eu deveria me olhar no espelho, nua, e deveria aceitar o meu corpo, aceitar o meu lado feminino”. Então, Candice veio reparar a ferida dessa mulher. A série é uma espécie de medicina, uma composição da qual todo mundo pode encontrar algo para si, algo que possa ajudar essa pessoa a se assumir.
Assista ao trailer da 1ª temporada de Candice Renoir abaixo: