As jornalistas que investigaram “O Estrangulador de Boston”
História baseada em fatos reais virou filme protagonizado por Keira Knightley e Carrie Coon, que comentam sobre as personagens
Se você é do time que não perde nenhuma série ou filme (ou podcast!) sobre crimes reais, precisa assistir O Estrangulador de Boston. Escrito, dirigido e produzido por Matt Ruskin, o filme, já disponível no Star+, apresenta um surpreendente enredo baseado na investigação de um dos assassinos em série mais notórios do século 20 e as destemidas repórteres que investigaram o caso, Loretta McLaughlin (Keira Knightley) e Jean Cole (Carrie Coon).
Entre os anos 1962 e 1964, mais de dez mulheres, com idades entre 19 a 85 anos, foram assassinadas na região de Boston. Além de serem solteiras, outro ponto em comum foi o jeito que elas morreram: estranguladas e seus corpos colocados de forma provocante por um agressor misterioso que ficou conhecido como o “Estrangulador de Boston”. Tal comportamento acendeu um alerta para um possível caso de serial killer. E, apesar de o criminoso sexual Alberto DeSalvo ter confessado os crimes, não haviam provas físicas que o ligassem às vítimas na época.
Diferente de outras produções recém-lançadas do gênero, o diretor optou por contar a história do ponto de vista das duas jornalistas investigativas. Foram elas que bravamente assinaram as reportagens dos crimes, indo atrás de cada pista e até mesmo se colocando em risco no esforço para manter cumprir o papel da mídia na cobertura de tais eventos.
“O filme não é apenas sobre as matérias de Loretta, mas também sobre seu relacionamento com sua família e com Jean Cole durante o período em que trabalhou incansavelmente para cobrir a maior história de sua carreira”, explica Matt Ruskin. “Elas estavam trabalhando para manter as mulheres informadas em uma época em que o departamento de polícia era insuficiente. Ao mesmo tempo, as duas faziam malabarismo com o resto de suas vidas. Era importante mostrar no filme não apenas os seus comprometimentos com o trabalho, mas também os desafios pessoais e os obstáculos que elas encontraram em uma época em que não havia milhares de mulheres nas redações.”
Não é spoiler, porque são fatos reais: Alberto DeSalvo foi condenado à prisão perpétua por outra série de estupros e agressões sexuais, sendo esfaqueado até a morte na prisão anos após a sua condenação. Até hoje seguem as especulações em relação a ele ter sido ou não o único responsável pelos assassinatos em Boston.
As protagonistas
Em O Estrangulador de Boston, Loretta McLaughlin é uma repórter de lifestyle no jornal Record-American, de Boston, mas que sonha em trabalhar em projetos maiores. Na época, a editoria não era tão levada a sério, por isso jornalistas como ela eram descreditadas de suas competências – fora as ambições profissionais que eram limadas por uma cultura sexista na área. “Ela deseja cobrir histórias grandes, muito importantes, e isso não lhe é permitido quando nós a conhecemos”, explica a atriz Keira Knightley, que interpreta repórter. “Ela sente a frustração de não fazer aquilo que deseja.”
Mas Loretta não é uma pessoa facilmente dissuadida de perseguir seus objetivos. Quando percebe as manchetes sobre três mulheres distintas que haviam sido encontradas estranguladas, ela convence seus superiores a lhe permitir traçar o perfil das vítimas na esperança de descobrir se poderia haver uma conexão entre os crimes. A partir daí, Loretta conta com sua inteligência aguçada, sua força e instintos editoriais infalíveis em sua jornada para desvendar a verdade sobre os assassinatos que continuam acontecendo e aterrorizam as mulheres de Boston que temem por sua segurança.
“Essa é uma história terrível sobre a brutalidade da psique masculina e o quanto ela pode ser perturbada e horrível sob o ponto de vista de duas mulheres”, diz Knightley. “É uma história em ritmo acelerado bastante complicada de contar porque ela dá muitas voltas e reviravoltas.”
Além da missão de Loretta, o roteiro também mostra de que formas suas ambições profissionais geralmente conflitam com suas responsabilidades pessoais. Como mãe de três filhos no início da década de 1960, ela frequentemente se vê em desacordo com o fato das pessoas esperarem que ela coloque o bem-estar de seu marido e de seus filhos acima do seu próprio. “A história de Matt consegue passar a complexidade dos personagens enquanto conta uma história em alta velocidade”, comenta a atriz.
Ruskin acrescenta: “Loretta era uma repórter talentosa e motivada e também uma mãe devotada. Acredito que Keira se identificou com os desafios enfrentados pela personagem. Ela é esse talento extraordinário que sabe, em primeira mão, o quanto pode ser difícil equilibrar o trabalho e a família.”
No filme, a personagem encontra uma importante aliada em Jean Cole, que chega à redação após a fusão entre o Record-American e o Sunday Advertiser, ambos jornais de Boston. Jean tem um histórico de jornalismo investigativo e, apesar de ser formidável, seu estilo de trabalho difere perceptivelmente do estilo da colega.
“Jean sabe como jogar de acordo com as regras e obter o que precisa”, diz Carrie Coon, atriz que a interpreta. “Ela acredita que deve baixar a cabeça e fazer o seu trabalho, já que acima de tudo ainda é uma mulher. Ela considera as táticas de Loretta de forçar sua entrada nesses ambientes desagradáveis e contraproducentes, e não hesita em falar isso para Loretta.”
Ainda assim, as duas desenvolvem o respeito mútuo, trabalhando lado a lado em um campo dominado pelos homens. “Há também, é claro, o entendimento do que era ser uma daquelas mulheres em Boston”, observa Coon. “Elas estavam com muito, muito medo por sua segurança. Estavam recebendo ameaças de morte em casa. Jean já havia passado por isso apenas por cobrir uma eleição para prefeito mais cedo em sua carreira. Agora, ela estava recebendo ameaças de morte por ser uma mulher em um ambiente masculino.”
O Estrangulador de Boston estreia exclusivamente no Star+.