Conheça Alice Carvalho, um dos nomes mais promissores do audiovisual
Aos 27 anos, Alice Carvalho desponta como um dos nomes mais encantadores (e promissores) do audiovisual após o sucesso inegável na série Cangaço Novo
“Sempre foi Exu”: a frase dedicada à entidade religiosa, tatuada no pescoço da atriz Alice Carvalho, sintetiza a natureza perseverante de sua personalidade. Assim como o guardião espiritual inspira a ordem e a disciplina, são esses pilares, desenvolvidos diariamente por ela, que a colocaram em 2023 como uma das grandes promessas das artes cênicas. Sua personagem em Cangaço Novo, produção original (e nacional) do Amazon Prime Video, conquistou fãs em outras fronteiras — a série quebrou recordes de audiência a nível global.
Agora, aos 27 anos, ela se desdobra entre dois outros projetos, as filmagens de Guerreiros do Sol, aposta do Globoplay para o ano que vem, e Renascer, nova novela das nove que entra para a programação da Globo também em 2024.
Para conseguir dominar a onda de boas oportunidades, Alice conta que se agarra à espiritualidade e às pessoas que ama. “Minha conexão tanto com o candomblé quanto com meus irmãos, pai de santo e familiares é fundamental para a minha trajetória. Não teria como eu usufruir de momentos lindos sem eles. A força do desconhecido me aterra. Quando não estou me sentindo tão confiante para fazer uma cena, entrego a Exu e passo a confiar que tudo sairá da melhor forma. Este é meu ponto de ancoragem.”
É fácil notar o quanto Alice se entrega de corpo e alma ao ofício, realizando uma verdadeira exploração íntima para potencializar a própria arte. Tal postura, porém, já incluiu riscos. “Até o início da minha fase adulta, usava a atuação como uma válvula de escape. A arte me ajudou a organizar o que eu sentia internamente e foi uma verdadeira aliada na minha vivência com o TDAH [Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade]. Contudo, a partir do momento que passei a enxergar o que eu fazia como profissão, precisei virar essa chave na minha cabeça. Os processos criativos não poderiam substituir a terapia”, diz.
A partir daí, a atriz viu a necessidade urgente de transformar a análise em suporte primário, visando a sobrevivência de sua criatividade. “Esse entendimento foi imprescindível para eu estar onde estou hoje, pois meu caráter é profundamente imersivo em meus trabalhos. Tenho uma preparadora maravilhosa que, inclusive, me alertou sobre os riscos de derrubar os limites entre o profissional e o emocional. Da mesma forma que uma atleta tem um cuidado com a alimentação e a saúde do corpo, nós atores, atletas da emoção, precisamos zelar pela saúde mental por compartilharmos essa demanda de vasculhar o interno a fim de colocar as nossas obras no mundo”, reflete.
As palavras de Alice transmitem a sensação de estarmos escutando alguém com décadas de experiência, tamanha a sua autoconsciência e sabedoria. Grande parte dessa percepção, segundo a atriz, veio do desejo genuíno em seguir os seus instintos artísticos desde a primeira infância, nos teatros do Rio Grande do Norte (ela nasceu em Natal).
“Por ter uma enorme dificuldade de acesso, fui atrás de todas as oficinas [de atuação] que passavam pela minha cidade. Aos 15, realizei meu primeiro espetáculo. Fui trilhando uma trajetória autoral de experimentação. Nunca tive o intuito de me tornar uma grande dramaturga ou uma profissional amplamente vista. As coisas foram se apresentando para mim apenas por uma necessidade primária de atuar”, afirma.
E foi após uma série de projetos viscerais como diretora audiovisual e roteirista que ela recebeu o convite para uma audição em Cangaço Novo.
Mas a conquista responsável por impulsionar a sua carreira não veio de forma fácil: “Assim que fiz o teste, o Brasil parou por conta da pandemia. Fiquei um tempão sem ouvir falar do projeto. Quando retomamos as negociações, fiz mais uma série de audições. Quase fiquei com o papel de Dilvânia, a irmã que não fala. Não deu certo, e aí, passado um período, a Dinorah caiu no meu colo. Desde lá, nunca mais nos desgrudamos”, relembra.
Aliás, para ela, ter gravado a série em terras nordestinas é um progresso que não deve ser deixado de lado. “Pode soar clichê, mas a representatividade, inclusive por trás das câmeras, é fundamental para que a gente mude as coisas e veja mais gente como eu tendo oportunidades. Em Cangaço, foi lindo ver a equipe bater o pé e falar que, caso fôssemos falar do sertão, iríamos nos comunicar com os sertanejos através dos próprios sertanejos”, reforça. A série foi inteira rodada no sertão e sem o uso de chroma key.
“Era primordial que os atores nordestinos falassem por si. Quando contamos as nossas próprias histórias, fugimos dos arquétipos clichês tão perpetuados pela mídia tradicional. O melhor caminho para termos mais corpos diversos e mais pessoas com pensamentos diferentes é dar-lhes um microfone. Não existe outra saída. Devagarinho estamos chegando neste lugar. É um avanço irrefreável, até porque o público clama por abordagens mais verdadeiras. E para buscarmos a verdade, precisamos ir direto na fonte. Quem tem propriedade entrega verdade no que fala”, completa.
Com projetos grandiosos já traçados em seu caminho, é inevitável não pensar no que já passou. “O que você diria para a Alice de dez anos atrás?” Algumas reflexões e devaneios depois, ela responde, em tom emocionado: “Diria para ela confiar em seu caminho, pois cada coisa tem o seu tempo para desabrochar. Não seja tão imediatista, tudo vai dar certo. Fique tranquila, você terá amparo e não vai passar fome não, acredite”.