Do pão artesanal à culinária afetiva: a receita de sucesso da padeira Fernanda Almeida
Conheça a história da padeira que busca democratizar o acesso ao pão artesanal em Presidente Prudente, no extremo oeste de SP

Fernanda Almeida transformou em profissão sua paixão pela panificação. A padeira de 31 anos especializou-se na área e enxergou um mercado promissor para pães artesanais e de fermentação natural em Presidente Prudente, no extremo oeste de São Paulo, inaugurando com o sócio Gerbes Aguiar há quatro anos a mini-padaria artesanal Pão Nosso, no Bairro do Bosque, centro velho da cidade.
Com receitas de família e preços acessíveis que variam de R$ 5,00 a R$ 48,00, o local tornou-se referência na região, fazendo parte da Rota Gastronômica Pontal do Paranapanema do programa Sabor de São Paulo, criado pela Secretaria de Turismo e Viagens do Estado para valorizar a gastronomia de produtores locais.
CLAUDIA provou as delícias preparadas na Pão Nosso e traz no Dia do Padeiro, comemorado neste dia 8 de julho, a história inspiradora da padeira Fernanda.
Vocação

Formada em panificação e confeitaria há 10 anos, Fernanda buscou especialização em fermentação natural e longa fermentação em São Paulo e Rio de Janeiro. “A padaria foi um sonho que eu tive. Geralmente a pessoa estuda e daí vai ver qual área quer atuar. Eu já queria ser padeira, estudei para isso”.
Quando decidiu se dedicar ao negócio em Presidente Prudente – durante seis anos sob encomenda e, há quatro anos, em um imóvel de 1957 onde a Pão Nosso funciona de terça-feira a sábado – viu que havia um campo a explorar e conquistar.
“Em São Paulo, as padarias artesanais existem há mais de 15, 20 anos. No interior, sempre leva uns 10 anos para chegar. O público estranhou um pouco o pão italiano 100% de fermentação natural, por causa da casca mais grossa e uma leve acidez. É uma questão de ensinar as pessoas como consumir esse produto. Decidimos transformá-lo no carro-chefe e colocá-lo em 90% dos sanduíches do cardápio”, explica.
A tática deu certo, e pessoas de vários cantos da cidade vão até lá provar as delícias preparadas, com valores que buscam atender a todo tipo de bolso, como a cesta de pães na chapa que pode servir até três pessoas e custa R$ 18,00. Com algumas mesas e uma estante de livros que podem ser pegos emprestados, o local busca trazer o aconchego de um “quintal da vovó”, para comer sem pressa.

“A gente começou com as forças que tinha nos braços. Eu tinha R$ 28 mil pra investir na padaria quando a gente começou. É nada! Os fornos que eu tenho hoje em dia são mais caros que isso. Investi todo o dinheiro em estruturar a cozinha, a maioria investe no salão. A gente sonhou muito, quis muito”, recorda a padeira.
O nome veio do livro “O Pão Nosso de Cada Dia”, o primeiro livro de panificação que teve. “Quando colocamos o nome, pensei, ‘o pão é meu, sou eu que faço; o pão é seu, é você que compra; o pão é nosso, de todo mundo'”.
Cardápio e diferenciais

A inspiração do cardápio vem da memória afetiva de Fernanda, como as lembranças com o avô, Valdemar Soares Botelho, que morreu vítima da Covid-19. “Eu tive uma família que trabalhava com comida e cozinhava muito. Peguei todas as referências e trouxe um pouco para o Pão Nosso. A gente tem alguns pratos típicos, como o ‘cuscuz do biso’, que a gente fazia em casa todo domingo, de café da manhã. É aquele que o pessoal chama de mingau de cuscuz, com leite e açúcar”, lembra.
Os ingredientes vem de produtores locais, tendo como prioridade não usar produtos ultraprocessados ou pré-prontos. “Tudo é feito do zero da casa, como a nossa granola que leva, além de aveia, castanha-do-pará e castanha-de-caju, e o nosso iogurte”. As porções servidas são generosas. “Eu prefiro que saiam satisfeitos e levem um pedacinho embora, do que ficar com aquele gostinho de quero mais”.

A dedicação ao preparo também é um diferencial que os fregueses parecem ter valorizado. “O pão foi o primeiro alimento manipulado pelo homem, deu início à gastronomia. Hoje, está posto que padaria é pegar um pão pré-congelado, botar na modeladora e colocar para assar. Isso não é a profissão padeiro. Para mim, é realmente pegar a farinha, água, sal e o tempo, que é um ingrediente fundamental na nossa padaria de fermentação longa e natural, e realmente transformar esse produto em alquimia, uma comida ímpar, viva do começo ao fim, pois, depois que a gente come, continua viva no nosso corpo auxiliando na microbiota do estômago”, orgulha-se.
Planos
Fernanda revela que já chegou a trabalhar 32 horas seguidas para uma encomenda de casamento. Hoje, com mais estrutura e maquinário, tem 15 funcionários – 80% mulheres – e prioriza a saúde mental, com escalas 5×2 e folgas aos domingos e segundas-feiras, para que a equipe consiga curtir a família.
O menu está sempre em evolução, com novidades como o toast de pêssego com presunto parma, o pão integral com aveia e mel e o brioche de alho-poró com muçarela. A meta é trazer mais “brasilidade”, algo que Fernanda sente falta nas padarias convencionais. “Queremos pegar as bases francesa, italiana, espanhola e portuguesa e, no futuro, tentar construir uma base de panificação brasileira um pouco mais forte, trazendo mais para a nossa realidade”.

O imóvel ao lado foi adquirido e será usado para a ampliação, prevista para acontecer até o final do ano, abrigando a confeitaria voltada para doces de vitrine e boulangerie. Fernanda já recebeu propostas de transferir a unidade para um condomínio de luxo, mas recusou.
“Eu vim de uma infância mais simples, não tive muita estrutura. Para mim, trazer o pão para todas as classes é muito importante. Fico muito feliz de todas as classes terem acesso, das pessoas do condomínio de luxo virem aqui comer e também da margarida que faz a limpeza da rua buscar pão conosco semanalmente. Como eu vou sair daqui, de onde todo mundo me conhece, onde a gente consegue ter essa democratização do pão?”.
Pão Nosso – Mini Padaria Artesanal
Onde: Rua Dr. José Foz, 178, Bosque, Presidente Prudente (SP)
Quando: Terça a sexta-feira, das 09h00 às 18h00 | Sábado, das 09h00 às 14h00.
Cardápio e informações: no site ou Instagram
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