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50 Best: premiação da gastronomia acontece pela 1ª vez no Brasil

Em entrevista à CLAUDIA, representantes do Latin America’s 50 Best Restaurants contam o que esperar do evento que acontece em novembro, no Rio de Janeiro

Por Marina Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 29 nov 2023, 12h05 - Publicado em 14 nov 2023, 07h32
No ano passado, a cerimônia do Latin America's 50 Best Restaurants aconteceu na cidade mexicana de Mérida (50 Best/Divulgação)
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Em uma edição histórica, a lista dos Latin America’s 50 Best Restaurants será revelada durante cerimônia no Rio de Janeiro, no dia 28 de novembro. Anteriormente realizada na Cidade do México, Bogotá, Lima, Buenos Aires e Mérida, a premiação finalmente chega por aqui em 2023 com sede no Copacabana Palace, apenas para convidados.

“Historicamente, a cultura da gastronomia como objeto de estudo técnico foi bastante eurocêntrica por séculos. Por consequência, os principais guias mundiais também. Então, é um trabalho de muito esforço que vem sendo feito pelo ranking ao longo de sua história para descentralizar e distribuir a votação de forma igualitária por todos os continentes. Trabalho desafiador, mas que tem dado grandes resultados – e rápidos”, resume Rosa Moraes, presidente que representa o Brasil na publicação geral, a The World’s 50 Best Restaurants.

O restaurante 'A Casa do Porco', de Janaína Torres Rueda e Jefferson Rueda, levou o primeiro lugar da premiação em 2022
O restaurante ‘A Casa do Porco’, de Janaína Torres Rueda e Jefferson Rueda, levou o primeiro lugar da premiação em 2022 (50 Best/Divulgação)

E não é só na localização que o Brasil tem se destacado neste ano. No início de outubro, a chef brasileira Janaína Torres Rueda foi anunciada como a vencedora do prêmio Latin America’s Best Female Chef 2023 – título que elege a melhor chef mulher da região. Janaína, que é responsável por empreendimentos como A Casa do Porco, em São Paulo, estará presente na capital carioca para uma homenagem durante a celebração.

“O Rio de Janeiro oferece uma paisagem gastronômica vibrante, que exemplifica a filosofia do 50 Best de mostrar a diversidade e profundidade do cenário culinário da América Latina. Além disso, é claro, é uma cidade conhecida por sua capacidade de festejar”, nos contou em entrevista William Drew, diretor de conteúdo da premiação.

Além dos melhores restaurantes da América Latina, a premiação reserva outros títulos adicionais a serem anunciados em novembro: como melhor sommelier, chef confeiteiro, entre outros.

Rosa Moraes, representante do Brasil na publicação, e William Drew, diretor de conteúdo do Latin America's 50 Best
Rosa Moraes, representante do Brasil na publicação, e William Drew, diretor de conteúdo do Latin America’s 50 Best (Latin America's 50 Best/Divulgação)
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Lançada em 2013 para celebrar a gastronomia dos países latino-americanos, a premiação é uma vertente da tradicional The World’s 50 Best Restaurants, que nomeia os melhores restaurantes do mundo desde 2002. A seguir, leia a entrevista completa com os representantes da premiação: 

CLAUDIA: Como foi se tornar representante do Brasil numa publicação tão relevante para a gastronomia mundial?

Rosa Moraes: Eu vejo como uma grande missão, talvez uma das mais importantes que tive até hoje: a de contribuir para divulgar e disseminar a riqueza da gastronomia brasileira mundo afora, para além das tradições que sempre fizeram a fama da nossa cozinha. Feijoada e caipirinha são símbolos potentes, mas é como se fossem a ponta de um iceberg que até pouco tempo atrás ainda era desconhecido globalmente.

Como representante do Brasil, meu objetivo é que sejamos reconhecidos, de forma mais profunda e ampla, por nossos ingredientes tão preciosos, saberes ancestrais, criatividade e inovação técnica – e pelos criadores por trás da obra, que são os profissionais de altíssimo gabarito que temos à frente das cozinhas de norte a sul e de leste a oeste do Brasil.

Essa missão também se estende nacionalmente, olhando nosso país das fronteiras para dentro. Somos um território de dimensões continentais, então uma das minhas premissas é estimular um intercâmbio constante e cada vez mais intenso de ideias e experiências entre os profissionais de diferentes regiões. Que conheçam o trabalho uns dos outros, que se prestigiem, que se aproximem.

Junto com a educação de qualidade, que foi a primeira bandeira que levantei e minha outra grande missão de vida, entendo que uma identidade gastronômica sólida e perene se constrói justamente nessas redes e contatos. E é comovente ver essa sinergia acontecer.

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Rosa Moraes, presidente para o Brasil do The World's 50 Best Restaurants
Rosa Moraes é presidente para o Brasil do The World’s 50 Best Restaurants (Fabiana Kocubey/Divulgação)

“Esse movimento de valorização do que é local e originário é muito forte hoje nessa região do planeta e conecta as tendências da cozinha latino-americana como um todo.”

Rosa Moraes, presidente do Brasil no 50 Best

– Apesar do Brasil sempre se manter bem posicionado na lista, nunca levou um primeiro lugar. Como você enxerga isso?

Rosa Moraes: Historicamente, a cultura da gastronomia como objeto de estudo técnico foi bastante eurocêntrica por séculos. Por consequência, os principais guias e rankings mundiais também.

O Latin America’s 50 Best Restaurants tem apenas 10 anos – é relativamente recente, se pensarmos no todo. Então é um trabalho de muito esforço que vem sendo feito pelo ranking ao longo de sua história para descentralizar e distribuir a votação de forma igualitária por todos os continentes. Trabalho desafiador, mas que tem dado grandes resultados – e rápidos.

O Brasil conquistar um primeiro lugar é questão de tempo, ao meu ver. Porque não nos faltam talento, competência, profissionalismo, dedicação e pensamento de vanguarda. Prova disso é que duas brasileiras foram eleitas as melhores chefs do continente consecutivamente: no ano passado, a Manu Buffara foi nomeada Latin America’s Best Female Chef pelo ranking; agora o título de 2023 acaba de ser anunciado e é nosso de novo – a Latin America’s Best Female Chef, segundo o Latin America’s 50 Best Restaurants, é Janaína Torres Rueda, do restaurante A Casa do Porco.

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– Quais diferenciais e peculiaridades você vê na gastronomia brasileira em relação aos outros países da América Latina?

Rosa Moraes: Na verdade, vejo mais elementos comuns entre o Brasil e outros países da América Latina do que diferenças. Claro que há aspectos culturais e de terroir que variam, mas todos dividimos algumas peculiaridades, como o passado de colonização, a sabedoria dos povos nativos, a escravidão e a influência das ondas de imigrantes, por exemplo.

Após passarmos por todas essas camadas históricas, que fatidicamente transformaram nossas cozinhas no que são hoje, percebo que, assim como outros países do continente, o Brasil está em um momento de muito foco no resgate de ingredientes nativos, da proximidade com a terra e com os produtores. Esse movimento de valorização do que é local e originário é muito forte hoje nessa região do planeta e conecta as tendências da cozinha latino-americana como um todo.

– O que você acha que podemos esperar dessa edição tão histórica, sendo a primeira no Brasil?

Rosa Moraes: É um momento importantíssimo para nossa gastronomia. Todos os olhares do mundo estarão voltados para o Rio de Janeiro e para o Brasil, então vai ser uma oportunidade valiosíssima de mostrarmos a cara da nossa mesa – aliás, as inúmeras facetas que ela tem.

Mais do que isso, a premiação do Latin America’s 50 Best Restaurants vai arrastar uma multidão nacional e internacional de críticos, especialistas, chefs e profissionais do setor, que obviamente vão aproveitar a passagem para viajar e conhecer outros lugares do Brasil. Isso é um presente para nosso mercado gastronômico como um todo, mas também para o turismo, o comércio. É uma ocasião de mostrar o potencial do Brasil como destino de turismo gastronômico, unido a toda nossa riqueza cultural e natural.

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William Drew é diretor de conteúdo do 50 Best (50 Best/Divulgação)
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“A cidade oferece uma paisagem gastronômica vibrante, que exemplifica a filosofia do 50 Best de mostrar a amplitude e a profundidade do espaço culinário da América Latina.”

William Drew, diretor de conteúdo do 50 Best

– Como foi feita a escolha do Rio de Janeiro para sediar a próxima edição?

William Drew: Estamos encantados de realizar o evento e a cerimônia de premiação do Latin America’s 50 Best Restaurants no Brasil pela primeira vez na história da premiação, em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro. A cidade oferece uma paisagem gastronômica vibrante, que exemplifica a filosofia do 50 Best de mostrar a amplitude e a profundidade do espaço culinário da América Latina, e mal podemos esperar para reunir a comunidade gastronômica nessa bela cidade. É também, claro, uma cidade conhecida por sua capacidade de festejar – e o Latin America’s 50 Best Restaurants é muito mais uma celebração do que uma competição!

– Além do reconhecimento do Latin America’s 50 Best Restaurants, que outros anúncios e inovações podemos esperar em 28 de novembro?

William Drew: A comunidade culinária da América Latina está ansiosa para se reunir novamente presencialmente e estamos animados em trazer esse incrível grupo de pessoas para o Rio de Janeiro. Embora eu não possa revelar nada antes de 28 de novembro, posso dizer que anunciaremos uma série de prêmios especiais com alguns indivíduos e estabelecimentos incríveis, estamos ansiosos para comemorar muito em breve. A noite de premiação também acontecerá no icônico hotel Copacabana Palace, um cenário adequado para um momento tão importante.

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– Como você percebe a importância do prêmio para o mercado gastronômico, especialmente após o período pandêmico?

William Drew: Os prêmios são mais importantes do que nunca após o impacto devastador da pandemia, particularmente no setor de hospitalidade. A América Latina tem sido um bastião de excelência na cena gastronômica global há muito tempo e agora é a oportunidade perfeita para celebrar este legado, juntamente com o otimismo inabalável da região e a resiliência contínua no contexto de uma pandemia particularmente longa. A lista e os eventos do 50 Best reúnem pessoas em um espírito de celebração e colaboração, inspirando novas ideias, gerando buzz em torno do setor de restaurantes e, em última análise, impulsionando o fluxo de negócios.

– Como você tem trabalhado para manter a relevância do ’50 Best’?

William Drew: Um dos principais fatores que contribuem para manter o 50 Best relevante é a forma como nossas listas são geradas. Tomando o Latin America’s 50 Best Restaurants como exemplo, o ranking é uma reflexão direta dos votos coletados de 300 membros de nossa Academia de Votantes. Esses júri anônimo inclui críticos relevantes, chefs, restaurateurs, jornalistas de alimentos/restaurantes e gourmets bem viajados, todos especialistas no mundo da comida e bebida. Mais de 25% do júri são renovados a cada ano, para garantir que os votantes permaneçam atuais e relevantes.

Continuamos a fornecer um guia confiável e dinâmico para os comensais sedentos de novas experiências gastronômicas em toda a América Latina e além. Ao fazer isso, esperamos facilitar ainda mais o gastroturismo e a gastrodescoberta, o que por sua vez ajuda a abrir o mundo e suas diversas culturas para uma maior compreensão mútua. Nesse sentido, nosso objetivo é ajudar a promover uma mudança positiva no mundo por meio da comida.

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