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Maquiadora, consultora e pesquisadora de beleza, fundadora do Liceu de Maquiagem.
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Precisamos mudar o discurso sobre ideal de beleza

Sabemos que a imagem da mulher branca jovem é tida como o padrão inalcançável — mas quando isso começou e como mudar?

Por Vanessa Rozan
13 nov 2023, 09h32

A essa altura você já entendeu que beleza e pele branca andam de mãos dadas. Não sou eu que estou dizendo, é a história. Todos os registros até o início do século 20 traziam como bela a pele clara e jovem. Quando a cosmetização da beleza começou a virar mercado, no meio do século 19, surgiram inúmeras águas de beleza e pomadas que tinham o objetivo de manter a pele das classes abastadas sempre lisa, clara e juvenil. Isso estava bem amarrado com o papel da mulher branca (da elite) da época, acabada a Revolução Francesa e com o surgimento do novo estado — Rousseau desenhou em letras garrafais onde Sofia devia estar: dentro de casa, garantindo a alegria de Emilio.

O padrão de beleza da mulher branca só mudou quando os movimentos feministas começaram buscar igualdade de direitos civis, como o direito ao voto, por exemplo, o que desembocou em mudanças profundas na moda e na beleza.

O corpo ficou mais livre para se movimentar, mais atlético, mais magro e também mais bronzeado. Uma demarcação bem desenhada de peles hedonistas que aproveitavam a vida exterior, contrapondo à tez super alva da mulher contida no interior da casa, ideal nos anos 1920. Câmaras de bronzeamento e óleos surgiram para garantir que mulheres brancas pudessem seguir a tendência. A verdade é que a beleza só era permitida para a mulher branca.

Era ou ainda é? Foi só na terceira onda feminista que, junto com uma grande mobilização do movimento negro e com a entrada de mulheres negras na academia, ficou registrado pela primeira vez a frase “Black is Beautiful”, colando dois continentes de ideias até então completamente separados no mundo ocidental: beleza e negritude.

Enquanto isso, no livro A História Social da Beleza Negra, Giovana Xavier compartilha como mulheres negras foram atravessadas por inúmeros anúncios e produtos para o embranquecimento da pele ao longo do século 20 e o quanto isso estava atrelado às possibilidades de vida.  Estava ou ainda está?

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Quantos estudos comprovam a diferença de salários e oportunidades de trabalho da mulher negra versus a mulher branca e até mesmo versus o homem branco? No meio do meu processo de doutoramento, cruzei com um anúncio do sabonete Pears, publicado em 1899. Ele mostra um capitão de navio com seu uniforme branco impecável lavando as mãos com o produto da marca britânica enquanto o texto explica que o fardo do homem branco é a virtude da limpeza para os cantos escuros dos novos continentes.

Apenas entre 2010 e 2020 que, com as redes sociais, tivemos espaços conquistados por influenciadores que começaram a questionar o mercado

Essa mensagem se repetiu em diversos anúncios que batiam na tecla de que civilização e higiene eram capazes de clarear (corpos e mentes) dos colonizados. Alguns deles eram bem “didáticos”, mostrando um antes e depois do uso do sabonete nos povos das colônias e nos escravizados, fortalecendo a ideia de que o colonizado é o selvagem e é aquele que precisa da limpeza, do controle do corpo e do seu embranquecimento. 

Foi em uma construção secular que o selvagem virou o outro, um outro que tem outra cor de pele.  Eu fui longe demais no tempo e no espaço neste texto, mas trago algo da minha vivência. Eu me lembro bem que quando comecei a maquiar mal existiam negras nas campanhas das marcas nacionais e internacionais, assim como não existiam produtos que alcançassem tons de pele para negras claras e retintas. 

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No Brasil de mais de 50% de pardos e negros, a beleza e seus produtos só se encontravam em campanhas de modelos brancas de olho claro. Era comum que elogiassem uma mulher negra pelos traços eurocêntricos que ela possuía ou que permitissem uma negra desfilar (mas nunca na campanha da marca), desde que ela se parecesse quase branca: nariz fino, lábios carnudos e olhos amendoados. 

Apenas entre 2010 e 2020 que, com as redes sociais, tivemos espaços conquistados por influenciadores que começaram a questionar marcas e falar sobre pluralidade. Essas discussões dentro da indústria da beleza não aconteceriam se não houvesse um movimento ativo necessário para colocar o padrão em cheque. Ainda há muito o que avançar, mas espero viver para ver a mudança. 

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