O POUSO: a sensação de arrebatamento na exposição de Basquiat
Saber transformar inquietações, medos, loucura em forma, em conteúdo, em expressão é cura, é fluxo, é prana
Arrebatada…. essa é a sensação que tive – e que particularmente amo sentir quando a ARTE propicia – ao sair de uma exposição do artista Jean-Michael Basquiat.
Fui assim de última hora, antes de pegar o avião e deixar NY, cidade que amo e que foi minha casa nos últimos anos. Havia uma sensação de que tinha ali algo para acrescentar no meu usual mergulho em mim. E corri para ver. Somente 1 hora e meia de experiência nessa exposição/instalação e pronto, plaft! Paixão, tristeza, revolta, tesão, inquietação… Tudo me dominou.
Centrei-me, precisava andar rápido para, nesse turbulento vôo interno, não perder o vôo real que me esperava.
Jean-Michel Basquiat, grafiteiro, artista plástico neo-expressionista, nova-iorquino, negro, jovem e morto aos 27 anos, com obras avaliadas em 120 milhões de dólares!
Um raio de luz, inquieto, louco, ativista, genial e lindo! O que mais reverbera dentro de mim é a dicotomia do trabalho dele, que choca de tão simples e infantil e de tão, mas tão profundo, no mesmo pedacinho de papel dos seus rascunhos.
Como é possível ser tão louco e tão são?? Vejo-me nele, vejo-me muito, vejo você e nós todas, todos.
Saber transformar inquietações, medos, loucura em forma, em conteúdo, em expressão é cura, é fluxo, é prana. Conectar com essa verdade conturbada interna e ser capaz de organizar e servir aos outros, fez para mim o sentido do que é o êxtase, a “virada de chave”, sabe?
Sinto nessa experiência uma arte simples e bruta no ponto de saída, no desenho quase rabiscado, no murmurar de um canto no alívio, de um corpo dançando em conexão e êxtase. Tive a uma quase certeza que arte e vida são a mesma coisa; todas nós, todos nós somos artistas! Se a arte em si imita a vida, então por que raios complicamos tanto quando se trata principalmente da vida? Por que não usamos nossas inquietações a nosso favor, como o artista e sua obra? Por que não fazemos algo com nossa loucura, ao invés de lexotans e rivotris? Adoraria ter a resposta, mas só tenho perguntas. Por que estamos tão encaixotados, abafados, sufocados, nessa mesmice de extremos?
Martelando, pergunto-me o que esperamos para tomar as rédeas com as cores e pincéis que nos são possíveis (e impossíveis) para pintar a tela da realidade que queremos instalar em nós mesmos e na criação da nossa experiência aqui nessa dimensão ? (uiii)
Constato a sombra que nos habita. Os medos e loucuras nos são úteis, dizem tanto sobre as mensagens da nossa alma e apagá-los com amônia, certamente, nos fará perder o nosso voo de jornada até essa dimensão, e isso seria muito desperdício.
Escolho, re-esboçar e re-começar, todos os dias, ainda mais, inspirada em Basquiat, que tinha entre tantas inquietações, uma certeza: fazer do seu pouso nessa Existência um belo acontecimento.