As relações que nos definem
A construção de quem somos passa por uma combinação entre a visão que temos de nós, a forma como outros nos veem e como as relações acontecem
Quem é você? Você já parou para pensar sobre quem você é? Você é a mesma pessoa para todo mundo? As pessoas te descreveriam da mesma forma?
Na vida adulta desempenhamos vários papéis. Somos filha, mãe, esposa, mulher, amiga, chefe ou funcionária. São tantas funções que às vezes falta ar (e quase sempre falta tempo). Um papel acaba se sobrepondo ao outro, por mais que tentemos equilibrar todos os pratos. Mas quem somos verdadeiramente?
De acordo com Esther Perel, psicoterapeuta que admiro por ser uma profunda conhecedora das relações humanas, nossa história pessoal é uma co-criação. Somos todos uma combinação de como nós nos enxergamos e como as outras pessoas nos enxergam.
Somos moldados pelos relacionamentos que temos, que podem ser uma fonte de felicidade ou uma fonte de estresse. “Somos criaturas sociais e a qualidade dos nossos relacionamentos determina a qualidade da nossa vida,” diz Esther.
A forma como eu converso com uma pessoa é uma consequência de como ela me ouve. E a recíproca é verdadeira. Se chego falando alto, me impondo, dificilmente a pessoa vai realmente me ouvir. E, se sei que não vai me ouvir, dificilmente chego tranquila, falando manso.
Com a minha mãe eu falo de uma forma, com meu filho de outra e com minhas amigas mais próximas de outra. Para minha mãe posso ser uma pessoa paciente, para o meu filho uma mãe autoritária, e para minha amiga uma companhia bem-humorada. Ainda que eu seja reconhecida de formas diferentes, todas essas pessoas são eu.
A armadilha das redes sociais
Enquanto as redes sociais nos aproximam de muitos – até de pessoas com as quais, em outra época, já teríamos perdido o contato – também são fonte de bastante angústia.
Ainda que todos saibamos que não há um relacionamento perfeito, sofremos muita pressão para aparentar que tudo está correndo muito bem em nossa vida. Perfeito com a família, com os amigos e com a nossa vida financeira. É quase impossível não se sentir inferior, menos completa, menos bonita, menos viajada, menos saudável, menos apaixonada, menos bem-sucedida.
O que Esther propõe é que olhemos mais para dentro e menos para fora. Em vez de gastar energia se lamentando ou buscando viver uma verdade que não existe, precisamos investir nosso tempo em cuidar e dar atenção a quem está do nosso lado, nos ajudando a construir quem nós somos.
Somos criações de nós mesmos
É importante saber que temos parte nesse reconhecimento. A forma como o outro me vê é uma criação conjunta. As ações e reações – palavras, gestos e comportamentos – ao que nos acontece forjam as nossas relações. “Somos o que criamos juntos, somos muitas vezes a consequência do que as pessoas provocam em nós”, afirma a psicoterapeuta.
A melhor parte desta descoberta é saber que está em nossas mãos sermos pessoas melhores a cada dia. A chave para conseguir isso é melhorar a qualidade dos nossos relacionamentos, refletindo sobre como agimos com o outro. Se conseguirmos mudar nossas ações e reações, sendo mais cuidadosos (e carinhosos) com as palavras, estaremos cuidando das pessoas que nos cercam e de nós mesmos.
Se somos produto dos nossos relacionamentos, quanto melhor eles forem, melhor nós seremos.