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Sofia Menegon

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Sofia Menegon é feminista, idealizadora da podcast Louva a Deusa e consultora em relacionamento e sexualidade
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O primeiro date do meu marido com “outra”

Eu o incentivei e pedi que cancelasse, nessa ordem, pelo menos dez vezes no mesmo dia

Por Sofia Menegon
Atualizado em 23 set 2022, 12h50 - Publicado em 1 set 2022, 08h42
casal
Abrir uma relação de quase 8 anos é sobre sentir um pouco de tudo ao mesmo tempo e desejar não sentir mais nada. (iStock/ThinkStock)
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As coisas nunca são uma coisa só. Aliás, abrir uma relação de quase 8 anos é sobre sentir um pouco de tudo ao mesmo tempo e desejar não sentir mais nada. É como saltar no vazio, presa pelos tornozelos por uma corda elástica. A gente chega pertinho do solo e logo é puxada para as alturas. Esse vaivém persiste por tempo demais até que, talvez, com sorte se estabilize. Mas não há certezas.

O primeiro final de semana depois de abrirmos a relação movimentou tudo aquilo que estava estagnado. Baixamos os aplicativos mais conhecidos e nos jogamos “na pista”. Era empolgante. Queria atualizar o app a cada 2 minutos para descobrir os matches.

Será que eu ainda podia ser desejada? Tantos anos fora do mercado do flerte me deixavam insegura. Como se flerta hoje em dia? Como criar vínculo com outras pessoas, estando casada? Coloco ou não na descrição que estou em um relacionamento não-monogâmico? 

Do outro lado da história, eu voltava a olhar para o meu parceiro de tantos anos com o mesmo apetite dos primeiros meses de namoro. Sentia ciúme e curiosidade. O queria como nunca. Foi provavelmente o final de semana em que mais nos amamos, em que mais conversamos e mais sentimos tesão um pelo outro. Parecia que havíamos finalmente encontrado a melhor solução para o casamento em crise.

Mas a queda é livre. Eu não me interessei por ninguém. As conversas iniciais no aplicativo não progrediram. Ele, para o meu desespero, marcou logo dois encontros com mulheres muito interessantes e deixou mais alguns em stand-by. A primeira delas era vegana como eu, bissexual como eu, feminista como eu, não-monogâmica como eu. 

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Eles se encontrariam em um restaurante que eu amava. Eu o incentivei e pedi que cancelasse, nessa ordem, pelo menos dez vezes no mesmo dia. Nos intervalos do trabalho, batia na porta dele para dizer que estava muito feliz pelo date. Pouco tempo depois, o chamava para falar que não daria conta. Foi assim até poucas horas antes do encontro, que nunca aconteceu, porque eu não suportei.

Decidimos, então, sair nós dois. Nos acolhemos comendo uma massa deliciosa, num jantar em que tudo que se ouvia eram os talheres batendo no prato e suspiros profundos que denunciavam nossa completa ausência. 

Já não havia mais tesão, curiosidade, ansiedade ou êxtase. Nos vimos presos pelos tornozelos, por uma corda elástica que cessou o movimento. Nem perto do chão, nem nas alturas. Estávamos presos no limbo, sem a menor ideia de como sair de lá.

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Entendi, ali, que era preciso desacelerar, respirar e recalcular a rota. Não se abre uma relação do dia para a noite. É preciso de uma sequência de saltos livres para que sair do solo se torne habitual. É preciso pegar o gosto pelo frio na barriga que antecede, inevitavelmente, cada queda. É preciso seguir saltando.

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