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Sofia Menegon

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Sofia Menegon é feminista, idealizadora da podcast Louva a Deusa e consultora em relacionamento e sexualidade
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Meu afeto ama “outra” vegana

Meu plano era me vincular, me apaixonar, me entregar a afetos sem que houvesse o controle das relações pautadas pela exclusividade. E foi o que eu fiz

Por Sofia Menegon
12 jan 2023, 10h36
relacionamento aberto
Não sou a pessoa da vida dela. Sequer sou a única vegana. Que bom. Na mesma medida em que dói, alivia saber que quem eu amo é amada por outro alguém que olha pro mundo com doçura. (Nancy Nguyen/Unsplash)
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A escolha pela não monogamia é um caminho sem volta. Pelo menos, nesse instante, é como sinto para mim. Não é da minha índole provar da liberdade para, então, regressar às amarras. Tomar conhecimento daquilo que me aprisiona e, ainda assim, permanecer. E isso significa, muitas vezes, atravessar estradas espinhosas e desconhecidas.

Eu escolhi a não monogamia. Foi uma decisão alicerçada por anos de estudo, múltiplas conversas com especialistas, amigas, pessoas não monogâmicas e em inúmeras sessões de análise. Ao contrário do que clama meu coração sagitariano, essa escolha não aconteceu por impulso ou do dia para a noite. Mas navegar pelas nossas águas não é uma ciência exata. Aliás, trata-se de um outro saber que talvez pouco tenha de científico em sua prática cotidiana.

Meu plano era me vincular, me apaixonar, me entregar a afetos sem que houvesse o controle das relações pautadas pela exclusividade. E foi o que eu fiz. Saltei. Salto livre, sem paraquedas, com um desejo profundo de, na aterrissagem, encontrar um enorme colchão. Mas se entregar é também um voto de fé. Apaixonar-se é como performar o louco do tarô, que pisa no precipício sem sequer olhar para baixo. 

Eis que, ainda tomada pela tempestade de volúpia, idealizações e afeto, frutos da paixão, descubro que ela ama “outra” vegana. Não, não é uma “outra” qualquer. É uma vegana, como eu. Outro alguém no mundo que se importa com o que eu me importo e que ama quem eu amo. Verdades bonitas demais, mas que penetraram meu coração como um punhal pontiagudo. “Vegana? Precisava ser vegana?”, indaguei-me. 

Eu não queria ser só mais uma. Não queria dividir os mesmos restaurantes, jantares, conversas. Tenho paúra de ser óbvia. E aí é que mora minha maior obviedade. Somos óbvios em não querer ser mais do mesmo. Estamos todos em busca desse título de “especiais” na vida de alguém, no trabalho, na história. Desejamos um lugar único no mundo, ao mesmo tempo em que queremos tanto pertencer e nos misturarmos à multidão.

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Doeu. Viver e se relacionar, com frequência, dói. Eu não sou a única. Não sou a pessoa da vida dela. Sequer sou a única vegana. Que bom. Na mesma medida em que dói, alivia saber que quem eu amo é amada por outro alguém que olha pro mundo com doçura. Me acalenta saber que essa mulher fascinante com quem eu me relaciono ama outras mulheres igualmente fascinantes. Alegro-me com a ideia de que essa troca entre elas ecoe em mim e que eu também cresça com essa relação concomitante. 

Talvez, “a outra” dessa história não seja a vegana, mas todas as mentiras que ouvi sobre o amor. A vegana, não. Ela é alguém que não conheço, mas que faz morada indireta no meu coração. De quem sinto ciúme, inveja, raiva, mas também um imenso desejo de que seja feliz. Alguém que amo sem saber quem é, porque o amor atravessa, transborda, multiplica e inunda.

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