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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.
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Acabou o hype? A diversidade de corpos na moda sumiu (de novo)

Se há algumas temporadas as passarelas mostraram um avanço na diversidade nos castings, as desta estação deixaram lacunas

Por Renata Brosina
18 nov 2023, 09h11

A moda parece um eterno “morde e assopra”. Quando você percebe que existe (finalmente!) um movimento favorável às transformações de mercado que influenciam a sociedade como um todo, num piscar de olhos, tudo volta ao que era antes. 

Essa temporada de Verão 2024 é exemplo de alguns regressos — se isso se deu graças às estreias de novos nomes na direção criativa de algumas grifes, não há como comprovar. O desapontamento está em torno de um discurso que parecia consistente e bem resolvido, mas perdeu sua força na estação: a diversidade de corpos. 

Há décadas a indústria é questionada pelo culto à magreza e às medidas padronizadas. As mulheres reais, por sua vez, seguiam essa mentalidade de procurar se encaixar dentro de tais padrões estéticos — e, com isso, surgiram diversos distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia. Até os anos 2000, com todo fervor da tendência de cintura baixa, era necessário que quilos e centímetros estivessem dentro do “aceitável” pelos castings. A partir de 2012, essa tradição começou a perder força. A consequência da mudança, sem dúvida, teve impacto direto no comportamento feminino, que passou a questionar a necessidade de pertencer aos tais padrões. 

Um dos passos mais marcantes da época foi a aposta em Ashley Graham, que estreou com seu corpo curvilíneo em campanhas de grandes marcas norte-americanas e abriu espaço para outros nomes plus size ganharem visibilidade. Aos poucos, as capas de revistas começaram a respeitar  belezas  e shapes diversos. Por meio dessa reflexão, que deixava de ser restrita apenas ao grupo seleto que acompanhava as passarelas, a mensagem sobre valorizar a pluralidade avançou de forma massificada.

Colagem com modelos plus size
Anos atrás, as marcas deram passos inicias na ampliação da diversidade nos castings (Colagem/Catarina Moura/CLAUDIA)

Antes de alcançar a base da pirâmide, a manifestação de inclusão e representatividade ocupou cenários imprevisíveis. Na era pós Lagerfeld, a diretora criativa Virginie Viard elegeu a modelo Jill Kortleve, também conhecida como Jilla Tequila, como um dos principais rostos da Chanel durante a temporada de Inverno 2020 — e segue até hoje na maison.

Entre as casas italianas, há boas surpresas nas labels que não flertavam com a possibilidade de explorar a inclusão de uma forma genuína. A Versace, por exemplo, foi uma que conquistou o olimpo da moda por meio da sensualidade e construiu sua história a partir de mulheres com belezas inspiradoras (e inalcançáveis), como Cindy Crawford, Naomi Campbell, Linda Evangelista e Christy Turlington. Donatella, porém, optou por incluir na sua apresentação de Verão 2021 a modelo Precious Lee, que também estampou a campanha da mesma estação e segue firme ao lado da marca para essa estação. 

A Dolce & Gabbana, por sua vez, trouxe Ashley Graham para o seu show de Verão 2024 e foi a responsável por apoiar a catarinense radicada em Londres Karoline Vitto no seu primeiro desfile durante a Semana de Moda de Milão. O programa Supported by Dolce & Gabbana possibilitou que a estilista desfilasse sua coleção composta por tamanhos fora do tradicional sample size. Quem abriu a passarela? Ashley Graham, de novo ela, seguida pela modelo brasileira Rita Carreira, conhecida por falar abertamente desta questão no cenário nacional. 

Já na Ferragamo de Maximilian Davis, Paloma Elsesser foi a escolhida para cruzar a passarela, a bordo de um longo verde esvoaçante. Antes de desembarcar em Milão, Palomija, seu apelido carinhoso, desfilou para Micheal Kors, Altuzarra e Eckhaus Latta. Na sequência da semana de moda italiana, Paloma foi vista na Balenciaga, marca que, desde a entrada de Demna Gvasalia no cargo de direção criativa, investe em modelos não convencionais, ou seja, pessoas reais. 

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Com tantos exemplos fortes, por que apontar essa falta de representatividade de corpos? Ao todo são quatro capitais de moda, com centenas de desfiles acontecendo, com coleções que costumam variar entre cinquenta e duzentos looks. Isso significa que há espaço para abraçar a diversidade, mas, nesta estação, a conta não fecha. Os rostos, também, são os mesmos. Por mais que Ashley, Paloma, Jill e Precious Lee sejam mulheres deslumbrantes que merecem seu espaço, quantas outras ainda ficam de fora? Ainda não é o suficiente, certo?

Quando digo que, no passado, já tivemos uma presença maior dessa representatividade, acredito me apegar à Gucci de Alessandro Michele. Lembro bem da sua estreia e da sequência de temporadas em que o diretor criativo italiano utilizou da visibilidade da grife para lançar questionamentos sobre padrões de beleza na passarela — naturalmente, a moda se aproveitou disso de forma positiva. Durante seus quase oito anos de casa, ele investiu forças em causar estranhamento em um ambiente que não era comum ver “gente como a gente” nos holofotes. 

No entanto, após a troca de estilista, sendo responsabilidade de Sabato de Sarno ou não, o que vemos é a volta dos padrões, de corpos magros e dos exaustivos anos 2000. A cereja do bolo? A campanha da Gucci Valigeria, com as peças emblemáticas de viagem da marca, é estrelada por Kendall Jenner. Sim, a modelo magra do clã Kardashian-Jenner, que já foi fotografada por grande parte da indústria. Ou seja, nada novo de novo.

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