Por que Karl Lagerfeld foi tão importante para a moda?
Saiba mais sobre a trajetória do estilista, um dos nomes mais importantes da moda contemporânea e diretor criativo das grifes Chanel e Fendi.
Karl Lagerfeld faleceu na manhã desta terça-feira (19), em um hospital de Paris – internado desde segunda (18), as causas de sua morte ainda não foram divulgadas.
Diretor criativo das grifes Chanel e Fendi, e também dono de sua própria marca homônima, Karl foi um dos designers mais icônicos dos séculos XX e XXI, além de trabalhar como fotógrafo, escritor e se consolidar como empresário visionário e incansável, com forte capacidade de se reinventar.
A notícia de seu falecimento provocou comoção em grandes personalidades da moda, que prestaram uma série de homenagens nas redes sociais.
Nascido na cidade de Hamburgo, na Alemanha, em setembro de 1933, Karl Otto Lagerfeld era filho de um empresário sueco com uma vendedora alemã de lingeries. Entrou para o universo da moda após se mudar para Paris, onde se formou em desenho e história, e acabou conseguindo um emprego de assistente do estilista Pierre Balmain, ao vencer um concurso de design, na categoria “casacos”, em 1955 – de acordo com o New York Times, Yves Saint Laurent também estava na competição, e acabou vencendo na categoria “vestidos”.
Lagerfeld continuou como assistente de Balmain por mais três anos, quando entrou para a maison Jean Patou. Em 1958, pela Patou, Lagerfeld – que na época usava o nome de Roland Karl – apresentou sua primeira coleção de moda, fortemente criticada pela mídia.
Após trabalhar para a Jean Patou por cerca de cinco anos, Lagerfeld decidiu seguir como freelancer, criando para outras importantes grifes como a Tiziani, Krizia, Ballantyne, Charles Jourdan e a Chloé, onde permaneceu por dez anos, virou diretor criativo e ganhou reconhecimento da imprensa de moda da época. Nesse meio tempo, na década de 60, Karl entrou também para a Fendi, reinventou a marca e continuou como diretor criativo até o dia de sua morte.
Foi apenas em 1983 que Karl Lagerfeld assumiu o comando da Chanel, com a importante missão de manter vivo o legado deixado por Gabrielle (a ‘Coco’) Chanel, que havia falecido em 1971. Como cabeça pensante da alta-costura da maison, Karl fez história: impediu que a marca fosse à falência e foi responsável por deixá-la contemporânea, sem perder a essência.
Os desfiles da Chanel não tinham o objetivo de mostrar apenas novas criações na passarela, mas eram um show à parte, muito por conta dos cenários-ostentação pensados por ele – um supermercado lotado de produtos com o logo da marca, uma praia completa, uma manifestação fake… o que não faltava era criatividade.
“É com profunda tristeza que a CHANEL anuncia o falecimento de Karl Lagerfeld, Diretor Criativo da CHANEL Fashion House desde 1983. Um indivíduo criativo extraordinário, Karl Lagerfeld reinventou os códigos da marca criados por Gabrielle Chanel: a jaqueta e o terno CHANEL, o pequeno vestido preto, os preciosos tweeds, os sapatos de dois tons, as bolsas acolchoadas, as pérolas e bijuterias. Em relação a Gabrielle Chanel, ele disse: ‘Meu trabalho não é fazer o que ela fez, mas o que ela teria feito. Uma coisa boa sobre a Chanel é que ela é uma ideia que você pode adaptar a muitas coisas’. Uma mente criativa e fértil com imaginação infinita, Karl Lagerfeld explorou muitos horizontes artísticos, incluindo fotografia e curtas-metragens. A CHANEL se beneficiou de seu talento para todas as campanhas de branding relacionadas à Moda desde 1987. Finalmente, não se pode referir a Karl Lagerfeld sem mencionar sua capacidade de retórica e auto-zombaria”, diz trecho do comunicado oficial da morte de Lagerfeld, publicado no perfil oficial da Chanel, no Instagram.
Karl foi, ainda, responsável por ajudar a alavancar a carreira de importantes modelos das últimas décadas, suas “musas”, começando por Inès de la Fressange e passando por nomes como os de Naomi Campbell, Linda Evangelista, Cindy Crawford e Gisele Bündchen.
Curioso, extremamente criativo e conhecido por não ter medo de falar o que pensa, Karl tinha um estilo pessoal um tanto quanto caricato, marcado pelo rabo de cavalo baixo, pelos óculos de sol usados diariamente e pelas luvinhas de couro, que deixavam as pontas dos dedos à mostra. Com o tempo, essa “mistura” fez com que o designer superasse o status de “estilista” e se tornasse sua própria marca, de modo que parcerias exclusivas com lojas tipo fast fashion, exposições e até uma edição da boneca Barbie em sua homenagem fizeram parte de seu vasto e memorável currículo.
Karl criou figurinos para filmes, coleções exclusivas para artistas do calibre de Madonna, e também trabalhou como fotógrafo, sendo responsável por clicar importantes capas de revistas, como a edição da V Magazine que tinha Mariah Carey como destaque.
A partir de agora, quem assume o posto de diretora criativa da Chanel é Virginie Viard, diretora do estúdio de design de moda da marca e braço direito de Lagerfeld desde 1987.