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@fabianesecches escreve sobre cinema, literatura e psicanálise.

Dor e humor em Fleabag

Uma leitura psicanalítica de Fleabag, série inglesa em que dor, amor e humor se entrelaçam

Por Fabiane Secches
9 abr 2025, 18h00
Confira a coluna de despedida de Fabiane Secches
Em sua coluna de despedida, Fabiane Secches reflete sobre como Fleabag revela a luta de uma mulher para sobreviver a perdas (Pinterest/ Brandinh's Gallery/Reprodução)
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Fleabag, série inglesa criada e protagonizada pela ótima Phoebe Waller-Bridge, se move num terreno movediço em que o humor está interligado à dor. Conforme os episódios se desenrolam, percebemos que a ironia e o cinismo da personagem são defesas de uma mulher que está tentando sobreviver a perdas irreparáveis.

Entre o riso, a comoção e o constrangimento, a série é, mais do que tudo, uma narrativa sobre a perda — e sobre as estratégias (nunca suficientes) de sobrevivência que se constroem em torno dela.

A protagonista sem nome se dirige à câmera como quem cria um furo na realidade: é como se falasse com quem assiste à série, mas vamos nos dando conta, aos poucos, que esse diálogo, mais para um monólogo, se dá principalmente com si mesma. Desde o primeiro episódio, nós, espectadores, nos tornamos cúmplices de um pacto de intimidade — aquele que ela parece não conseguir firmar com ninguém mais.

Aqui, esse recurso, chamado de quebrar a quarta parede, é um artifício que serve muito bem para acompanhar uma mulher cindida. Como escreve a psicanalista Elizabeth Roudinesco, o sintoma é aquilo que liga e desliga o sujeito de sua própria história.

Para a psicanálise, no luto, o sofrimento não se dá apenas a partir daquilo que se perde, mas também da impossibilidade de nomear essa perda.

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Em Fleabag, a morte da mãe e da melhor amiga da protagonista — pivôs de toda a trama — representam um núcleo traumático em torno do qual tudo se organiza.

A perda é algo que não se resolve, apenas se desloca. O sexo, as ações impulsivas e os relacionamentos disfuncionais: tudo em Fleabag parece um circuito de repetição que a princípio não leva a qualquer elaboração, mas sim à reinscrição da falta.

A personagem só encontra uma interrupção nesse ciclo ao se deparar com a figura de um padre nada comum, interpretado com brilhantismo por Andrew Scott. O padre, com sua escuta atenta e sua percepção sensível, começa a movimentar peças no mundo interno da protagonista. A tensão entre o desejo e a proibição se encena não apenas na figura desse padre, mas na própria relação da protagonista com o amparo e o desamparo: “eu quero alguém para me dizer como viver minha vida”, diz ela — uma frase que soa tanto como súplica.

Mas Fleabag não é uma história de redenção aos moldes da jornada do herói, nem a protagonista tem qualquer coisa de heroína. O que a série nos oferece, com muita competência, é uma espécie de contato com a dor das perdas sofridas e um certo trabalho desse luto a ser realizado para que a vida possa, de alguma forma, seguir adiante.

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Talvez o gesto mais significativo da protagonista resida em sua despedida final à câmera: ao renunciar ao nosso olhar cúmplice, ela parece abraçar tanto a solidão inerente à existência quanto os laços possíveis, com todas as suas limitações – como se vê em suas relações com a irmã e o pai. É essa jornada, essa travessia subjetiva e incerta, que define o percurso de Fleabag.

Há em todos nós uma falta irremediável, e nela reside a possibilidade de criar e recriar a vida. Fleabag é um retrato às vezes engraçado e outras enternecedor de uma mulher ávida por vínculos, mas que muitas vezes os repele. E talvez seja por isso que a série produza tamanha identificação: para existirmos, precisamos nos confrontar com nossa história e, com graça e dificuldade, tentar reinventá-la.

Esse é o meu texto de despedida da coluna Pausa. Aqui, como a protagonista da série, me despeço dessa câmera para encontrar outros caminhos e olhares. Muito obrigada por acompanhar!

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