Crônica de um Jabes qualquer
Uma ofensa gratuita, um print e uma crônica sobre o delírio coletivo da autoestima masculina

Domingo, um dia ensolarado. Jabes levanta. E, ao invés de ir para a missa, beber uma água, um café coado, comer um pão com manteiga, Jabes entra num perfil de uma mulher desconhecida. Logo, eu: Martchela.
Entra, além do meu perfil, nos meus stories. Aleatoriamente. Sem ter sido provocado. Ou seja, do absolutamente nada. Me escreve as seguintes mensagens: “relaxada, uma verdadeira baranga.”
Jabes é desprovido de beleza. Tal qual minha indignação quando li a matéria de que apenas 3% dos homens brasileiros se acham feios. Jabes com certeza faz parte dos outros 97%. Aqueles que se acham lindos, detentores do poder e da régua universal da autoestima e beleza feminina.
Jabes, provavelmente, não sabia que eu sou piadista, humorista, escritora — e que tenho prints. Mandei ele refletir, apenas por um minuto, sobre a tal da autoestima delirante masculina. A epidemia silenciosa que faz homens aleatórios acharem que podem azedar o domingo de uma mulher que está ali, apenas existindo. Feliz. Bronzeada. De bolsa nova.
Mas o que Jabes não contava é que aqui, nessa timeline, mora também uma cronista atenta. Que transforma dor em piada, ofensa em viral, e o comentário dele num monólogo inteiro sobre masculinidade fracassada.
Me pergunto: o que faz um homem, num domingo ensolarado — quando os passarinhos estão cantarolando, o sol tá brilhando, a manteiga derretendo no pão — decidir entrar num perfil aleatório de mulher, fuçar stories e deixar uma ofensa gratuita?
A resposta é simples: delírio coletivo. Uma legião de homens que confundem falta de terapia com opinião. Eles acham que são críticos de moda, peritos em skincare, especialistas em dignidade feminina, tudo sem nunca ter hidratado o próprio calcanhar.
E, enquanto Jabes volta pro sofá, pra coçar a barriga, mexer no dedão do pé e comentar na foto de outra mulher, achando que tá abalando, eu tô aqui: escrevendo, rindo, sendo publicada, lida, aclamada. Bonita, sim. Relaxada, talvez.
Rodrigo Hilbert jamais entraria no meu Instagram num domingo falando: “Vou ofender essa menina que está cada dia mais gostosa na academia.”
Pedro Pascal nunca me mandou DM, mas se mandasse, ele poderia. Pedro Pascal tem passe livre até pra me xingar (xinga mais que eu gosto… desculpe, me passei aqui), que eu agradeço.
George Clooney nunca reclamou das minhas roupas.
Então eu te pergunto: por que os Jabes da vida, esses 90 e tantos por cento de homens que se acham lindos sem nunca terem olhado pra dentro, acham que podem nos diminuir?
Mas eles não sabem de uma coisa: a minha autoestima também é delirante. E eu sou muito mais engraçada do que eles.
Obrigada, Jabes. Você não me abalou. Você virou crônica – logo, engajamento.
E amanhã tem mais.
Com carinho,
A baranga mais gostosa que você já stalkeou.
A sua sempre Martch.
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