Vamos viver essa vida?
O anda e para nunca fez tão parte de nossas vidas como nos últimos tempos. A colunista Kika Gama Lobo desabafa sobre esse dilema com o tempo e os embrolhos
Quando isso tudo vai acabar? Aliás, vai acabar? Leio que teremos mais 1 ano. Depois mais 3. Pesquiso que a gripe espanhola ficou quase 20 anos para ser debelada. Hoje temos mais ciência porém mais mobilidade. O vírus é vip e circula pelos 4 cantos do mundo como se fosse um jetsetter. Fudeu. Pelas minhas contas não visto roupa de sair há 15 meses.
O scarpin deu fungo; a calca de camurça mofou; a bolsa chic que custou os olhos da cara não deu nenhum rolé. Fico assustada com esse novo normal. A gente já falou que seríamos seres humanos melhores mas tô achando que nem humanos somos mais. Todo mundo deprê. Todo mundo enterrou alguém. O noticiário com Henry’s, facadas escolares, mísseis em Israel, CPI atrapalhada da vacina não ajuda.
Ah, tem a J Lo que traiu o marido com o ex marido. Tem a missa do Paulo Gustavo que foi um benção pra muita gente. Mas e aí? Cadê o normal? Cadê a vida da gente? Eu tenho um novo calendário mental. Tenho 56 anos e só penso na festa de 60 porque é um tal de cancela-adia-prorroga que me enche. A filha fez 21 anos e só teve um bolinho merreca.
A sogra ia comemorar 90 anos e ficou naquele sorriso amarelo de quem sabe que não pode perder muito tempo. Eu preciso operar as varizes mas como é que me interno com tamanha contaminação? E aquela grana que estava juntando pra ir pro Marrocos? Já gastei arrumando o gás do banheiro, dando uma de-mão na pintura da sala e pensando em arrumar o toldo da varanda. Que mudança de planos né? Ao invés de Casablanca, vou de tinta branca.
Tá tudo tão raso, chato, em compasso de espera. E assim sigo meus dias lambuzada de álcool gel, mascarada e querendo que julho chegue logo para a minha segunda dose da Aztrazeneca. E lambe os beiços Kika que é isso que temos pra hoje!