Um Beirute, por favor
Reproduzo aqui uma lista de predicados sobre o Líbano na tentativa de minimizar a dor dos parentes dos atingidos pela explosão
Tudo pelos ares. Eu, assistindo àquela explosão em 4K, alta definição na minha TV, pensei: vou colocar minha cadeira de sol na sombra, me recolher ao meu mundinho e dar um tempo da realidade brutal desse novo anormal.
O Covid, o isolamento, as feridas políticas, as chagas pessoais – tantos dramas dentro de dramas – que há uma autofagia de sentimentos. Nem sei mais pelo que sofro. Se pelas vidas que se vão em respiradores superfaturados, pela falta de trabalho e falência de um Rio de Janeiro que agonizava e agora morreu de vez, pelos meus insucessos e erros que insistem em invadir minha mente e acender minha insônia ou pelo mundo que arde na fogueira do inferno da irresponsabilidade de alguns afetando a vida de todos.
Nunca fui ao Líbano, mas amo a cultura árabe, sobretudo essa mais light. Namorei um muçulmano, passei um Ramadã em jejum, tenho vários kombolóis em casa: pronto, já me sinto mezzo islâmica. Cresci ouvindo que Beirute é a Paris do Oriente e como trabalhei para o estilista Elie Saab, tive a certeza que ele bebeu na fonte da elegância, da sofisticação, da cultura expoente para criar aqueles vestidos de noiva, de festas, de vida – cheios de feminilidade, glamour e desbunde.
E quando uma tragédia assim acontece, eu mergulho um pouco no universo atingido e, pelo zap, recebi uma lista de predicados sobre o Líbano que reproduzo aqui na tentativa de minimizar a dor dos parentes dos falecidos, mutilados, queimados que vão ter que mudar de pele para conseguir seguir em frente.
“O Líbano tem 18 comunidades religiosas, por lá se falam três línguas: árabe, francês e inglês. Circulam 40 jornais diferentes diariamente e o nível de alfabetização é de 99%. 40% da população libanesa é cristã (é a porcentagem mais alta do mundo árabe). Há 1 médico por cada 10 pessoas. (na Europa e América há 1 médico por cada 100 pessoas) O nome do Líbano aparece 75 vezes no Antigo Testamento. Beirute foi destruído e reconstruído 7 vezes (por isso é comparado com uma fênix) Há 4,5 milhões de libaneses no Líbano. Há cerca de 14 milhões de libaneses fora do Líbano e no Brasil a comunidade libanesa é imensa. O país foi ocupado por mais de 16 países ao longo dos séculos (Hititas-Assírio-Babilônio- Persas- o Império Romano Bizantino- a Península Arábica-os Cruzados, além da França, Síria e Egito). No Líbano, podemos ver mulheres de burca e de biquíni. Come-se maravilhosamente bem. Byblos é a cidade mais velha do mundo que ainda existe”.
Por tudo isso, acabei de fazer um Beirute na minha sanduicheira. Comi feliz, na esperança de ver aquele povo erguido novamente. Alá, meu bom Alá!
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