Luto empresarial
Quem é jovem, mesmo diante dessa crise, tem um horizonte pela frente. Já os mais velhos, murcham
Uma querida amiga, quase sessentona, achou que tinha contraído o corona, mas sua dor por todo o corpo, a febre de 38 graus, os olhos pesados, tinha outro nome: o fechamento de seu escritório na Barra da Tijuca e a diminuição drástica de seu business.
Eu sei que estamos atravessando a maior crise econômica do mundo e, no Brasil, aliás – no Rio – a queda livre é intensa. Mas pensa comigo, quem é jovem, mesmo agonizando, tem certo horizonte pela frente. Já os 50/60/70 e, quiçá, oitentões, quando deparados com a finitude de seus negócios, murcham. Demos o maior duro, passamos por muitas fases, atravessamos várias moedas, vimos muitos planos econômicos, enfrentamos tantas barras pra morrer na praia. O Brasil não é para principiantes, já dizia Tom Jobim.
E foi olhando aquelas caixas fechadas, os móveis desmontados, os arquivos vazios nas fotos enviadas pela amiga através do zap que me deu um banzo, por entender que, para se reinventar (palavra que as maduras mais usam), ela vai ter que ter uma força hercúlea, não pode ter a nostalgia maléfica de se remoer com o que poderia ter feito de diferente para não falir e, sobretudo, não ficar com os áureos tempos na memória para – através da régua do tempo – sacar que envelheceu e seu tempo passou. Será? Mas eu também sou testemunha que essa amiga petropolitana, carioca de vida, é porreta. Sempre rebolou, sempre sacudiu a areia e seguiu. E, por mais incoerente que seja, foi a dificuldade que a fez se mover para frente, avante para guerrear contra a pobreza e a falta de oportunidade. Da escassez nascia a fartura.
Temos muito em comum. Eu sou uma fênix ipanemense. Estou sempre renascendo e, escrevendo este texto, lembro-me do fechamento da Atitude Comunicação – minha agência que durou 22 anos – e meu longo luto até virar youtuber, palestrante e colunista da maturidade.
E aí me vem à cabeça um amigo, Mauro Wainstock, empreendedor nato, mais de 50 anos, que trata de assuntos modernos no campo empresarial, levando os maduros a experimentarem a criação de experiências no mundo do trabalho “prateado” – de startups, incubadoras, empresas-nano à recolocação na longevidade. Confio em você Priscila, não desanime. Não é fácil. Mas é um novo recomeço nesta gangorra chamada vida.