É de rasgar o coração. Amei muito ouvindo Gal Costa. Nós, maduras, somos de uma geração desbundada. Foi maconha, biritas e muito, muito sexo. Ainda bem que não tinha essa neurose + patrulha das redes sociais e pudemos existir livremente. Tombos homéricos também. Gal tinha essa graça de ser livre, solta e invadir espaços com sua voz total. Eu sempre adorei cantá-la. Gostava de seu estilo nada a ver comigo. Nunca fui Novos Baianos, detestava aquele décor mega hippão, mas me encantava com a boca vermelha, aqueles cabelos selvagens. Essa coisa assumidamente bissexual também sempre me atiçou. Somos fluidas, mas a educação, os bons costumes e a caretice de uma era podavam isso. Não à ela. Deve ter frequentado muitas camas, vagado por muitas noites, beijado muitas bocas. Essa insensatez que me fez dizer vários eu-te-amo. Muitos errados. Quem liga? Gal me inspirou a ser alguém mais inteira. Principalmente quando escutava ela cantar “respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minha risada”. Luva pra mim. Meio Janis Joplin, Nina Simone, Carmem Miranda… Ela era muitas. Como nós, mortais. Carreira rica, participou dos melhores momentos da MPB. Tocou com os Deuses e se fundiu a eles. Não amei a performance dos seios nus. Prefiro a Gal do início. Essa coisa Pode vir… Madura, também adoro. Virou chic. Dos seus trapinhos, vestiu-se fashion e adicionou uma aura de elegância trazida pela idade. E a serenidade? Adorava sua economia de palavras no viver e sua profanação de letras no palco. Interpretações belíssimas. Essa tigresa vai fazer falta. Faltam-me palavras. Sobram lembranças. Obrigada, Gal.