Desinfluencer
E nessa de virar Influencer da maturidade me pego sendo tentada a repetir algumas fórmulas de sucesso
Saco cheio de look do dia. Tutorial de maquiagem. Treino fit. Comida magra. Viagens previsíveis. Bolsas caras. Já tinha esse jeitão blasé desde menina. Quase não rio em comédias. Gosto de dias nublados. Sim, sou carioca, mas não tenho marquinha de sol. Aliás não sou de unanimidades. Sempre fui gauche. E nessa de virar Influencer da maturidade, me pego sendo tentada a repetir algumas fórmulas de sucesso.
Posta mais foto sua! Mostra sua família! Tem pet? Não vai dar spoiler sobre sua nova viagem? E eu bocejo. Acho chato bisbilhotar a vida alheia para saber se a colega comprou a bolsa do ano; viajou para o destino cool ou fez aquele procedimento estético lacrador. Claro que faço Publi. E quero fazer cada vez mais. Claro que posto fotos minhas. Claro que gostaria de estar indo passar uma semana em Paris em um hotel branché, mas quando rola ou foi a mão de Deus ou um trabalhinho real.
Mas aqui viajo mais pra Niterói do que para o Marrocos. Sou a influencer da vida real. Já fui massacrada por falar insistentemente de boletos, incentivar a contratação de um advogado e de um professor de educação financeira mais do que ter coach de carreira ou instrutor de mindfulness. Trato sobre cabelo branco, pau mole, seguro funeral. Outro dia uma amiga me falou: você é a anti-influencer. Não magoei. Achei que ela foi no alvo. Se alguém quiser me seguir, que seja pelo meu jeitão real de pisar na terra. E não pense que gosto só de terra batida. Se puder ser de Louboutin, não vou reclamar.