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Kika Gama Lobo

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Focada na maturidade como plataforma pessoal, a jornalista Kika Gama Lobo escreve sobre as sensações e barreiras que as mulheres 50+ vivenciam
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A primeira morte

Perder a grande amiga de juventude, antes dos 60 anos é punk.

Por Kika Gama Lobo
22 nov 2023, 15h00
Reflexão sobre a morte de uma amiga (Enric Cruz López/Pexels)
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A gente se prepara, sobretudo quando a pessoa já está doente, mas mesmo assim é um laço cortado. Essas teias de amizade que sustentam nossas melhores memórias são como um suporte ao longo da vida.

Aquela pessoa viu tudo seu. Estava lá quando você deu o primeiro beijo, o emprego conquistado, o rolo que deu errado, a primeira gravidez, a segunda, seu apogeu e sua derrota. Falou mil vezes com você pelo telefone, te abraçou, chorou contigo e sobretudo te amou. A maneira dela, mas te amou.

E você, nessa régua do tempo, observou também aquela trajetória. E dói porque muitas vezes a sua amiga tomou um outro caminho. O do isolamento, da autopunição, da falta de comunicação. Eu tentei.

Quem me conhece sabe que sou gregária, gosto de gente e, mesmo tendo o desdém momentâneo de quem eu gosto, eu volto. Volto a procurar, apago ressentimentos, anulo críticas, sou de perdões. E com ela sempre foi assim. Entreguei o meu bem maior para também lhe pertencer: a minha filha para ser sua afilhada.

Teríamos assim uma função conjunta de mãe e madrinha. Ela seria minha pra sempre nesse arranjo parental por afinidade. E funcionou! Ainda que com soluços. Fomos próximas a vida toda, mesmo ela tendo decidido se mudar para longe, amar mais os bichos do que aos humanos, engordar toneladas para preencher algum vazio existencial.

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Não foi bonito de assistir. Era bomba relógio na certa. Mas com aquele traquejo próprio das famílias nordestinas, aquela fleuma de quem cresceu no jet-setter carioca, aquela naturalidade de quem carrega um sobrenome importante, ela viveu simples.

Podia ter sido gigante não na silhueta, mas na vida. Porém, na falta dela, vejo o imenso vazio que deixará naqueles que a conheceram. Aquele sorriso, aquelas mãos que falavam; o jeitinho sestrosa, a sinceridade dilacerante, as festas inesquecíveis. Alexa, faz contato quando der.

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