A pantera de Minas
Passaram-se mais de 40 anos do assassinato de Ângela Diniz, mas a realidade do feminicídio e da rivalidade feminina continua a mesma
Esbarrei no Spotify com um podcast batizado Praia dos Ossos sobre o crime hediondo envolvendo Doca Street e Ângela Diniz. Eu tinha 12 anos quando ela foi assassinada com quatro tiros no rosto, à queima roupa. Foi em Búzios, no quase Réveillon de 1976. Era linda, loura, livre.
O meu texto é apenas para reforçar que a vítima foi morta duas vezes. Uma, pelo namorado paulista, matador confesso e outra, pela sociedade que a julgou de vadia, puta, bêbada e drogada. Fiquei encantada com o que ouvi. Não desgrudei um segundo da plataforma de áudio e eu parecia aquelas interioranas com seu radinho de pilha a tiracolo.
Passei o feriadão envolta em recriar, na minha cabeça, o cenário onde nasceu, viveu e morreu aquela mineira da porra. Posso dizer que tive até um crush nela. Achei tudo tão avant-garde mesmo tendo passado 44 anos do crime. O Brasil de outrora oscilava entre o tacanho modelo de costumes femininos e o liberto mundo de uma nova era.
O Rio de Janeiro, pelo relato de quem viveu o auge da liberdade dos anos 70, era um paraíso. Do sexo, das orgias, das drogas, do colunismo social… uma farra. Mas o que me chamou mais a atenção na transcrição da vida dela é a postura de muitas mulheres contra Ângela Diniz. Ela foi massacrada pelas rivais. Uma sensação que eu tenho até hoje. Mulheres se dizem unidas, feministas, progressivas, mas quando entra a tal da inveja no meio, voltamos à era dos atritos, da fofoca, da baixeza.
Amei num grau o podcast que torço para que vire uma série. Parece que a produtora Conspiração já comprou os direitos de transformá-lo em vídeo e sonho em ver a Cléo Pires, loura, no papel da Ângela. Vai ser um bafo.
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