Tragédia em Mariana completa cinco anos e vítimas ainda esperam por casas
Moradores do Bento Rodrigues, vila destruída pela lama, perderam um modo de vida tradicional
No dia 5 de novembro de 2015 a barragem de Fundão da mineradora Samarco, controlada pelas empresas Vale e BHP Billiton, se rompeu no município de Mariana, em Minas Gerais. 60 milhões de metros cúbicos de rejeito de extração de minério de ferro foram despejados no Rio Doce e contaminaram o corpo d’água até a sua foz, no município de Regência, no Espírito Santo. 19 pessoas morreram e mais de 300 famílias ficaram desabrigadas.
Meia década não foi suficiente para as empresas responsáveis, sob representação da Fundação Renova, concluírem as obras de reassentamento. Moradores do subdistrito de Bento Rodrigues, o primeiro ponto de impacto e a vila que foi completamente soterrada pela lama, vivem há cinco anos negociando e esperando pela entrega das suas casas.
Para os atingidos do Bento, a maior perda foi um modo de vida tradicional. Eles são da roça, tinham animais de criação e plantações nos próprios terrenos. Conviviam com os mesmos vizinhos há anos e não tinham vontade de viver na cidade. Pior: ainda hoje, cinco anos depois, eles sofrem preconceito pela absurda percepção de que as vítimas seriam as culpadas pelo caos econômico que englobou toda a região após a paralisação das atividades da Samarco.
Pelo viés do processo criminal, ninguém foi punido pela tragédia. Em 2016, o Ministério Público Federal denunciou 22 pessoas e quatro empresas pelo desastre em Mariana – 21 delas foram acusadas de homicídio qualificado com dolo eventual. Apenas cinco continuam respondendo na Justiça federal e o crime de homicídio foi retirado do processo em 2019.
Em maio de 2017, o engenheiro de produção e executivo Fabio Schvartsman assumiu a presidência da Vale com o lema “Mariana nunca mais”. O slogan durou pouco. Em 25 de janeiro de 2019, o crime se repetiu em Brumadinho e deixou 270 mortos – 11 corpos ainda não foram encontrados. Com a demora no andamento para as ações de reparação, a perpetuação da violência que aconteceu em Mariana se repete todos os dias.