Desaprender o sofrimento para reaprender a leveza
"Dá vontade de fazer um trato: nunca mais vamos nos importar com o que pensam de nós, que tal?", propõe Helena Galante, redatora-chefe de CLAUDIA
Desaprender para reaprender. Quando olho para o movimento modernista, sinto que Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Pagu, entre outros artistas, tiveram, sim, a ousadia de contrariar expectativas alheias, mas não sem antes digerir o que havia de careta em si mesmas. Passados 100 anos da Semana de 22, o que significa ser uma mulher vanguardista hoje?
Enxerguei na postura livre da cantora Letrux, nossa convidada para um ensaio de moda deslumbrante, uma referência de caminho de saída. “De repente, você faz 40 e se pergunta: ‘É sério que eu não usei shorts com medo dos meninos me zuarem? É sério que eu fiquei com pudores moralistas de viver uma experiência?’”, disse ela em entrevista à editora Joana Oliveira.
Dá vontade de fazer um trato: nunca mais vamos nos importar com o que pensam de nós, que tal? Eu e você temos experiência de vida suficiente para reconhecer que não é tão simples assim. Mas quer saber? Isso não significa que seja impossível.
Aos quase 50 anos, a apresentadora Eliana topou uma virada na sua carreira ao estrear no streaming sem abandonar sua paixão, a televisão aberta. Durante as férias em família, com roupa de praia e zero maquiagem, ela me contou sobre seu desejo de viver com mais leveza. Pegar leve pode ser deixar os filhos saberem o quanto o seu trabalho é importante e também escolher parar quando necessário. Assumir a autorresponsabilidade e fazer as pazes com as decisões que tomamos talvez seja o movimento mais revolucionário.
Principalmente porque ele não precisa mais ser solitário. Pela primeira vez em 90 anos, por exemplo, cinco mulheres presidem seccionais da OAB – é um recorde, mas queremos mais! Nesta edição, falamos ainda sobre uma rede de networking feminino voltada para o impacto social, a AngelUs, sobre quem optou por pedir demissão (página 48) ou por encarar o esgotamento nos relacionamentos a dois e viver bem.
Voltando à Letrux, ela cita o líder indígena Ailton Krenak: “Ele diz que se for para sofrer, não quer aprender nada”. Eu também não quero. Que a gente possa desaprender o sofrimento para reaprender a leveza.