Heroínas de máscara
Na CLAUDIA de maio, as mulheres que enfrentam o coronavírus por nós e as angústias que levam para casa, muitas vezes afastadas da família e dos filhos.
As beira-leitos.
Assim são chamadas as enfermeiras mais próximas dos pacientes, que todos os dias, num grau de contato assustador com o novo coronavírus, arriscam a vida para salvar a dos que sofrem nos hospitais.
Na edição de maio de CLAUDIA, contamos as histórias de algumas delas e de várias outras profissionais de saúde, que em suas singularidades personificam tantas outras mulheres. Em comum, os sentimentos que carregam quando, exaustas, voltam pra casa.
Difícil não se emocionar com a psicóloga Cybelly Borges, de São Luís do Maranhão, que só se permite chorar no carro, ao fim de dolorosos plantões em que sua função é contar a famílias que seus entes queridos morreram. Ou não se solidarizar com o peso nas costas de Christiane Gonzalez, enfermeira no Rio de Janeiro, chefe da coordenação de controle de infecções, por se sentir responsável pela segurança de sua equipe no hospital, seus mil filhos, como ela diz. Improvável também não compartilhar da angústia que consome os dias da infectologista Mayla Borba, quando entuba um paciente no último respirador disponível no hospital em que trabalha em Manaus. São muitas as mulheres que neste momento atuam incansavelmente por todos. Como Camila Silva, que leva cesta básica no Complexo do Alemão, no RJ, a quem, com fome, só tinha água e farinha para dar ao neto. Ou Kika Pereira, que toda noite, depois de passar o dia recolhendo e distribuindo comida, em Belo Horizonte, antes de entrar em casa, toca a campainha para que a filha mais velha leve o caçulinha de 1 ano para longe dela, no quarto. Em São Paulo, Anarella Meirelles chora ao falar dos três filhos pequenos afastados. Sonha com que um dia eles a enxerguem como heroína. Assim será, Anarella. Tenho certeza de que terão muito orgulho da mãe, que afirma que o pronto-socorro é o seu lugar. A você e a todas as mulheres atrás das máscaras, nos hospitais, nos gabinetes de decisões, nas ruas, nas periferias, às que no Dia das Mães não poderão ganhar um beijo dos filhos ou estar com a própria mãe, nosso muito obrigada. Se pudéssemos, como gostaríamos de abraçar cada uma de vocês.
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