Solidões maternas: quando falar do que dói não é conveniente para o mundo
Percebo que uma parcela bem grande da sociedade julga e culpabiliza a própria mulher que ousou falar desse sentimento negativo
Existem tantos tipos de solidão, eu imagino, quanto tipos de pessoas. Há alguns anos, algumas mães corajosamente têm escrito sobre suas “solidões maternas”, e percebo que uma parcela bem grande da sociedade julga e culpabiliza a própria mulher que ousou falar desse sentimento negativo. Eu me vejo em muitos daqueles textos e tenho certeza que muitas das mulheres que estão ali, ativamente comentando e julgando, também se identificam.
Quando falamos do que dói, o mundo convenientemente decide que esse não é um assunto que a maternidade deve abordar, a menos que seja para “tratar”, “curar” ou terminar com um “mas tudo vale a pena para ser mãe”. Se você espera isso, por favor, pode parar de ler essa crônica agora: ela não terá um “final idílico”.
A “patologia” da solidão materna é, ao contrário, fruto desse não falar honesto e franco sobre o amaternar, seus dilemas e desafios. O silêncio do patriarcado alimenta as frustrações maternas para nos manter culpadas, dóceis e sempre responsáveis pelas dores que nos causam. A rebeldia de FALAR sobre o que dói é revolucionária porque liberta os sentimentos das feridas, mas sobretudo deixa exposto quem são os algozes em nossas estruturas sociais e culturais.
A solidão materna acontece com a criança no colo, uma sala cheia de pessoas e a ideia de que você deveria estar satisfeita e totalmente feliz, mas você não está e ninguém pergunta do seu cansaço, do seu dia, da sua vida e dos seus projetos porque, aparentemente, para todos ali, a razão da sua existência está agora em seus braços.
A solidão materna acontece no meio das inúmeras madrugadas em que a criança chora, a gente chora, o dia amanhece e nenhum café resolve a falta de braços que suportem o dia de trabalho, as cobranças e as falas inquisitórias sem nenhuma empatia que retalham o pouco de dignidade que resta em nossas almas.
A solidão materna acontece às três horas da tarde quando você tem uma série de compromissos, a criança adoece, a escola te liga e, mesmo que tenha alguém para auxiliar na ida para o pronto socorro, sua concentração fica como alguém que está escutando uma reunião embaixo d’água sem equipamentos. O relógio se demora, muitas vezes é impossível ir embora e seu coração pulsa em uma oração silenciosa.
A solidão materna é olhar para os sapatos comprados com amor e saber que os pés que a eles pertenciam nunca irão calçá-los, mesmo que a gente use em todas as crianças do mundo. Quando eu converso com as mulheres sobre esse assunto, TODAS sabem dizer quantos anos a(s) criança(s) em questão teria(m) hoje. A vida seguiu adiante e elas reconstruíram suas histórias, mas a perda permanece.
A solidão é esse lugar de tantas pequenas linhas de faltas de apoio, empatia, perdas, culpas, julgamentos e uma falta de espaço que não cabe em uma única crônica. A próxima vez que vocês ouvirem uma mulher falando sobre solidão, o que posso dizer é: ouçam! E se puderem, perguntem: eu posso fazer alguma coisa por você? A vida pode e é sempre melhor quando estamos juntas! É possível sermos melhores, sempre! Dias Mulheres virão! Vamos conversar?
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