O dia que minha filha perguntou: “Por que o mundo é desse jeito?”
A pergunta serviu como um convite para a colunista refletir sobre a educação da filha e valores importantes como a diversidade
“Pai, por que o mundo é desse jeito?” e assim, em um dia qualquer, essa foi a primeira pergunta feita pela minha filha de três anos às “seis e pouco” da manhã.
Eu estava deitada na cama, naquele estado em que nós, mães, ficamos entre dormindo e totalmente alertas, quando percebi que meu companheiro se manteve em silêncio – talvez pensando em uma resposta elaborada e filosófica.
Eu comecei a rir alto e chamei a pequena, que correu para deitar ao meu lado. Eu questionei o que ela queria saber sobre o mundo e ela disse: “Tudo. Por que tudo no mundo é assim?” Enquanto eu a abraçava, respondi: “Querida, eu não sei também. Quando você souber a resposta, me fale, por favor?”.
Apesar desta cena ser fofa e até divertida ao ser narrada, confesso que me senti muito vulnerável, mas, ao contrário de alguns anos atrás, eu também me senti corajosa.
Embora nós façamos as crianças acreditarem que os adultos sabem muito mais que elas, eu não preciso ter todas as respostas.
Neste dia em específico, eu tinha despertado de um pesadelo muito ruim: hienas gigantes tentavam invadir nossa casa pelas janelas e eu tentava impedir, desesperada, golpeando a líder desta terrível alcateia – um animal particularmente feio, cheio de dentes e garras – com uma barricada improvisada.
Considerando o contexto mundial e as notícias diárias, não preciso de uma formação em psicologia para afirmar que meu sonho ruim é reflexo do pavor diário da contaminação pelo vírus Covid-19, onde nossa trincheira tem sido o distanciamento, a máscara, o álcool e a higiene constante.
O segundo ano da pandemia é um ano de traumas, luto e muita tristeza. Um ano cuja carga emocional do distanciamento e as consequências nefastas das perdas são as feridas expostas de lutos coletivos.
Estamos em um ano de exaustão. E eu não pretendo aqui ser mais uma mãe que acredita em “fórmulas mágicas” ou “receitas de criação”. Eu pretendo e construo todos os dias um espaço em que as crianças se sintam confortáveis e seguras para questionar e escolher, na medida do possível, suas próprias respostas e soluções.
O grande dilema de nossos tempos é saber como educar. Por exemplo, em nossa casa é permitido ter todas as emoções – amor, tristeza, raiva, frustração, medo, dor – desde que isso não traga desrespeito às demais pessoas.
Se nós, adultos, acordamos algumas vezes de mau humor, porque exigimos que as crianças estejam sempre alegres?
Somos todos nós, imperfeitos e plenos em nossas peculiaridades, e essa pluralidade existencial só consegue surgir quando há tempo, espaço e respeito. Ela surge em nossos humores, gostos e interesses.
Conviver com a diversidade é complicado, mas constantemente edificante, pois ela proporciona a possibilidade de ver o mundo sob muitas óticas e sentimentos.
O que a maioria das mães costuma querer é proteger suas crias de toda e qualquer ameaça. No entanto, constantemente confundimos proteção com imposição de regras que nem sempre servem para os demais seres humanos.
É uma linha tênue e cheia de percalços, de erros e acertos, assim como tudo o mais na função da maternagem. O amaternar é um educar respeitoso e amoroso, que coloca na balança tanto a mãe quanto a criança e envolve toda a comunidade nesse processo educativo. Aliás, aproveitando: eu não sei porque tudo no mundo é assim. Se você que está me lendo souber, me fale, por favor?
Dias Mulheres virão!
Vamos conversar?
Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para ana.cronicasdemae@gmail.com ou mensagem pelo Instagram (@anacarolinacoelho79). Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Leia as anteriores em https://claudia.abril.com.br/blog/cronicas-de-mae/ e acompanhe as próximas!