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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Guerreira Cansada

Como olhar para a maternidade sem responsabilizar apenas as mulheres? Uma resposta passa por políticas públicas, empatia e uma grande conversa social

Por Ana Carolina Coelho
18 mar 2023, 08h45

Quando ainda meninas, ouvimos um ditado antigo que diz: “Você entenderá a sua mãe quando for uma também”. Talvez seja porque ficaremos adultas e, em teoria, mais amadurecidas. O que ninguém quer dizer francamente é que entendemos melhor nossas mães porque experimentamos no corpo, na alma e na mente um grande cansaço. A sobrecarga, as cobranças, a falta de empatia, a insegurança financeira, a incerteza da responsabilidade de criar novas vidas sem, muitas vezes, um suporte familiar e com o abandono de políticas públicas para alicerçar nossas maternidades. E isso para começar a listar esses silêncios ensurdecedores no processo de nos tornarmos mães.

Ainda é sobre nós, as mães, que recaem as funções de cuidados cotidianos e domésticos: as tarefas de manter a segurança, criar e educar as crianças. São sobre os nossos ombros que a sociedade ocidental sustentou a reprodução e a manutenção da vida humana, criando uma certa ideia de “amor maternal” abnegado e que nada necessita em troca dessa felicidade. E antes que você, leitora, me julgue equivocadamente, quero afirmar: sou mãe e AMO as minhas filhas, mas nem por isso vou me calar sobre o que já passou da hora de ser uma grande conversa social.

A maneira como somos mães hoje foi construída historicamente e legitimada pelas práticas políticas que viraram “verdades absolutas” em nossa cultura. A autora Silvia Federici afirma que foi exatamente esse subterfúgio de transformar “trabalho” em “amor” que permitiu a exploração de mulheres por séculos em tácito sofrimento. Por exemplo, quando uma mulher fala daquilo que chamamos de “maternidade real”, sempre aparecem julgamentos usando termos como ruim e má. E por quê? Porque ela ousou falar de um tabu sobre as maternidades que precisa ser ignorado, para que a sociedade continue funcionando na tarefa de se reproduzir e manter a vida humana na Terra.

Agora, começam as primeiras perguntas das Crônicas de Mãe feitas para provocar: somos completamente capazes de cumprir essa tarefa, “guerreiras”. Isso é fato. Mas a que preço? Somos remuneradas por isso? Há políticas públicas em nosso país que valorizem nosso trabalho? As respostas são: ao custo de nossa saúde e, muitas vezes, sonhos e aspirações de vida; não temos reconhecimento financeiro, incentivo estatal ou de empresas privadas e, quando engravidamos/adotamos, ainda somos instadas, demitidas ou forçadas a largar o trabalho para nos dedicarmos às crianças.

Amor de mãe é maravilhoso, mesmo. Sorriso de criança é tudo de gostoso, mesmo. Porém, a verdade é que somos guerreiras abandonadas, lutando sozinhas em uma batalha que deveria ser de todas as pessoas. As maternidades precisam começar a ser vistas como plurais e de responsabilidade coletiva.

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Quando minha filha mais velha era pequena, ela me questionava sobre a existência de “dois dias das mães”: um em março e outro em maio. Eu explicava a história do Dia Internacional das Mulheres, comemorado no oito de março, reforçando que era um dia de luta pelos direitos de condições justas de trabalho, e em maio era o Dia das Mães. Mas, como diferenciar uma luta de uma festa, se não conversarmos abertamente sobre o significado de cada uma dessas coisas? Ela aceitava e perguntava a mesma coisa no ano seguinte, até porque a escola dava a mesma ênfase para as duas datas, inclusive com os presentes: lixa de unha, esmalte, bombom, flor de artesanato…

Neste oito de março, eu prefiro empatia, mudanças políticas e sociais para um mundo mais justo e equitativo para as mães.

Vamos conversar?

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