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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Presentes inesperados da vida: Safira, uma crônica sobre amar e ser amada

"Apesar do sofrimento do fim de uma relação, superei graças ao olhar doce de uma cachorrinha que me amou desde o primeiro momento", diz Ana Carolina Coelho

Por Ana Carolina Coelho
16 Maio 2022, 18h15

Essa é uma crônica muito antiga que precisava ser escrita, porque conta a origem da minha “primogênita não-humana canina” nessa família, que se enche de seres a cada dia que passa, através do amor e da certeza de que a vida é melhor e plena nessa bagunça junta. Preciso, portanto, estabelecer uma constatação: naquela época eu vivia com uma pessoa e a MELHOR coisa do meu primeiro “casamento” foi ter encontrado a minha preciosa cachorra!!!

Safira entrou na minha vida em meados de outubro de 2004, era um final de semana (acho que sábado), e eu, exausta, tinha decidido almoçar fora. Eu e meu companheiro havíamos brigado mais uma vez. Quero dizer, namorado. Não, companheiro mesmo. Pois era assim que nos sentíamos em relação ao outro. R* e eu fomos fruto de uma fulminante paixão adolescente tardia. Nos conhecemos em janeiro de 2003 e em menos de quatro meses morávamos juntos (não pergunte: looonga história…!).

Veja também: A luta ancestral das mães de santo: esperança e resistência

Obviamente, foi um IMENSO erro. Um ano e meio depois estávamos no shopping perto de nossa casa apenas para almoçar. Eu me sentia cansada de tanto trabalho e brigas domésticas. Sem querer me deter sobre isso – não agora que estou contando uma história tão linda – nós resolvemos passear. R* queria fumar mais um cigarro e fomos em direção ao estacionamento. Há dias estavam anunciando a feira de filhotes e queria muito ir olhar dessa vez. Sempre fui apaixonada por bichos.

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Embora não houvesse mais as restrições maternas de proibição de animais dentro do apartamento (“se ele entrar pela porta vai sair pela janela”, mamãe sempre dizia em falso tom de ameaça), eu havia internalizado o discurso racional dos motivos impróprios de se ter um animal em apartamento: “Exige muitos cuidados”; “Exige muita atenção”; “Você não tem espaço para ter um bicho”; “O apartamento é pequeno”; “É até maldade com o pobre do bichinho”; “Solta pelo pela casa toda”; “Vai estragar os móveis novinhos”; “Vai roer seus livros”; “Vai sujar a casa inteira de fezes e urina”; “Sua casa vai ficar fedendo”; além do avassalador campeão de audiência: “Gasta-se muito dinheiro com cuidados, vacinas e veterinário”.

Então, entrei na feira apenas pelo desejo de passar algum tempo na companhia de criaturas adoráveis, peludas e relaxar um pouco. Em cada estande pegava-os no colo, brincava, me ajoelhava para vê-los e seguia adiante. Fiz isso por mais de uma hora e foi delicioso.

Quase na metade, paramos para ver filhotes de beagles (aquela raça de cachorro orelhuda e esperta do Snoopy). Acho que tinham outros também. Sei que agi da mesma forma: pedi para segurar um filhote e foi aí que começou um incrível caso de amor. É uma dessas sensações estranhas que temos dificuldade para descrever: aquele filhote se encaixou P E R F E I T A M E N T E no meu abraço, enlaçou suas patinhas dianteiras em mim e me deu um longo olhar doce e calmo. Parecia que dizia: “ATÉ QUE ENFIM!!! POR QUE DEMOROU TANTO PARA CHEGAR?”

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Cachorro da raça Beagle
Cachorro da raça Beagle (| Foto: Artem Beliaikin/Pexels)

Na hora de colocá-la novamente na gaiola eu simplesmente não conseguia “desabraçá-la”, como se isso fosse nos causar uma grande ferida. Comecei a especular a possibilidade de levá-la. Para falar a verdade os eventos que se sucederam foram o oposto daquele olhar: uma mistura de euforia e urgência, e tudo aconteceu muito rápido. R* lembrou-me que trabalhávamos o dia inteiro, e não teríamos tempo para cuidar, mas talvez diante do meu olhar ou por não querer mais discussão pela frente, aceitou.

Eu conversei com o rapaz do estande – que se tornou um amigo de longa data desde então – e expliquei que era contra a compra de animais. Chegamos a um meio termo, pois ele havia investido no espaço e nos cuidados e gostou de mim, da sinceridade do meu jeito. E então aconteceu algo mágico: eu precisava procurar um caixa eletrônico para pegar aquele valor mínimo negociado e eu pedi que ele separasse aquela filhote para mim. Durou menos de quinze minutos a situação e, quando voltamos eu pedi imediatamente que ele pegasse aquela querida beagle orelhuda fofa.

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Quando eu encostei no cão que ele colocou em meus braços, eu gritei: “essa não é a minha cachorra!” Ambos os homens, meu ex e meu futuro amigo insistiam que era e eu olhei para baixo e a vi olhando para mim. Eu disse: “é aquela ali!” e de fato era, pois, aquela era a única fêmea do estande. Eles nunca entenderam como eu poderia saber, pois não tinha como ver a diferença de onde estávamos, mas eu e Safira sempre nos reconhecemos durante toda a vida dela. Ela era a joia preciosa que iluminava meu caminho sempre que meu mundo ia se tornando desbotado e eu ria demais da sua maneira debochada de existir: uma Snoopy de orelhas gostosas que sempre me amou.

Eu não tinha dinheiro, não tinha tempo, trabalhava muito mais do que podia e devia, estava em um relacionamento instável e infeliz, mas saí do shopping com o coração transbordando de felicidade: havia encontrado um tesouro perdido há muito tempo: a alegria que Safira me trouxe em todos os dias que vivemos juntas.

A relação desmoronou poucos meses depois, e me lembro de ter saído de casa aos prantos quando chegou o dia em que meu ex-algumacoisa tiraria coisas dele do apartamento. Estava tão desnorteada que saí apenas com a roupa do corpo, meus documentos e minha “filhote” debaixo do braço. Nada mais importava: ela era insubstituível. Apesar de todo o sofrimento do fim de uma relação amorosa, consegui superar tudo, e em muito devo graças ao olhar doce de uma linda cachorrinha que me amou desde o primeiro momento que nos encontramos: Safira, minha filha canina, meu precioso e inesperado presente da vida, um amor que nasceu ao primeiro abraço e durou toda a nossa caminhada juntas. É possível sermos melhores, sempre!

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Dias Mulheres virão!

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Instagram: @anacarolinacoelho79.

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