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Corpo, fala

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Carol Teixeira (@carolteixeira_) é filósofa, sacerdotisa tântrica e escritora
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Um novo olhar

Desse de se ver no espelho e não achar defeito. Difícil, né?

Por Carol Teixeira
8 abr 2022, 08h50
Alle Manzano
Carol Teixeira (@carolteixeira_) é filósofa, sacerdotisa tântrica e escritora (Alle Manzano/Divulgação)
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Basta começar a falar de amor e sexo para esbarrarmos na ferida do Ocidente: o corpo. E quando falo de corpo, lembro de uma passagem do livro Mulheres que Correm com os Lobos, da Clarissa Pinkola Estés. Em meio à natureza, em um retiro apenas para mulheres, ela observou uma delas nua. Instintivamente, a julgou: seus seios murchos de amamentar, a barriga com estrias da gestação… A escritora, na época muito jovem, conta que lamentou, como se fosse algo ruim. Pouco depois, tal mulher começou a dançar ao som dos tambores. Cabelos voando, poesia explodindo naquele corpo livre. Hipnotizada, a autora teve uma epifania: “Presenciei o que haviam me ensinado a ignorar: o poder do corpo de uma mulher quando animado de dentro para fora”. A reflexão que ficou ressoando foi: o poder cultural do corpo é a sua beleza, mas o poder no corpo é raro já que a maioria das mulheres o expulsou com torturas ou vergonha da própria carne.

Respira.

Eu sei que te tocou também. Sei porque você, provavelmente, se olha no espelho e vê no seu corpo tudo que te ensinaram a considerar defeito. Sei que talvez você não se lembre o que é um corpo animado de dentro para fora. Ou que, talvez, nunca tenha descoberto, afinal, a voz do patriarcado é muito alta. E sei de tudo isso não só porque trabalho com o feminino, mas porque eu também sou mulher. Eu te vejo.

Mas nem sempre foi assim. Eu era muito racional, achava que, num mundo estruturado em linguagem, quem a dominasse melhor teria o conhecimento em mãos. Não à toa, me formei em Filosofia. Depois, e por 8 anos, fui colunista de sexo da extinta revista VIP, e assuntos relacionados ao corpo e à sexualidade pareciam estar dominados pela mulher empoderada que eu achava que era. Até duas coisas me atravessarem: o Tantra e a morte da minha mãe. Passei do pensar para o sentir. Sinto, logo existo.

Perder o medo de sentir é algo que te vira do avesso

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O Tantra, essa filosofia milenar, considera o corpo sagrado e também nosso principal instrumento para a transcendência. Te ensina a despertar sua energia sexual-vital-criativa e mostra que, alquimizando essa potência, você se aproxima da sua essência e se conecta com o sagrado, promovendo curas e mudanças em todas as áreas da vida. A partir dali, encontrei meu real poder e tudo na minha vida mudou: minha escrita, visão sobre empoderamento, sexualidade, relacionamento, amor. Perder o medo de sentir é algo que te vira do avesso.

Após tantos anos empoderando mulheres através dessa reconexão com o corpo, posso afirmar: uma das armas mais potentes contra a sociedade patriarcal é nossa autoestima. Aquela que não depende do olhar alheio, nem da distorcida validação externa. Fazer com que esse olhar cruel sobre o feminino (que faz com que tantas vezes você se odeie) bata e volte é uma revolução. Uma revolução que começa com você se blindando contra isso. Você olhando seu corpo nu como aliado, um potente contador de histórias: do tempo que passou, da ancestralidade, dos obstáculos vencidos.

Nunca é tarde para entender que você é perfeita como você é. Se amar é se curar. E, como já disse Bert Hellinger, quando uma mulher decide se curar, ela se torna uma obra de amor e compaixão: não torna saudável somente a si, mas toda a sua linhagem feminina.

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