Com 102, Dona Helena estreia série “Centenários do Brasil” da coluna
Mineira de Belo Horizonte, ela dedica seus dicas à caridade
“Agora, sim, estou ficando velha”. Foi com humor e um sorriso largo que Dona Helena Orsini, de 102 anos, nos recebeu em sua casa na última semana, na região centro-sul de Belo Horizonte.
A visita foi combinada para o fim da tarde, pois ela tem duas horas de descanso depois do almoço, ritual que cumpre religiosamente. O intervalo divide longos períodos de trabalhos manuais, pois desde os 90 anos dedica seu tempo a ajudar pacientes de hospitais e pessoas carentes. Mais recentemente, Dona Helena partiu para o tricô: “Ao pensar nas crianças e adultos que passam por quimioterapia e podem sentir frio nas cabeças, ela se dedicou a fazer os gorros, que são encaminhados ao Hospital da Baleia”, conta Maria Beatriz Orsini, sua filha.
Um pouco de história
Filha mais velha de Olyntho Orsini de Castro, um médico dermatologista extremamente caridoso, de quem tem um baita orgulho (“Papai fez muita caridade, foi um homem fantástico e dedicado”), nossa supercentenária teve uma infância e adolescência confortáveis na capital mineira, de onde saiu depois de se casar com Carlos, um engenheiro nascido em Manaus que trabalhava na Vale do Rio Doce e foi encarregado de erguer vários prédios importantes em Itabira, Minas Gerais.
“Tive um marido que não existe mais”, derrete-se ao falar do parceiro de 67 anos de casamento, com quem teve 7 filhos que lhe deram 18 netos e 22 bisnetos.
Quando o assunto é o namoro à moda antiga, ela sorri contando que de vez em quando escapulia um beijinho, mas que nunca a deixavam sozinha com o noivo, com quem formava uma ótima dupla. “Eu tocava piano e ele cantava”. No repertório do casal estavam músicas como Cicatrizes, de Jorge Araújo, e Mulher, de Orlando Silva, essa última considerada imoral para a época.
Questionada sobre o porquê de sua longa vida, ela desconversa, pois não tem essa fórmula para passar, mas chama a atenção para a presteza de Rose, cuidadora que vive com ela já há algum tempo. Juntas elas rezam o terço todos os dias às 6 da tarde, conexão essencial para Dona Helena, afinal, segundo ela “o mundo está precisando de muita reza.”
Conselhos para a vida? Aos netos e descendentes ela pede união: “Sejam amigos da família. Quando eu morrer, vocês têm que continuar unidos.”