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Cynthia de Almeida

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Coluna da jornalista e estudiosa do comportamento feminino Cynthia de Almeida

Siga a força, não a paixão

“Ao decidir trafegar apenas por terrenos que despertem emoções prazerosas, fechamos os olhos ao desconhecido”

Por Cynthia de Almeida Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
25 set 2018, 15h19
 (jacoblund/Thinkstock)
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Eu sempre impliquei um pouco com a expressão “siga sua paixão” para inspirar a escolha de uma carreira e garantir o sucesso de alguém no trabalho. Não duvido de que haja muita gente “apaixonada pelo que faz”. O que nunca entendi bem é como essa “paixão”, termo que vem da palavra latina passus, algo como sofrer, aguentar, usado para designar emoção ou desejo intenso por alguém ou alguma coisa, pode ser a fórmula mágica para uma pessoa se dar bem pessoal e financeiramente.

A ideia de ir atrás de algo tão fantástico e visceral tem mais atrapalhado do que ajudado uma geração em busca de uma relação idealizada com o trabalho. Já é complicado o bastante conseguir identificar seus talentos, estudar e investir na formação adequada para esta ou aquela atividade e depois batalhar para inseri-la em regras de mercado cada vez mais amplas e voláteis. Precisamos mesmo das palpitações e do frio na barriga ao abraçar uma profissão? Esse arrebatamento vai nos ajudar a ser competentes, reconhecidas e bem pagas?

Pois essa minha visão cética (julguem-me, millennials) acaba de ser referendada por um estudo realizado pela universidade americana de Stanford, na Califórnia: seguir “sua paixão” pode diminuir as chances de sucesso em uma carreira. A explicação, de acordo com o experimento neurocomportamental, é que a dita “paixão pelo que faz” leva a um excesso de confiança e estreita seu foco de interesse e atuação. Os pesquisadores concluíram que as pessoas que acham que seguir sua paixão é uma via natural de sucesso tendem a acreditar que vai ser fácil e a desistir diante dos desafios e obstáculos.

Foram recrutados para a pesquisa participantes de duas categorias: aqueles que eram aficionados por ciência, tecnologia, engenharia e matemática e os mais atraídos por artes e humanidades. Durante os experimentos, estudou-se a reação deles diante de vídeos com conteúdo de seu interesse e outros com material fora desse espectro. Analisou-se a facilidade de cada um dos espectadores para completar e compreender o que lhes foi apresentado. Os mais “apaixonados” por um tema específico mostraram-se menos inclinados a se interessar por novas áreas, menos abertos a integrar diferentes campos de conhecimento, mais dispostos a desistir no meio. “Se você for muito comprometido com uma área, isso o impedirá de desenvolver competências necessárias para ampliar seu potencial e sua visão”, analisaram os psicólogos de Stanford.

Os cientistas avaliaram que a “paixão” induzia o participante a menosprezar o potencial de conexão entre áreas diversas, impedindo-o de estabelecer relações mais ricas entre campos diferentes, como arte e tecnologia. Segundo eles, ao decidir trafegar apenas por terrenos que despertem emoções prazerosas, fechamos os olhos ao desconhecido e àquilo que pode ser mais difícil de fazer e compreender, mas cujo resultado é positivo e desejável.

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A conclusão do experimento é de que as pessoas deveriam seguir sua força em vez de sua paixão porque nem sempre somos bons naquilo que nos interessa. E porque, segundo esse estudo, desenvolver nossas competências pode se tornar uma atividade apaixonante. Eu acrescentaria um pouco do velho bom senso empreendedor a essa equação do trabalho: o mundo precisa daquilo que eu gosto de fazer? O mundo paga por isso? Como em qualquer relacionamento saudável, o sucesso é mais movido por inteligência, resiliência e harmonia do que pelo fogo efêmero da paixão.

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