Mulheres que impulsionam mulheres: empreendedorismo e sororidade
Luciana Kamimura é coordenadora de projetos da Fundação Toyota do Brasil
Ninguém solta a mão de ninguém. A frase, que viralizou nas redes sociais em 2018 após ser compartilhada por famosos, carrega um misto de sentimentos como união, sororidade e coletividade, tão importantes para o crescimento pessoal e da sociedade como um todo.
Quando se trata de empreendedorismo feminino, ela ganha ainda mais relevância. Mulheres que são donas de seus próprios negócios, além de servirem como inspiração para tantas outras, atuam, também, como impulsionadoras de novas iniciativas sociais.
No terceiro trimestre de 2022, o número de mulheres empreendendo alcançou um recorde histórico: mais de 10,3 milhões, o equivalente a 34,4% do total de empreendedores no país. Outro dado importante trazido pela pesquisa do Sebrae, com informações do IBGE, é que a maioria delas (51%) são chefes de família de seus domicílios.
Se, por um lado, ser dona do próprio negócio pode representar uma complementação da renda e a tão sonhada independência financeira, por outro, algumas mulheres podem enfrentar dificuldades em conciliar as responsabilidades dentro e fora de casa. Nesse sentido, encontrar espaços que facilitem essa dinâmica é um estímulo a mais para as que estão pretendendo empreender.
Especialistas afirmam que as mulheres têm um papel central no fomento à economia e ao combate às desigualdades uma vez que, ao chegar “no topo”, elas costumam optar pela contratação de outras mulheres, impulsionando, assim, a equidade de gênero, além de investirem os recursos adquiridos em melhorias na educação de filhos (quando possuem), no bem-estar familiar e na melhora da comunidade em que vivem.
Entre 2021 e 2022, ainda de acordo com a pesquisa do Sebrae, a quantidade de mulheres que empregam outras em seus negócios subiu 30%, atingindo cerca de 300 mil pessoas.
No Projeto ReTornar, apoiado pela Fundação Toyota do Brasil, temos exemplos concretos de que a corrente do bem feminina tem gerado bons frutos. É o caso de Judite Fernanda e Mariangela Squierdo, responsáveis, respectivamente, pela gestão da Uniarte e da Associação Social Comunidade de Amor (ASCA), instituições que fazem parte do Projeto.
Desde 2011, os dois coletivos femininos promovem o empoderamento e a sustentabilidade por meio da confecção de produtos que utilizam resíduos automotivos como matéria-prima.
Judite e Mariangela viram na costura uma possibilidade de gerar renda não só para elas, mas também para as cerca de 50 mulheres que, atualmente, fazem parte dos coletivos. Como muitas são provedoras de suas famílias e precisam equilibrar os cuidados do lar com o ofício, parte das costureiras trabalha de casa, sem impactar nas tarefas que executam nas instituições.
A partir das mãos unidas dessas mulheres, em prol uma das outras, mais de 1.600 pessoas já foram impactadas positivamente. É o caso de Liliane Siqueira, que chegou à Uniarte a partir da indicação de uma costureira que atua na instituição.
Depois de tentar obter renda por meio de outras atividades, foi no coletivo que ela conseguiu a flexibilidade necessária para equilibrar o trabalho e o horário escolar de suas duas filhas.
Apesar dos avanços relevantes que estamos vendo nos últimos tempos e do esforço que as mulheres estão empregando em prol de mais igualdade no empreendedorismo, ainda há uma longa jornada pela frente.
O estudo We Cities 2023, realizado pela Dell Technologies em parceria com a S&P Global e que revela as cidades com maior capacidade de atrair e apoiar mulheres empreendedoras que desejam iniciar e expandir seus negócios, aponta que a dificuldade de acesso a crédito e a investimentos ainda é um entrave para o empreendedorismo feminino.
Isso se dá, dentre outros fatores, pela falta de confiança na capacidade técnica e na relevância de suas ideias. Dessa forma, fica claro que, para vivermos uma mudança de paradigma, é preciso que todos – homens e mulheres – estejam juntos nessa jornada, ninguém soltando a mão de ninguém.