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A parte que me cabe

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Idealizadora do @namastreta, a jornalista Caroline Apple trilha o caminho da autorresponsabilidade nos relacionamentos

Valorizar a individualidade numa relação não é sinal de falta de amor

A colunista Carolina Apple reflete sobre a manutenção da individualidade em relacionamentos amorosos

Por Caroline Apple
7 nov 2022, 18h41
individualidade nas relações
A individualidade é um cuidado que reverbera no bem-estar do casal quando os envolvidos têm compreensão da importância desse espaço.  (Andres Ayrton/Pexels)
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O amor romântico, realmente, é um problema. Essa construção com base numa passionalidade, que exclui a individualidade e convida os pares a se fundirem como se fossem um é bem problemática, porque somos seres individuais em um momento de divisão da jornada. Então, esse fogo da vontade de estar pertinho que poderia nutrir a relação e ajudar a construir uma base mais sólida para uma convivência, queima tudo e não sobre nada em meio as surpresas pouco agradáveis que podem surgir diante de uma junção quase que compulsória.

Porém, a gente foi ensinada a determinar o que é o comportamento de quem ama e o do quem não ama com base nesse romantismo, e isso pode nos confundir diante da realidade. Ficar grudado na pessoa não é sinônimo de amor e ouso dizer que pode ser, na verdade, falta de amor-próprio, que nos faz projetar toda a nossa felicidade no outro, que nos joga numa trama de dependência e apego de difícil dissolução, mesmo que todo o entorno do relacionamento esteja cheio de bandeiras vermelhas sinalizando que algo não vai bem ou ainda não está maduro o suficiente para se concretizar.

A manutenção da individualidade é inevitável para ter uma relação saudável. Estar num relacionamento não pode ser uma chance para nos perdermos de nós mesmas. E é muito fácil cair nessa cilada.

Recentemente eu entrei neste lugar. Não percebemos, mas os atritos aumentaram. Mesmo com experiência em relacionamentos longos e uma vontade genuína de abandonar os padrões, caímos na cilada de “sairmos da nossa base” e nos projetamos para o campo das expectativas diante da convivência. As cobranças foram inevitáveis. A paciência reduziu. A lupa distorceu e o que era pequeno ficou grande e o que era grande ficou gigante. Isso porque estávamos olhando para fora, num ‘lugar’ onde não temos domínio algum, nos restando apenas a frustração, o sentimento de impotência e a sensação de estranhamento.

Mas, a real, é que tem gente que pode achar que esse resgate da individualidade é lenga-lenga, pretexto para se afastar e que não é sinônimo de amor. Entretanto, é um cuidado que reverbera no bem-estar do casal quando os envolvidos têm compreensão da importância desse espaço. Se um não compreender, pode ter certeza de que o outro será taxado de egoísta por causa das expectativas do que se acredita ser um relacionamento, mais um oferecimento do destrutivo amor romântico.

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Porém, eu coloquei minha individualidade no pacote de valores negociáveis na minha vida, seja lá qual for o modelo de relacionamento. Sacralizei o espaço interno pessoal, que só consegue ser nutrido com a sacralização do espaço externo a partir de momentos de relaxamento sozinha, da falta de obrigação de fazer algo só porque tem um companheiro, das horas de descanso sem preocupações e da compreensão do companheiro do quanto aquilo é importante para os dois. Sem isso, o relacionamento pode minguar por saudade de nós mesmas.

 

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