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A parte que me cabe

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Idealizadora do @namastreta, a jornalista Caroline Apple trilha o caminho da autorresponsabilidade nos relacionamentos

Limites nos afetos

Por que, quando estamos amando alguém, não conseguimos demonstrar carinho por outras pessoas?

Por Caroline Apple
21 ago 2023, 10h00
Os perigos de se fechar para o amor em prol de uma relação.
Caroline Apple reflete sobre os perigos de renunciar o amor em nossas vidas com o intuito de manter uma relação afetiva. (Linghe Zhao (Getty)/Reprodução)
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Quantos não são os que começam um relacionamento e, automaticamente, abrem mão de outros tipos de manifestação de afeto? Sabemos que a vida é feita de escolhas, mas como fazê-las quando o preço para estar com alguém é renunciar a outras formas de amor? É quando nos afastamos de pessoas queridas, é quando aquele abraço apertado e afetuoso naquele amigo querido perde a força, é quando aquele encontro deixa de acontecer…

Não se trata do famigerado tema da não-monogamia. É sobre a liberdade de amar, que deveria ser a base de qualquer formato de relação. O que acontece, porém, é ter ela suplantada por questões que perpassam as construções de senso comum da monogamia. E também ciúmes, baixa autoestima, inseguranças, machismo. Coisas que nos fazem impor condições no relacionamento para que não tenhamos que lidar com tamanho desconforto.

Eu não acho muito inteligente também botar na cabeça uma nova forma de se relacionar que fique te colocando à prova o tempo todo e despertando monstros internos. A pergunta que tenho feito é: estamos realmente trabalhando as nossas emoções para chegar o momento de nos relacionarmos sem precisar vetar ou abrandar outras manifestações de amor?

Recentemente, eu terminei um namoro. Com o fim da relação, tive a oportunidade de me encontrar com uma pessoa pela qual fui muito apaixonada e amo muito (inclusive, já foi tema desta coluna), mas que, por não conseguirmos alinhar expectativa e realidade, deixamos de manifestar a parte maravilhosa do nosso encontro: o amor.

Não se trata do famigerado tema da não-monogamia. É sobre a liberdade de amar, que deveria ser a base de qualquer formato de relação

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No modelo de relacionamento que eu estava, seria impossível essa harmonização, talvez, não só pelo meu então namorado, mas por mim também. Será que suportaria a ideia dele ter um encontro semelhante? É para esse aspecto pessoal que eu estou tendo a chance de olhar agora.

Eu aceito as renúncias que acompanham as escolhas, mas o amor e suas inúmeras formas de expressão não podem ser negociáveis. Eu não posso mais aceitar a ideia de entrar num relacionamento e deixar de amar livremente outras pessoas da forma que me convir por medo de magoar alguém.

Sinto que, a partir de agora, posso oferecer um lugar cheio de afeto para a pessoa lidar com essas sombras, assim como espero também ter espaço para isso acontecer comigo.

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Não é para transformar o relacionamento numa prova de fogo, mas num ambiente de acolhimento das inseguranças, com paciência e amorosidade por quem está ali na nossa frente, que não passa também de um ser humano atravessando suas batalhas internas.

Espero ter a chance de praticar todas as novas compreensões e que eu nunca mais limite minhas formas de amar por nada e nem ninguém. O amor não existe se, para amar, você precisa renunciá-lo em algum outro lugar. Amor é amor, o resto é a gente que anda complicando.

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